Pesquisa e Análise por Xavier de Figueiredo, Africa Monitor Intelligence
Pretória (Canalmoz) – 1 . Foi registado em
Cabinda, nas últimas semanas, um recrudescimento de acções subvesrsivas armadas
contra alvos militares governamentais – fixos ou em movimento.
A situação deu lugar a “medidas de contingência” e
a uma inesperada deslocação ao território, em missão de avaliação in loco, do
Chefe do Estado-Maior General CEMG, General Sachipendo Nunda.
Os critérios com base nos quais se considerou estar
perante um recrudescimento de acções armadas subversivas, aparentemente ligadas
à FLEC (Frente de Libertação do Enclave de Cabinda) ou a uma das suas facções,
foram um aumento nítido da frequência das referidas acções e a sua dispersão
territorial (maior incidência a Norte, mas também no Sul).
Em fase imediatamente anterior à actual escalada
foram registadas numerosas deserções de antigos combatentes da FLEC, em
diferentes períodos do passado recente “recuperados” e integrados pelas
autoridades nas FA e Polícia angolanas. O SIM-Inteligência Militar, considera a
existência de uma relação de causa-efeito entre ambos os factores.
Os desertores, na sua maioria soldados colocados em
unidades militares e policiais de Luanda, (ex-RI 20, em particular), tomaram o
destino de Cabinda. Queixavam-se de ser objecto de discriminações – em termos
de tratamento e também no aspecto remuneratório (16.000,00 Nkz de soldo mensal,
contra 20.000,00, por norma geral).
As acções de ocorrência verificada são na sua maior
parte emboscadas ou flagelações relâmpago (fogo breve/retiradas rápidas),
aparentemente destinadas a provocar insegurança e usura. Há igualmente a
“impressão” de que os atacantes se internam no território a partir dos países
vizinhos, Rep. Democrática do Congo e Rep do Congo.
2 . De acordo
com avaliações competentes, a recente exoneração do governador de Cabinda,
Mawete João Batista, foi ditada pela necessidade de “descomprimir” a situação
interna no território, marcada por fenómenos de descontentamento social que
terão sido propícios ao ressurgimento da guerrilha.
A urgência de uma “descompressão” da situação
interna, adensada por facetas do próprio estilo de Mawete J. Batista, entre as
quais a sua arrogância e insensibilidade política foi em larga escala
determinada por razões de carácter eleitoral, baseadas na aproximação das
eleições de 31.Agosto corrente.
O Governo angolano aplica no território políticas
inspiradas em métodos de repressão de adversários e numa atitude de
desconfiança em relação aos naturais do território. O conceito em que tais
políticas se baseiam é o de uma “inflexibilidade calculada” (não conviver com
focos de oposição real, potencial ou aparente).
Os naturais de Cabinda, em geral, consideram-se
portadores de uma identidade própria, baseada em factores culturais, históricos,
geográficos e mesmo imaginários; entre os mais jovens estão disseminadas ideias
como a de que o território e suas riquezas naturais são usurpadas por
“chimbulungos” (tratamento dado aos angolanos de outras partes).
A nova geração, mais instruída e politicamente mais
esclarecida, tem uma consciência mais aguda dos seus direitos cívicos e
políticos e vive com mais ardor os sentimentos separatistas, embora ocultando
tais facetas por instinto de defesa. A inflexibilidade das políticas do Governo
é, por isso, considerada contraproducente.
3 . O
dispositivo das FA em Cabinda, cerca de 8.000 homens, em permanência, é o mais
volumoso de todo o país. A quadrícula respectiva, organizada em articulação com
a Polícia e SINSE, tem um pendor essencialmente dissuasor – de difícil
correspondência devido a condições do território como a sua floresta densa e
permeabilidade das fronteiras. (Xavier de Figueiredo, editor do Africa
Monitor Intelligence)
Imagem: angolaterranossa.blogspot.com
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