sábado, 17 de junho de 2017

Filha do Neto contra regalias de Eduardo dos Santos como antigos chefes de Estado




 A deputada e filha do primeiro Presidente angolano, António Agostinho Neto, está contra as regalias para os antigos chefes de Estado, afirmando que, no caso atual, "as finanças não serão um problema para os futuros ex-Presidente e ex-primeira-dama". Irene Neto intervinha hoje na discussão na especialidade do projeto de Lei orgânica sobre o Regime Jurídico dos Ex-Presidentes e vice-presidentes da República Após Cessação de Mandato, de iniciativa do grupo parlamentar do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder, previsto para ir a votação na sessão plenária da próxima quinta-feira. "Será justo beneficiarem ainda destas regalias, ninguém pode dizer que a família presidencial é pobre, podendo, por esta razão, atender às suas necessidades pessoais e políticas, com a dignidade que correspondam às altas funções exercidas", questionou Irene Neto, deputada do MPLA e membro do Comité Central do partido. "Já o mesmo não se poderá dizer do primeiro Presidente, em que nem o seu cônjuge e os seus descendentes alguma vez beneficiaram de lugares em administrações da banca, na mineração ou de qualquer outro recurso do país, pelo qual tanto se bateu e se conseguiu levar à independência de forma vitoriosa", acrescentou. António Agostinho Neto proclamou a independência de Angola a 11 de novembro de 1975 e morreu, vítima de doença, em setembro de 1979, tendo então subido ao poder José Eduardo dos Santos, que não se recandidata nas próximas eleições gerais de 23 de agosto. Durante a sua intervenção, em que alguns momentos chegou a emocionar-se, a deputada contou episódios por que passou a família após a morte do primeiro Presidente de Angola, que classificou como de "inúmeras dificuldades", como por exemplo não poderem entrar na sua própria casa no Futungo de Belas, "por permanente empecilhos, embaraços ou pura obstrução da segurança". Naquela altura, contou, "foram mais atenciosos o corpo diplomático, a Swapo [organização política da Namíbia]", do que os "próprios camaradas". A deputada diz não concordar com o seu partido, que afirma, na introdução do assunto, que "é a primeira vez que temos um Presidente cessante". "Já houve um Presidente cessante, não voluntariamente, mas houve, e se ele não ficou aqui, ficou a sua família", disse. Para a deputada é compreensível que, com a "retirada do atual Presidente da República, perante uma conjuntura de grande desgaste", as medidas cautelares e preventivas "para a garantia da segurança e da estabilidade da sua pessoa e dos seus familiares". Lembrou que "não foi fácil para a família gerir o dia seguinte à morte do Presidente Agostinho Neto", tendo por várias vezes sido solicitado que o assunto fosse discutido, na Assembleia do Povo, naquela altura, mas sem sucesso. "Com toda a transparência, não queríamos favor, não queríamos coisas opacas, não queríamos ser encobertos, queríamos que o povo decidisse qual era o apoio que devia ser dado à família do primeiro Presidente da República", frisou. "E ficámos indignadíssimos, por nos manterem à mercê das boas ou más vontades, da arbitrariedade de cada um que necessitasse de ajustar contas com o Presidente Agostinho Neto, por interposta pessoa à sua família", lamentou. Atendo-se mais ao projeto de lei em discussão, Irene Neto questionou a designação de "Presidente da República Emérito", proposto no documento, que defende não está prevista na Constituição da República, e o direito a uma pensão vitalícia correspondente a 90% do vencimento durante o último ano de mandato. Chamou a atenção que à medida que se consolida a democracia em Angola, os candidatos à Presidente da República "serão cada vez mais jovens e ficarão menos mandatos consecutivos no poder", daí não concordar com o critério vitalício. O projeto de lei não chegou a ser aprovado na sessão de hoje, devendo merecer, na próxima semana, novas discussões para melhoria do documento, antes de ir a votação na quinta-feira.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

“Com o olhar benevolente dos canalhas de fato e gravata.”


São múltiplos os sinais de cansaço e esgotamento com o regime de José Eduardo dos Santos que os angolanos vêm emitindo nas redes sociais. O Correio Angolense selecionou uma destas mensagens de revolta incontida. Uma onda que já não é possível travar, ou simplesmente assobiar para o lado, fingindo que não existe.
CORREIO ANGOLENSE

 “Somos o povo especial escolhido do Sr. engenheiro.
E como povo especial escolhido por ele, não temos água nem luz na cidade.
Temos asfalto cada dia mais esburacado.
Os que, de entre nós, vivem na periferia, não têm nada.
Nem asfalto.
Só miséria, lixo, mosquitos, águas paradas.
Hospitais?!!!
Nem pensar.
O povo especial não precisa.
Não adoece.
Morre apenas sem saber porquê.
E quando se inaugura um hospital bonito e ficamos com a esperança de que as coisas vão mudar minimamente, descobre-se que as máquinas são chinesas, com manuais chineses sem tradução e que ninguém sabe operá-las...
Estas são opções especiais para um povo especial.

