segunda-feira, 11 de junho de 2012

Quanto os argumentos e os factos se contradizem. Presidente da Vale diz “está tudo muito bem” em Cateme


Maputo (Canalmoz) – O Centro de Reassentamento de Cateme, no distrito de Moatize, é talvez dos locais mais falado nos últimos tempos, mais do que a própria exploração de carvão em Moatize. Casas mal construídas, fome, promessas não cumpridas pela Vale e ainda a Força de Intervenção Rápida (FIR) a espancar as populações locais que reclamam contra estas más condições que lhes foram impostas como alternativa pela mineradora brasileira é o negativo do que se sabe daquele centro. Mas numa clara campanha para reverter esta imagem, o director Presidente da Vale do Rio Doce veio a Moçambique recentemente e visitou Cateme. No fim da visita, Murilo Ferreira, que substituiu no cargo Mário Agnelli disse ter apurado que “as coisas estão muito bem” em Cateme. São as duas faces de uma mesma moeda, que mostram que entre uns e outros a visão contradiz-se.

Fora do País foi publicado há dois meses um relatório dos “atingidos pela Vale” onde se ilustrava as casas de Cateme como um dos maus exemplos da Vale por onde passa.
Mas parece que o presidente da Vale não visitou a mesma Cateme onde as crianças das famílias reassentadas alimentam-se de frutos silvestres e seus derivados, devido à fome. Numa entrevista que o presidente da Vale concedeu em Moatize após a visita a Cateme e que reproduzimos a seguir, ficam os armentos da companhia. O Canalmoz não foi convidado a estar presente, mas a assessoria de comunicação e Imagem da Vale Moçambique fez questão de nos enviar as perguntas e respostas dessa conferência de imprensa do mais alto responsável da Vale do Rio Doce, aqui entre nós representada pela Vale Moçambique.

A versão da Vale sobre a exploração em Moçambique
É a primeira vez que visita Moçambique?
Murilo Ferreira - Eu já tinha estado aqui no final do ano passado, e a gente teve oportunidade de visitar a Mina e todo este projecto, e hoje tive a oportunidade de ver o Reassentamento de Cateme. Nós vimos as condições como as pessoas estão morando, nós vimos as condições da escola, e acima de tudo vi o carinho com que meus colegas da Vale estão a tratar tudo isso, de uma forma respeitosa, procurando ouvir as pessoas. Eu gostei muito, fiquei muito impressionado, e acho que isso é uma forma que combina muito com os valores da Vale. Entre os valores da Vale está a paixão por pessoas, nós estamos falando das pessoas que moravam num lugar que acabou sendo ocupado por este projecto, e estão tendo a possibilidade de um recomeço de vida em outro lugar, fazendo isso de forma melhor. Vimos meninos e meninas tendo seu lugar para ter seu aprendizado, então realmente me impressionou muito. Ali, nós respeitamos as pessoas.

Qual a vossa avaliação da situação de Cateme actualmente?
Murilo Ferreira - Olha eu diria para vocês que em um certo estágio que estamos muito bem por aqui, com um padrão muito bom. Vocês sabem que eu sou exigente com responsabilidade social, e eu vi este projecto aqui com muita alegria. Houve críticas no passado, de coisas que não estavam funcionando muito bem. Nós recebemos estas críticas com humildade, prestando atenção em qual foi o sentido destas críticas, quais são os pontos a serem melhorados. O meu pessoal veio, fez algumas correcções e continua fazendo, e assim tem que ser: nós não somos perfeitos, não sabemos de tudo, nós procuramos fazer o melhor e naquilo que não conseguimos fazer o melhor, nós lamentamos e refazemos.

Com relação a extracção de carvão, há alguma dificuldade para ser superada?
Murilo Ferreira - A planta de Carvão, nós começamos a operar em Agosto de 2011, nós já produzimos mais de 2 milhões de toneladas, enviamos para exportação 1 milhão de toneladas, temos em estoque 300 mil toneladas, eu acredito que as coisas estão indo bem. Houve um pequeno atraso no sistema de Sena na parte de Ferrovia, na adequação de alguns trechos para que andasse rápido, são dificuldades que acontecem em todo crescimento de produção, mas que estarão totalmente superadas este ano. O mais importante é que estão sendo oferecidos empregos para este contingente todo.

Quantos moçambicanos trabalham na Vale hoje?
Murilo Ferreira - Nós temos hoje 85% de moçambicanos, sendo que no corpo de gestão são 30% de locais. Comparando com outros projectos, inclusive no Brasil onde a Vale começou, eu diria que são números bem elevados. Quando eu comecei no Estado do Pará numa refinaria de alumínio, nós tínhamos 65% de locais. Depois foi crescendo o número de gestores e gerentes, então este é um processo, e vejo que aqui estamos indo bem.

Quais são as possibilidades da linha para Nacala?
Murilo Ferreira - Na linha para Nacala, que atravessa o Malawi, a concessão em relação ao Malawi já está recebida, em relação ao Brown Field também temos todos os elementos de engenharia em mãos, o Green Field também. Agora estamos finalizando o contrato de concessão para ser aprovado pelo Conselho de Ministros, estamos muito ansiosos para começarmos e esperamos que tudo seja resolvido em 30 dias.

As exportações já estão a ter um retorno do investimento feito?
Murilo Ferreira - Nós ainda não estamos nesta fase, nós estamos colocando em alguns clientes o carvão aqui produzido, é preciso dizer que aqueles que já receberam estão muito bem impressionados com a qualidade, isso é importante porque nossos clientes precisam estar satisfeitos para ter fornecimento estável e permanente.

Para quando a Vale poderá começar a ter retorno?
Murilo Ferreira - Isso vai demorar muitos anos porque estamos ainda iniciando a expansão de 11 milhões de toneladas para 22 milhões de toneladas. Depois faremos ferrovia, porto, eu acredito que só começaremos a ter algum retorno em 2014.

Para quais países o carvão da Vale vai?
Murilo Ferreira - Coreia, Japão, Índia Brasil e futuramente para outros países.

Algo a complementar? 
Murilo Ferreira - Eu gostei muito que estivessem aqui nesta visita, porque quanto mais olhos olharem para nosso projecto, mais vão reconhecer o valor dos nossos colegas aqui da Vale Moçambique que estão fazendo o melhor para que o trabalho seja feito de uma forma respeitosa e aquilo que não esteja bom a gente corrija. É importante a presença de vocês, a imprensa com toda liberdade para fazer verificações e comentários. Aproveito a oportunidade para agradecer a recepção que tenho sempre neste país, de uma forma muito amável e carinhosa. (Redacção)

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