A trepadeira: Como dizia o outro, "a
melhor forma de assaltar um banco
é
geri-lo"
Noutro dia, um economista amigo, daqueles
que já não se fabricam,
alertava-me para a iminência de ocorrerem
no nosso mercado financeiro
novas implosões bancárias. Casos
semelhantes ao do BESA. Este foi o
primeiro a céu aberto. E, oxalá, a última
aventura. Mas isso, ninguém
garante. Ninguém! Nem por obra e graça do
Espírito Santo!
GUSTAVO COSTA
NOVO JORNAL
Retive, por isso, com muita atenção o novo
e providencial aviso do meu
amigo, porque não quero que o mercado volte
a ser apanhado com as calças
na mão...E quero, sobretudo, que este
professor universitário da velha
guarda, depois dos alertas que fez no
passado, venha agora, finalmente,
ser levado a sério.
Porque, ouvindo-o, talvez evitemos novos
terramotos financeiros. E,
desta forma, a explosão de novos produtos
tóxicos no nosso sistema
bancário. Até porque este é demasiado
volátil e os seus cofres estão
ensombrados com muitas teias de aranha.
Evaporam-se numa nebulosa que está a fazer
com que alguns bancos, com
cheques empoeirados, andem a afugentar
clientes. Angolanos e
estrangeiros. Quem vem de fora e acredita
no sistema, como nós
acredita(vá)mos, sente-se desacreditado!
Porque vê, como nós, os
escândalos entranharem-se nas suas artérias
bancárias. Porque vê, como
nós, depois, tudo ficar na mesma...
A partir daqui, instala-se um sentimento de
desconfiança dos cidadãos em
relação às instituições bancárias. O que é
grave. Gravíssimo! Porque uma
boa parte dos nossos funcionários bancários
não é, em muitos aspectos,
infelizmente, digna dos títulos que
ostenta. Chega mesmo a ser descarada
na pretensão de ser parte de um negócio
que, sendo dos clientes e dos
bancos, finge não saber que não lhe
pertence!
É claro que nem toda a gente se comporta
desta maneira mas, que há por
lá alguns "salgadinhos" à solta,
que acham que o dinheiro dos clientes é
para ser repartido pela maralha do balcão,
lá isso há! Toda a gente,
manipuladores e manipulados, sabe disso.
Mas, toda a gente, finge não
saber...
Como noutras fortalezas aparentemente
inexpugnáveis, por lá, em muitos
casos, também não se está a conseguir
proteger o trabalho, o
profissionalismo, a honestidade e a
transparência contra a ganância
financeira dalguns gangsters. Não havendo
essa protecção, assim não
vamos lá...Mas, se não vamos lá nós, é
preciso ter cuidado porque, eles
vêm até nós, com a ameaça de novas
implosões.
É claro que o meu amigo, com acesso a
informação privilegiada, não abriu
o jogo todo mas, pelo periclitante ritmo
dos batimentos cardíacos
dalguns bancos, não é difícil desconfiar o
que nos espera...Na mesma
medida em que, mantendo o segredo, todos
desconfiam onde possa residir o
segredo da desgraça dos clientes: aqui ou
lá fora, está na arte de gerir
os bancos...
Por isso é que, como dizia o outro, "a
melhor forma de assaltar um banco
é geri-lo"...E, sob essa extremosa
gestão, no meio da nata das nossas
finanças, que inclui economistas,
advogados, juristas, professores
universitários, auditores e o próprio BNA,
como entidade de supervisão,
tudo tem falhado!
Só se conhece o fim da boda, depois da
falência! Mas, até aí, nunca
ninguém sabe do paradeiro do BNA, que finge
nada ter descoberto a tempo
e horas.
É verdade que há sempre gente que pode
perder a inocência mas, essa
gente nunca ganha a culpa... É gente que
nos faz perceber que, como diz
o Henrique Monteiro, a melhor forma de
contribuir para a falência de um
banco é, afinal, não saber o que lá se
passa...
E porque não se quer saber? Porque alguns
dos nossos banqueiros são
vistos como criaturas divinas. Acontece que
essa divindade, que não é o
mesmo que virgindade, desmorona-se
facilmente como um baralho de cartas.
Basta vê-los confundirem-se com artistas,
que andam a tiracolo com uma
mala de cheques para os distribuir por toda
a gente.
E, não julguem que esses sujeitos se
parecem com gangsters. Nem pensar!
Comportam-se como ilustres CEO, que sabem
muito bem como funciona a
engrenagem da "lavandaria", em
Andorra, em Liechtenstein, no Luxemburgo
ou no Mónaco e, por maioria de razão,
aqui...
É um mundo em que, como diz Pacheco
Pereira, se sabemos mais, percebemos
menos. E se percebemos mais, sabemos
menos...E saberemos cada vez menos,
se do novo governador do Banco Nacional de
Angola, a imprensa
especializada e o empresariado local, não
conhecer a sua visão sobre o
que é primário num banco central: a
política monetária.
A banca comercial, sacudida com algumas
multas, num gesto simbólico que
pode vir (ou não) a merecer crédito,
aguarda o mesmo...
O que sabemos limita-se, afinal, à sua
integração na geração dos
chamados "novos talentos".
Sabemos, portanto, muito pouco, do muito que
se deveria conhecer de um governador do
BNA, cujo perfil distingue-se
por: não bastar ser um experimentado
técnico ou conhecedor dos
ziguezagues petrolíferos. Que o diga Amadeu
Maurício, antigo
vice-ministro do plano, depois de uma
passagem discreta pela Sonangol.
Também não bastar ser um alto funcionário do
Estado com a categoria de
vice-ministro da indústria. Que o diga
Abrãao Gourgel, protagonista de
uma presença algo deslocada naquele
edifício pombalino.
Não bastar ainda ser Ministro das Finanças.
Que o diga José Pedro de
Morais, que antes de o ser, fora Ministro
do Plano e, por mérito
próprio, conquistara assento no Board do
Fundo Monetário Internacional,
numa trajectória que, por si só, não
constituiu, à partida, uma
"garantia soberana" para tratar
"por tu" a gestão do BNA.
E, sem essa "garantia soberana",
nunca conseguiremos travar o
crescimento da trepadeira e proclamar o fim
da boda. Está à vista...
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