sábado, 11 de agosto de 2012

Angola. Ressurgimento de acções insurgentes em Cabinda


Pesquisa e Análise por Xavier de Figueiredo, Africa Monitor Intelligence


Pretória (Canalmoz) – 1 . Foi registado em Cabinda, nas últimas semanas, um recrudescimento de acções subvesrsivas armadas contra alvos militares governamentais – fixos ou em movimento.
A situação deu lugar a “medidas de contingência” e a uma inesperada deslocação ao território, em missão de avaliação in loco, do Chefe do Estado-Maior General CEMG, General Sachipendo Nunda.
Os critérios com base nos quais se considerou estar perante um recrudescimento de acções armadas subversivas, aparentemente ligadas à FLEC (Frente de Libertação do Enclave de Cabinda) ou a uma das suas facções, foram um aumento nítido da frequência das referidas acções e a sua dispersão territorial (maior incidência a Norte, mas também no Sul).
Em fase imediatamente anterior à actual escalada foram registadas numerosas deserções de antigos combatentes da FLEC, em diferentes períodos do passado recente “recuperados” e integrados pelas autoridades nas FA e Polícia angolanas. O SIM-Inteligência Militar, considera a existência de uma relação de causa-efeito entre ambos os factores.
Os desertores, na sua maioria soldados colocados em unidades militares e policiais de Luanda, (ex-RI 20, em particular), tomaram o destino de Cabinda. Queixavam-se de ser objecto de discriminações – em termos de tratamento e também no aspecto remuneratório (16.000,00 Nkz de soldo mensal, contra 20.000,00, por norma geral).
As acções de ocorrência verificada são na sua maior parte emboscadas ou flagelações relâmpago (fogo breve/retiradas rápidas), aparentemente destinadas a provocar insegurança e usura. Há igualmente a “impressão” de que os atacantes se internam no território a partir dos países vizinhos, Rep. Democrática do Congo e Rep do Congo.

2 . De acordo com avaliações competentes, a recente exoneração do governador de Cabinda, Mawete João Batista, foi ditada pela necessidade de “descomprimir” a situação interna no território, marcada por fenómenos de descontentamento social que terão sido propícios ao ressurgimento da guerrilha.
A urgência de uma “descompressão” da situação interna, adensada por facetas do próprio estilo de Mawete J. Batista, entre as quais a sua arrogância e insensibilidade política foi em larga escala determinada por razões de carácter eleitoral, baseadas na aproximação das eleições de 31.Agosto corrente.
O Governo angolano aplica no território políticas inspiradas em métodos de repressão de adversários e numa atitude de desconfiança em relação aos naturais do território. O conceito em que tais políticas se baseiam é o de uma “inflexibilidade calculada” (não conviver com focos de oposição real, potencial ou aparente).
Os naturais de Cabinda, em geral, consideram-se portadores de uma identidade própria, baseada em factores culturais, históricos, geográficos e mesmo imaginários; entre os mais jovens estão disseminadas ideias como a de que o território e suas riquezas naturais são usurpadas por “chimbulungos” (tratamento dado aos angolanos de outras partes).
A nova geração, mais instruída e politicamente mais esclarecida, tem uma consciência mais aguda dos seus direitos cívicos e políticos e vive com mais ardor os sentimentos separatistas, embora ocultando tais facetas por instinto de defesa. A inflexibilidade das políticas do Governo é, por isso, considerada contraproducente.

3 . O dispositivo das FA em Cabinda, cerca de 8.000 homens, em permanência, é o mais volumoso de todo o país. A quadrícula respectiva, organizada em articulação com a Polícia e SINSE, tem um pendor essencialmente dissuasor – de difícil correspondência devido a condições do território como a sua floresta densa e permeabilidade das fronteiras. (Xavier de Figueiredo, editor do Africa Monitor Intelligence)
Imagem: angolaterranossa.blogspot.com

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