A Conferência das Nações Unidas sobre o
Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que decorreu de 20 a 22 deste mês na
cidade brasileira do Rio de Janeiro, pode ter sido o último evento
internacional a que Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó” participou na
qualidade de vice-presidente da República.
Nandó participou da Rio+20 em representação
do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
O consulado de Nandó como vice-presidente da
República terminará na primeira quinzena de Setembro, altura em que deverão ser
empossados os membros do governo que emergirá das eleições de 31 de Agosto
próximo. Nessa altura, Nandó passará o testemunho a Manuel Vicente, uma aposta
pessoal de José Eduardo dos Santos não apenas como seu coadjutor mas
provavelmente como seu sucessor na presidência da República.
Nandó foi nomeado e empossado pelo Presidente
na República em Fevereiro de 2010.
Nos termos da actual Constituição da
República, torna-se vice-presidente da República o segundo colocado da lista de
deputados vencedora das eleições.
Na lista com que o MPLA concorreu às eleições
de Setembro de 2008, que ganhou com mais de 80% dos votos, Nandó figurava em
segundo lugar, o que, depois da aprovação da actual Constituição, em Fevereiro
de 2010, fez dele vice-presidente da República.
Na relação de candidatos a deputados com que
o MPLA concorrerá em Agosto, o segundo posto é de Manuel Domingos Vicente, o
antigo patrão da Sonangol. Na lista actual Nandó desceu 13 lugares e está agora
em 15º, o que o torna elegível para…nada!
Nessa lista o (ainda) vice-presidente da
República não está apenas abaixo de José Eduardo dos Santos, Manuel Vicente ou
Roberto de Almeida. Ele é cilindrado até por pessoas com pouco ou quase nenhum
historial no MPLA. Tal é o caso de Gustavo da Conceição (11º lugar na lista).
Na “bolsa de valores” de José Eduardo dos Santos ilustres desconhecidos dos
próprios militantes do MPLA como Elisa Kata (9º), Francisco de Castro Maria
(10º) ou Amélia Calumbo Quinta (14º) são mais cotados do que o antigo ministro
do Interior, primeiro-ministro, presidente da Assembleia Nacional e actual
vice-presidente da República.
Entre os antigos titulares da Assembleia
Nacional, Nandó só está em melhor posição que França Van-Dúnem (74º) e António
Paulo Kassoma (41º). O actual presidente do Parlamento viu-se clara e
estrondosamente batido até pelos seus coadjutores. Joana Lina Ramos Baptista,
segunda vice-presidente da casa, aparece num destacadíssimo 6º lugar, 10 furos
acima do primeiro vice-presidente, João Gonçalves Lourenço. Como suprema ironia
registe-se o facto de Paulo Kassoma ter sido suplantado até pela secretária de
mesa da Assembleia Nacional, Emília Carlota Celestino Dias.
Mas a circunstância de estar acima de França
Van-Dúnem e de Paulo Kassoma não serviu de grande consolo à família de Nandó.
Uma espécie de conselho familiar do vice-presidente da República reuniu em casa
do próprio logo depois que se soube oficialmente que ele deixara de ser a
aposta de José Eduardo dos Santos.
Na reunião familiar, que fontes do Maka
Angola disseram ter decorrido num clima bastante tenso, ficou decidido
que Nandó declinará quaisquer propostas ou ofertas que José Eduardo dos Santos
lhe venha a fazer para ocupação de cargos a todos os níveis do aparelho do
Estado e do MPLA.
Nandó deverá tomar posse como deputado, para
beneficiar das imunidades e outras benesses que cobrem os parlamentares, mas
logo depois suspenderá o seu mandato.
Contudo, as “recomendações” produzidas pelo
conselho familiar de Nandó não deverão provocar qualquer embaraço a José
Eduardo dos Santos uma vez que ele já não está a contar com o actual
vice-presidente para nenhum cargo público.
Fontes fidedignas disseram ao Maka
Angola que José Eduardo dos Santos jamais voltaria a oferecer a
badalada presidência da Assembleia Nacional a alguém, como é o caso de Nandó,
que está impedido de entrar em território norte-americano.
As autoridades norte-americanas incluíram o
nome do actual vice-presidente da República numa lista de indivíduos que elas
conotam com o terrorismo internacional.
Em Outubro de 2011 Nandó foi impedido de
desembarcar no aeroporto de Nova Iorque, onde era aguardado para participar na
66ª sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em representação do Chefe de
Estado angolano. As autoridades migratórias americanas alegaram, então, uma
suposta conexão de Nandó a negócios controlados pelos irmãos Ali Tajideen e
Husayn Tajideen, empresários libaneses sobre quem pesa a acusação de
financiarem a actividade do grupo terrorista Hezbollah.
Depois da conferência do Rio de Janeiro,
Nandó não se mostrará mais disponível a participar em outros eventos em
representação de José Eduardo dos Santos.
É o fim da picada para um homem que alimentou
fundadas expectativas de ser escolhido para a sucessão presidencial.
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