Todos os angolanos com dois dedos de testa já
perceberam que o Presidente José Eduardo dos Santos é totalmente fascinado
pelos holofotes das televisões.
Mesmo que raramente fale aos jornalistas – e faz
muito bem, já que quando se decide a fazê-lo muito dificilmente consegue fugir
do lugar comum – o Presidente angolano fica completamente deslumbrado perante a
perspectiva de ver apontados para si holofotes, câmaras e microfones.
É por essa razão que ele não desperdiça todas e
quaisquer cerimónias de corte de fitas ou outras que lhe cheirem a ganhos
político-eleitorais imediatos. Mais ainda porque em todos esses actos ele tem
sempre assegurado o grito estridente de apoiantes de ocasião arregimentados por
falanges como o Movimento Espontâneo e outros a troco de generosas quantidades
de bebidas etílicas.
O encantamento pelas luzes da ribalta já criou
situações constrangedoras para o próprio José Eduardo dos Santos. Está ainda
fresco na memória de muita gente o episódio em que JES inaugurou o inacabado
hospital provincial de Luanda. São abundantes os casos de outras situações
constrangedoras para a imagem de Angola quando o chefe de Estado se prestou a
cortar fitas de empreendimentos que poderiam, perfeitamente, ser inaugurados
por administradores municipais ou mesmo comunais. Os fontanários montados pela
Tecnocarro no ex-campo da revolução, ao Sambizanga, são um exemplo.
Não há conhecimento de que o Governo angolano
tivesse posto capitais públicos nos projectos imobiliários que os brasileiros
da Build andaram a “vender” por este país fora. Porém, completamente incapaz de
resistir aos holofotes, José Eduardo dos Santos, na sua condição de Presidente
de Angola, não se fez rogado para ir ao lançamento da primeira pedra dos
referidos empreendimentos. A presença de JES, que teve o significado de um
aval, convenceu cidadãos, bancos e outras entidades a apostar as suas “fichas”
em projectos como Bem Morar e outros.
A angolana Zaripoldina Silva, por exemplo, viu na
presença de JES uma garantia a mais da credibilidade dos projectos. Ao Novo
Jornal da última semana a bancária disse ter acreditado no projecto porque
“vimos uma figura idónea, na pessoa do Pelé, vimos o lançamento da primeira
pedra do projecto onde estava sua excelência o Presidente da Republica”.
Sucede que JES foi ao lançamento do projecto mais
porque não consegue resistir à tentação de aparecer diante das câmaras de
televisão, e com isso coleccionar mas alguns dividendos políticos, e menos
porque se tivesse inteirado previamente da credibilidade dos projectos.
Agora que as coisas deram para o torto, ou seja,
que os brasileiros da Build deixaram cair a máscara de vigaristas, o Presidente
da República age como faz habitualmente sempre que as águas do mar estão
revoltas: finge que não vê e que não sabe de nada.
É obvio que não se exige que o Presidente seja
chamado a ressarcir cada uma das centenas de angolanos vigarizados pelos
brasileiros da Build. Mas não lhe custaria nada um gestozinho de solidariedade
para com as vítimas de uma trama que ele avalizou indirectamente pela via da
sua presença.
Se José Eduardo dos Santos não tivesse associado o
seu nome e toda a carga simbólica que sustentam a função de chefe de Estado,
pessoas como Zaripoldina Silva e outros angolanos de boa fé teriam pensado duas
vezes antes de confiarem os seus parcos e suados tostões a brasileiros de que nunca
antes tinham ouvido falar.
No fundo, as pobres vítimas da Build estão diante
do JES do costume: na hora de colher o bónus é sempre o primeiro da fila. Mas
quando se trata de repartir o ónus ninguém o verá.
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