por Maka
Angola
O jovem
Fernandes da Silva, de 20 anos, experimentou ontem um novo conceito de
manutenção da lei e da ordem da Polícia Nacional. O cidadão foi detido e
torturado quando as autoridades reprimiram violentamente uma tentativa de
manifestação anti-governamental protagonizada por um grupo informal de jovens,
denominado Movimento Revolucionário.
Detido
por volta das 17h00, nas imediações do Largo da Independência, por agentes da
Polícia Nacional, o manifestante contou, em exclusivo ao Maka Angola, a
tortura a que foi submetido.
“Um
agente da Polícia Nacional picou-me várias vezes na cabeça com um sabre.
Espancaram-me brutalmente, atiraram-me ao chão, pisaram-me no peito com botas”,
disse Fernandes da Silva.
Já na
carrinha da Polícia Nacional, um dos agentes retirou um dos atacadores do seu
calçado. “O agente amarrou-me os testículos com o atacador e, com toda a força,
foi o caminho todo a puxá-los”, revelou o jovem a partir da 3ª Esquadra, na
Vila Alice, onde se encontrava detido.
“Sangrei
muito, mas a polícia não me prestou os primeiros socorros”, denunciou a vítima.
Outro
jovem manifestante, José Augusto Camilo, de 19 anos, revelou ao Maka Angola
ter sofrido um ataque de agentes à paisana que o imobilizaram, ainda no Largo.
“Um deles aplicou-me uma injecção nas costas, não sei com o quê e qual
será o efeito”, lamentou José Augusto Camilo, também detido na 3ª Esquadra.
José
Augusto Camilo queixava-se de inflamação nas costas bem como no braço direito e
também não recebeu qualquer assistência médica.
Por sua
vez, o terceiro manifestante, dos encarcerados na 3ª Esquadra, contou como os
policiais o maltrataram com socos e pontapés, para além de porretes.
“A
polícia colocou um panfleto falso, que eles inventaram, na barriga do Camilo,
que já estava injectado por eles. A polícia trouxe a TPA que o filmou assim,
sem camisa, para fazerem a propaganda que nós queremos guerra”, explicou o
manifestante.
Segundo o
advogado David Mendes, as agressões sofridas pelos jovens configuram
“actos de violência ilegítima contra presos, passíveis de punição à luz do
Código Penal”.
Entretanto,
Conceição José Ventura, de 21 anos, confirmou ao Maka Angola que fazia
parte de um grupo de sete manifestantes, inicialmente detidos na Unidade de
Rádio Patrulha que, à noite, foram transferidos também para a 3ª Esquadra.
O jovem
identificou, entre os sete manifestantes, Bernardo João, Eduardo Dala e Alberto
Pinto. Disse que os membros do seu grupo não sofreram agressões sérias, para
além de uns tabefes.
Com estes
três detidos, eleva-se para 23 o número de manifestantes detidos pela Polícia
Nacional e devidamente identificados por Maka Angola.
Os 10
jovens, detidos em dois grupos diferentes na 3ª Esquadra, foram soltos no mesmo
dia, por volta das 23.20 .
David
Mendes questionou a legalidade da intervenção da Polícia Nacional contra os
manifestantes. “Que lei a polícia estava a cumprir? Quem chamou a polícia para
intervir quando não havia alteração da ordem pública?”
O advogado
lembrou que “até hoje, o governo provincial de Luanda não notificou os
promotores da manifestação, nem respondeu à sua petição nos prazos
estabelecidos por lei”.
Segundo o
defensor dos direitos humanos, o comandante provincial da Polícia Nacional em
Luanda alegadamente agiu por excesso de zelo e pode ter incorrido no “crime de
abuso de autoridade”.
Imagem de uma manifestação anterior contra o Presidente José Eduardo dos Santos.
Imagem de uma manifestação anterior contra o Presidente José Eduardo dos Santos.
Sem comentários:
Enviar um comentário