O banco sul-africano First Rand anunciou que vai
deixar de fornecer notas de dólar aos bancos angolanos a partir de 30 de
Novembro próximo. A maka é que o banco sul-africano é o único fornecedor de
cédulas americanas a Angola.
EXPANSÃO
CARLOS ROSADO DE CARVALHO
A decisão de suspender a venda de notas de dólar
a Angola não partiu do First Bank, foi tomada pelo Bank of America. Outra maka
mais é que o banco norte-americano é o único fornecedor das cédulas americanas
ao banco sul-africano.
O negócio das notas de dólar é um negócio de
volume, isto é, as margens são muito pequenas e por isso só vale a pena se as
quantidades forem muito elevadas. É isso que explica que nos últimos anos
vários bancos tenham abandonando este negócio em África e que o Bank of America
seja o único fornecedor de cédulas americanas ao First Rand - e que este, por
sua vez, seja o único fornecedor de cédulas americanas em África. Juntando as
duas makas, nem os bancos angolanos têm mais bancos a quem recorrer para
comprar as notas de dólar nem o First Bank tem mais bancos a quem recorrer para
se abastecer de cédulas americanas. No negócio de venda de dólares a Angola, o
First Rand é um mero intermediário.
Quem tem acesso à fonte, isto é, à Reserva
Federal dos Estados Unidos da América, também conhecida por Fed, dona das
máquinas de fazer dólares, é o Bank of America. Não compra as notas verdes à
Fed quem quer mas quem esta quer, isto é, quem disponha de uma licença passada
pela autoridade monetária.
O Bank of America não deu razões para a
suspensão das vendas de dólares a Angola e a outros países, entre os quais os
africanos Sudão e Nigéria e os asiáticos Vietname e Indonésia. Portanto, Angola
não está sozinha na suspensão, pelo que não estamos em presença de uma
perseguição. O Bank of America não disse, mas não é difícil adivinhar as
razões. Às quais, aliás, já me referi neste espaço em Junho de 2014 a propósito
da falta de dólares, sobretudo notas. Como então escrevi, Angola é dos países
do mundo que mais dólares importam - os valores chegaram a atingir 6 mil
milhões USD e estarão agora na casa dos 3 mil milhões.
Receosa de que parte dos dólares importados por
Angola acabasse na lavagem do dinheiro e no financiamento do terrorismo - há
rumores do aparecimento de notas novas de dólar importadas por Angola no Médio
Oriente -, a Reserva Federal norte-americana alertou as autoridades angolanas,
"sensibilizando-as" para a necessidade de controlar o destino das
notas.
Assim, em Janeiro de 2014 o Banco Nacional de
Angola (BNA), então liderado por José Massano, condicionou a importação de
cédulas americanas para Angola, que passaram a estar sujeitas a um
licenciamento prévio. Até então os bancos importavam primeiro e comunicavam
depois. Por isso, não foi surpresa que, já este ano, se soube que o BNA já
liderado por José Pedro de Morais liberalizou de novo a importação de dólares.
Foi sol de pouca dura. A partir de 30 de Novembro, a torneira vai fechar-se por
decisão do Bank of America.
Em tradução livre, o Bank of America é o Banco
da América. Talvez por confusão com outros países, onde os bancos centrais têm
o nome do país, por exemplo Banco de Portugal ou Banco de Inglaterra, foi
noticiado que tinha sido a Reserva Federal a proibir a venda de dólares. Mas,
como referi, não foi. Pelo menos directamente. Embora não tenha adiantado
explicações, o Bank of America decidiu deixar de vender dólares a Angola,
porque Angola não consegue explicar o destino final dos dólares que compra. Se
assim é, não é de excluir a hipótese de que uma parte dos dólares importados
por Angola acaba na lavagem de dinheiro da corrupção ou no financiamento do
terrorismo. A Reserva Federal tem regras muito estritas a este respeito e quem
não as respeita sujeita-se a pesadas multas. Tudo indica que foi o receio de
levar com multas elevadas que levou o Bank of America a avisar o First Rand de
que já não podia vender notas verdes a Angola.
Obviamente que, havendo problemas, quem paga as
multas é o Bank of America e não o First Bank, nem os bancos angolanos,
entidades que a Fed desconhece. Ou seja, quem toma a decisão de deixar de
vender dólares aos bancos angolanos é o Bank of America mas, no fundo, fá-lo
porque não quer ter problemas com a Fed. O que quer dizer que, indirectamente,
é a Fed que está na origem da suspensão das vendas de dólares a Angola. Por
mais que a embaixada norte-americana em Luanda faça comunicados a desmentir.