Educação?!!
O povo especial não precisa.
Cospe-se na rua (e agora com os chineses, temos que ter cuidado para não caminharmos sobre escombros escarrados de fresco...), vandalizam-se costumes, ignoram-se tradições.
Escolas para quê e para ensinar o quê?!!
Que o sr. engenheiro é um herói porque fugiu ali algures da marginal acompanhado de outros tantos magníficos?!!!
Que a Deolinda Rodrigues morreu num dia fictício que ninguém sabe qual, mas nada os impediu de transformar um dia qualquer em feriado nacional?!!!!
O embuste da história recente de Angola é tão completo e manipulado que até mesmo eles parecem acreditar nas mentiras que inventaram...
Se incomodarmos o Sr. engenheiro de qualquer forma, sai a guarda pretoriana dele e nós ficamos quietos a vê-los barrar ruas anarquicamente sem nos deixar alternativas para chegarmos a casa ou aos empregos.
O povo especial nem precisa ir trabalhar se resolvem fechar as ruas.
Se sairmos para almoçar e eles bloqueiam as ruas sem qualquer explicação, só temos uma hipótese: como povo especial não precisa de comer, dá-se meia volta de barriga vazia e volta-se para o emprego.
E isto quando não ficamos horas parados à espera que o Sr. Engenheiro e sua comitiva recolham aos seus lares e nos deixem, finalmente circular. Entramos em casa às escuras e saímos às escuras.
Tomamos banho de caneca. Sim, bem à moda do velho e antigo regime do MPLA-PT do século passado.
Luanda, que ainda resiste a tantos maus-tratos e insiste em conservar os vestígios da sua antiga beleza, agora é violentada pelos chineses.
Sodomizada.
Sistematicamente.
Dia e noite.
Está exaurida, de rastos, de cócoras diante dos novos "amigos" do Sr. engenheiro.
Eles dão-se, inclusive, ao luxo de erguerem dois a três restaurantes chineses numa mesma rua. A ilha do Cabo tem mais restaurantes chineses que qualquer outra rua
de qualquer outra cidade ocidental ou africana: CINCO!!!!
A China Town instalada em Luanda.
As inscrições que colocam nos tapumes das obras em construção, admirem-se, estão escritas na língua deles.
Eles são os novos senhores.
Os amigos do Sr. engenheiro.
A par do Sr. Falcone... A este foi-lhe oferecido um cargo e passaporte diplomático.
Aos outros, que andam aos bandos, é-lhes oferecido a carne fresca das nossas meninas.
Impunemente.
Alegremente.
Com o olhar benevolente dos canalhas de fato e gravata.
Lá fora, no mundo civilizado sem povos especiais, caçam os pedófilos.
Aqui, criam e estimulam pedófilos.
Acham graça.
Qualidade de vida é coisa que o povo especial nem sabe o que é.
Nem quantidade de vida, uma vez que morremos cedo, assim que fazemos 40 anos.
Se vivermos mais um pouco, ficamos a dever anos à cova, pois não nos é permitida essa rebeldia.
E quem dura mais tempo, é castigado: ou tem parentes que o cuidem ou vai para a rua pedir esmola!
Importam-se carros.
E mais carros.
De luxo.
Esta é a imagem de marca deles: carros de luxo em estradas descartáveis, esburacadas.
Ah... e telemóveis!!!!
Qualquer Prado ou Hummer tem que levar ao volante um elemento com telemóvel.
Lá fora, no mundo civilizado sem povos especiais, é proibido o uso do telemóvel enquanto se conduz. Aqui é sinal de status, de vaidade balofa!!!!!!!!!!
Pobre povo especial.
Sem transportes, sem escolas, sem hospitais.
À mercê dos candongueiros, dos "dirigentes" e dos remédios que não existem.
Sem perspectivas de futuro.
Os nossos "amanhãs" já amanhecem a gemer: de fome, de miséria, de subnutrição, de ignorância, de analfabetismo, de corrupção, de incompetência, de doenças antes erradicadas, de ira contida, de
revolta recalcada.
O grito está latente.
Deixem-no sair: BASTA!!!!!!

Solange
Residente em Angola”