São
múltiplos os sinais de cansaço e esgotamento com o regime de José Eduardo dos
Santos que os angolanos vêm emitindo nas redes sociais. O Correio Angolense
selecionou uma destas mensagens de revolta incontida. Uma onda que já não é
possível travar, ou simplesmente assobiar para o lado, fingindo que não existe.
CORREIO ANGOLENSE
“Somos o povo especial escolhido do Sr.
engenheiro.
E como povo especial
escolhido por ele, não temos água nem luz na cidade.
Temos asfalto cada dia
mais esburacado.
Os que, de entre nós,
vivem na periferia, não têm nada.
Nem asfalto.
Só miséria, lixo,
mosquitos, águas paradas.
Hospitais?!!!
Nem pensar.
O povo especial não
precisa.
Não adoece.
Morre apenas sem saber
porquê.
E quando se inaugura um
hospital bonito e ficamos com a esperança de que as coisas vão mudar
minimamente, descobre-se que as máquinas são chinesas, com manuais chineses sem
tradução e que ninguém sabe operá-las...
Estas são opções
especiais para um povo especial.
Educação?!!
O povo especial não
precisa.
Cospe-se na rua (e
agora com os chineses, temos que ter cuidado para não caminharmos sobre
escombros escarrados de fresco...), vandalizam-se costumes, ignoram-se
tradições.
Escolas para quê e para
ensinar o quê?!!
Que o sr. engenheiro é
um herói porque fugiu ali algures da marginal acompanhado de outros tantos
magníficos?!!!
Que a Deolinda
Rodrigues morreu num dia fictício que ninguém sabe qual, mas nada os impediu de
transformar um dia qualquer em feriado nacional?!!!!
O embuste da história
recente de Angola é tão completo e manipulado que até mesmo eles parecem
acreditar nas mentiras que inventaram...
Se incomodarmos o Sr.
engenheiro de qualquer forma, sai a guarda pretoriana dele e nós ficamos
quietos a vê-los barrar ruas anarquicamente sem nos deixar alternativas para
chegarmos a casa ou aos empregos.
O povo especial nem
precisa ir trabalhar se resolvem fechar as ruas.
Se sairmos para almoçar
e eles bloqueiam as ruas sem qualquer explicação, só temos uma hipótese: como
povo especial não precisa de comer, dá-se meia volta de barriga vazia e
volta-se para o emprego.
E isto quando não
ficamos horas parados à espera que o Sr. Engenheiro e sua comitiva recolham aos
seus lares e nos deixem, finalmente circular. Entramos em casa às escuras e
saímos às escuras.
Tomamos banho de
caneca. Sim, bem à moda do velho e antigo regime do MPLA-PT do século passado.
Luanda, que ainda
resiste a tantos maus-tratos e insiste em conservar os vestígios da sua antiga
beleza, agora é violentada pelos chineses.
Sodomizada.
Sistematicamente.
Dia e noite.
Está exaurida, de
rastos, de cócoras diante dos novos "amigos" do Sr. engenheiro.
Eles dão-se, inclusive,
ao luxo de erguerem dois a três restaurantes chineses numa mesma rua. A ilha do
Cabo tem mais restaurantes chineses que qualquer outra rua
de qualquer outra
cidade ocidental ou africana: CINCO!!!!
A China Town instalada
em Luanda.
As inscrições que
colocam nos tapumes das obras em construção, admirem-se, estão escritas na
língua deles.
Eles são os novos
senhores.
Os amigos do Sr.
engenheiro.
A par do Sr. Falcone...
A este foi-lhe oferecido um cargo e passaporte diplomático.
Aos outros, que andam
aos bandos, é-lhes oferecido a carne fresca das nossas meninas.
Impunemente.
Alegremente.
Com o olhar benevolente
dos canalhas de fato e gravata.
Lá fora, no mundo
civilizado sem povos especiais, caçam os pedófilos.
Aqui, criam e estimulam
pedófilos.
Acham graça.
Qualidade de vida é
coisa que o povo especial nem sabe o que é.
Nem quantidade de vida,
uma vez que morremos cedo, assim que fazemos 40 anos.
Se vivermos mais um
pouco, ficamos a dever anos à cova, pois não nos é permitida essa rebeldia.
E quem dura mais tempo,
é castigado: ou tem parentes que o cuidem ou vai para a rua pedir esmola!
Importam-se carros.
E mais carros.
De luxo.
Esta é a imagem de
marca deles: carros de luxo em estradas descartáveis, esburacadas.
Ah... e telemóveis!!!!
Qualquer Prado ou
Hummer tem que levar ao volante um elemento com telemóvel.
Lá fora, no mundo
civilizado sem povos especiais, é proibido o uso do telemóvel enquanto se
conduz. Aqui é sinal de status, de vaidade balofa!!!!!!!!!!
Pobre povo especial.
Sem transportes, sem
escolas, sem hospitais.
À mercê dos
candongueiros, dos "dirigentes" e dos remédios que não existem.
Sem perspectivas de
futuro.
Os nossos
"amanhãs" já amanhecem a gemer: de fome, de miséria, de subnutrição,
de ignorância, de analfabetismo, de corrupção, de incompetência, de doenças
antes erradicadas, de ira contida, de
revolta recalcada.
O grito está latente.
Deixem-no sair:
BASTA!!!!!!
Solange
Residente
em Angola”
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