segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Que Governo irresponsável é este? Nuvem de lixo paralisa trânsito em Maputo

  
– indaga Maurício Sulila, director adjunto da organização ambientalista Livaningo, a propósito da manutenção da Lixeira de Hulene no meio de bairros residenciais

“Durante muito tempo chamamos à atenção sobre a necessidade da transferência do Paiol de Malhazine, não quiseram nos dar ouvidos. Esperaram pelo desastre. Agora estamos há 12 anos a chamar à atenção sobre a lixeira de Hulene, não nos querem ouvir. Estarão à espera doutro desastre? Que Governo é este?” – questiona o ambientalista Maurício Sulila
Maputo (Canalmoz) – A Lixeira de Hulene “acordou” zangada, ontem, como resultado da forte ventania que soprou quase todo o dia na cidade de Maputo. A circulação rodoviária no troço da Avenida Julius Nyerere, que passa à frente da lixeira, esteve todo o dia condicionada e na parte da manhã, entre 8 horas e 10 horas, o trânsito chegou a parar por alguns momentos. No interior da lixeira havia chamas em diversos pontos. O fumo das chamas, misturado com a poeira do lixo fez uma grande nuvem que se alastrou pelos bairros vizinhos e impediu a visibilidade na estrada. A Reportagem do Canalmoz testemunhou no terreno o caos.
A nuvem da lixeira era tão gigante que atingiu bairros que distam mais de 10 quilómetros do local. Em bairros como Magoanine, Malhazine, Albazine, cinzas que voavam a partir da lixeira entravam nas residências. O vento soprava do sul para o norte, o que ajudou o alastramento das cinzas nesse sentido.
Esta grande confusão acontece um dia depois de se ter discutido o futuro da lixeira, num encontro promovido pela organização ambientalista Livaningo, juntando representantes do Governo, Município de Maputo, moradores dos bairros que circundam a lixeira e outros interessados.

Edilidade dá mais 5 anos para retirar a lixeira

No encontro sobre a discussão do futuro da lixeira, o representante do município disse que a retirada da lixeira localizada no meio de bairros residenciais, só será possível daqui há cinco anos, alegando a indisponibilidade de fundos e os trabalhos técnicos necessários para a instalação de um novo aterro sanitário.

Que governo irresponsável é este?

O director adjunto da Livaningo, organização promotora do encontro, disse que a organização não ficou satisfeita nem convencida com a proposta da edilidade de retirar a lixeira daqui a 5 anos. Chamou a isso “uma proposta infeliz e irresponsável”.
“Durante muito tempo chamámos à atenção sobre a necessidade da transferência do Paiol de Malhazine, não quiseram nos dar ouvidos. Esperaram pelo desastre. Agora estamos há 12 anos a chamar à atenção sobre a lixeira de Hulene e não nos querem ouvir. Estarão à espera doutro desastre? Que Governo é este?”, questiona Maurício Sulila.
Segundo o ambientalista, há dias que os alunos das escolas “Força do Povo” e “Imaculada”, que se localizam perto da lixeira, não estudam porque a poeira da lixeira,  com o vento, espalha-se por toda a parte. “Se as escolas fecham para proteger os alunos da lixeira, já as casas que estão nos bairros nos arredores da lixeira, nunca fecham. Estão sempre lá. É a saúde das pessoas que está em jogo”, argumenta o ambientalista.
Sulila diz que será criado um grupo técnico que vai monitorar o processo da transferência da lixeira e acredita que 5 anos é muito tempo. Por isso, refere, “o grupo, integrando moradores dos bairros e técnicos do município de Maputo, vai trazer resultados que mostram a necessidade e a possibilidade da transferência da lixeira em menos tempo”.
Sulila lembra que o caso da transferência da lixeira vem desde o tempo em que era edil de Maputo Artur Canana, passou para Eneas Comiche e agora o dossier está com David Simango. Teme que passe para outro futuro edil da cidade.
Quanto aos recolectores do lixo e às pequenas empresas que trabalham na lixeira de Hulene, que defendem a manutenção da lixeira no espaço em que se encontra actualmente, Sulila diz que eles estarão mais seguros trabalhando num aterro sanitário e não numa lixeira.
Recorde-se que a Lixeira de Hulene existe há mais de 30 anos. É um espaço a céu-aberto e o único destino onde todo o tipo de lixo produzido na capital do país vai parar.
Depois de várias acções de pressão lideradas pela Livaningo em parceria com algumas entidades da sociedade civil, pessoas singulares e as comunidades afectadas, o Governo comprometeu-se a encerrar a lixeira e a construir até 2014 um aterro sanitário no bairro de Matlhemele, na Matola, numa área de 36 hectares, para servir os dois municípios. Contudo, só em 2007 é que foram divulgados os resultados preliminares dos estudos de impacto ambiental e económico e fixou-se 2009 como o ano de retirada da Lixeira de Hulene, mas até hoje o processo continua parado. (Borges Nhamirre)


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