– indaga Maurício Sulila, director adjunto da
organização ambientalista Livaningo, a propósito da manutenção da Lixeira de
Hulene no meio de bairros residenciais
“Durante muito tempo chamamos à atenção sobre a
necessidade da transferência do Paiol de Malhazine, não quiseram nos dar
ouvidos. Esperaram pelo desastre. Agora estamos há 12 anos a chamar à atenção
sobre a lixeira de Hulene, não nos querem ouvir. Estarão à espera doutro
desastre? Que Governo é este?” – questiona o ambientalista Maurício Sulila
Maputo
(Canalmoz) – A Lixeira de Hulene “acordou” zangada, ontem, como resultado da
forte ventania que soprou quase todo o dia na cidade de Maputo. A circulação
rodoviária no troço da Avenida Julius Nyerere, que passa à frente da lixeira,
esteve todo o dia condicionada e na parte da manhã, entre 8 horas e 10 horas, o
trânsito chegou a parar por alguns momentos. No interior da lixeira havia
chamas em diversos pontos. O fumo das chamas, misturado com a poeira do lixo
fez uma grande nuvem que se alastrou pelos bairros vizinhos e impediu a
visibilidade na estrada. A Reportagem do Canalmoz testemunhou no terreno o
caos.
A
nuvem da lixeira era tão gigante que atingiu bairros que distam mais de 10
quilómetros do local. Em bairros como Magoanine, Malhazine, Albazine, cinzas
que voavam a partir da lixeira entravam nas residências. O vento soprava do sul
para o norte, o que ajudou o alastramento das cinzas nesse sentido.
Esta
grande confusão acontece um dia depois de se ter discutido o futuro da lixeira,
num encontro promovido pela organização ambientalista Livaningo, juntando
representantes do Governo, Município de Maputo, moradores dos bairros que
circundam a lixeira e outros interessados.
Edilidade dá mais 5 anos para retirar a lixeira
No
encontro sobre a discussão do futuro da lixeira, o representante do município
disse que a retirada da lixeira localizada no meio de bairros residenciais, só
será possível daqui há cinco anos, alegando a indisponibilidade de fundos e os
trabalhos técnicos necessários para a instalação de um novo aterro sanitário.
Que governo irresponsável é este?
O
director adjunto da Livaningo, organização promotora do encontro, disse que a
organização não ficou satisfeita nem convencida com a proposta da edilidade de
retirar a lixeira daqui a 5 anos. Chamou a isso “uma proposta infeliz e
irresponsável”.
“Durante
muito tempo chamámos à atenção sobre a necessidade da transferência do Paiol de
Malhazine, não quiseram nos dar ouvidos. Esperaram pelo desastre. Agora estamos
há 12 anos a chamar à atenção sobre a lixeira de Hulene e não nos querem ouvir.
Estarão à espera doutro desastre? Que Governo é este?”, questiona Maurício
Sulila.
Segundo
o ambientalista, há dias que os alunos das escolas “Força do Povo” e
“Imaculada”, que se localizam perto da lixeira, não estudam porque a poeira da
lixeira, com o vento, espalha-se por toda a parte. “Se as escolas fecham
para proteger os alunos da lixeira, já as casas que estão nos bairros nos
arredores da lixeira, nunca fecham. Estão sempre lá. É a saúde das pessoas que
está em jogo”, argumenta o ambientalista.
Sulila
diz que será criado um grupo técnico que vai monitorar o processo da
transferência da lixeira e acredita que 5 anos é muito tempo. Por isso, refere,
“o grupo, integrando moradores dos bairros e técnicos do município de Maputo,
vai trazer resultados que mostram a necessidade e a possibilidade da
transferência da lixeira em menos tempo”.
Sulila
lembra que o caso da transferência da lixeira vem desde o tempo em que era edil
de Maputo Artur Canana, passou para Eneas Comiche e agora o dossier está com
David Simango. Teme que passe para outro futuro edil da cidade.
Quanto
aos recolectores do lixo e às pequenas empresas que trabalham na lixeira de
Hulene, que defendem a manutenção da lixeira no espaço em que se encontra
actualmente, Sulila diz que eles estarão mais seguros trabalhando num aterro
sanitário e não numa lixeira.
Recorde-se
que a Lixeira de Hulene existe há mais de 30 anos. É um espaço a céu-aberto e o
único destino onde todo o tipo de lixo produzido na capital do país vai parar.
Depois
de várias acções de pressão lideradas pela Livaningo em parceria com algumas
entidades da sociedade civil, pessoas singulares e as comunidades afectadas, o
Governo comprometeu-se a encerrar a lixeira e a construir até 2014 um aterro
sanitário no bairro de Matlhemele, na Matola, numa área de 36 hectares, para
servir os dois municípios. Contudo, só em 2007 é que foram divulgados os resultados
preliminares dos estudos de impacto ambiental e económico e fixou-se 2009 como
o ano de retirada da Lixeira de Hulene, mas até hoje o processo continua
parado. (Borges Nhamirre)
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