Canal de Opiniã. Por: Noé Nhantumbo
Nas convulsões de hoje as marcas indeléveis do
amanhã
Beira (Canalmoz) – Não nos acusem de pessimismo ou
que sejamos aves de mau agoiro. As peças do tabuleiro se juntam e torna-se
claro o que pretendem os que avançam com manobras dilatórias e de
entretenimento negocial.
As movimentações pelos eixos principais do país
apontam para a existência de uma tentativa de barricar as transformações políticas.
Numa atitude completamente desencontrada e sem
paralelo naquilo que costuma ser as práticas normais de governos na arena
internacional, o PR continua viajando pelo mundo quando em seu país os doentes
morrem de morte anunciada. A greve dos médicos é mais um daqueles resultados de
uma postura teimosa e arrogante de quem não quer governar auscultando e
debatendo o país real.
Se os médicos entraram em greve e durante o tempo
útil, não se viu o governo mexendo nos cordelinhos nem procurando descobrir
saídas que não penalizassem nem lesassem os cidadãos, o que será de um desfecho
inconclusivo e não consensual nas discussões que acontecem entre a Renamo e o
governo? Uma greve da Renamo o que significará em termos práticos?
A astúcia política que alguns dizem caracterizar o
PR pode ser muito perigosa para o país. Se as contas são de permanência no
poder a todo o custo e se a estratégia de empurrar a Renamo contra a parede e
daí declarar o estado de emergência teremos decerto guerra. Ou não será assim?
Não se pode negociar de boa fé sem que as partes não estejam preparadas para
ceder.
Processo de recenseamento eleitoral chamuscado de
irregularidades e equipamentos problemáticos não auguram nada de bom aos
pleitos eleitorais programados.
Que dizem os nossos parlamentares sobre a forma
como foi aprovisionado o equipamento para o processo de recenseamento? Que
dizem os habituais defensores do regime sobre o mesmo assunto? Quando se propõe
a utilização de mecanismos como a moção de censura ao nível do Parlamento e
precisamente para salvaguardar o interesse dos cidadãos moçambicanos.
Quem está a falhar na concepção e execução de um
programa credível de recenseamento de raiz não deve receber o benefício da
dúvida mas simplesmente colocado fora da máquina de administração eleitoral.
Seja camarada ou não os moçambicanos não estão na disposição de entrar para um
processo eleitoral ferido de lacunas e insuficiências graves.
Pertencer ao STAE e à CNE não deve ser trampolim
para empoderamento económico negro ou de qualquer outra cor.
O mais alto magistrado da nação, o PR, tem
obrigações inalienáveis de proteger os cidadãos, administrar a justiça e
promover os mais altos valores éticos e morais.
Infelizmente por diversas vezes não se vê aquela
equidistância necessária para a execução de alguns dos actos de sua
responsabilidade. Aparecer profundamente ligado ao seu partido e misturando a
agenda deste com a agenda do governo e do estado pesa no tipo de decisões que
toma.
Pelo que pode ver e analisar o modelo de governação
escolhido pelo partido no poder e sua liderança é exactamente o mesmo àquele da
I República em que o partido Frelimo era a força dirigente do Estado. É como
que uma cópia fiel do regime de partido único com algumas diferenças impostas
pelo AGP.
É de supor que a estratégia em aplicação seja de
conhecimento pleno de forças dissidentes no seio da Frelimo. Mas a balança do
poder não permite que se manifestem ou que contrariem com sucesso o jogo do
chefe. Perderam tempo enganando-se uns aos outros e ignorando sinais evidentes
de que seu chefe jamais compartilharia o poder. Agora se lançam como cegos
contra uma parede que se foi fortificando com o tempo.
As tais bases tanto proclamadas batem palmas e
juntam-se nos comícios de campanha programados meticulosamente.
Quem não tem medo do actual ambiente no país joga
na cegueira ou prevê vencer a todo o custo.
Multiplicam-se os sinais de esgotamento e
insatisfação social sem que as autoridades governamentais consigam encontrar
respostas efectivas às reclamações cada vez mais expressivas dos moçambicanos.
Apela-se à contenção e ponderação mas não se pode
exigir que todo um povo se veja condenado a uma morte lenta, ao aperto de
cintos sem fim enquanto uns poucos vão de banquete em banquete.
Não queremos ver o país mergulhar na instabilidade
e não estamos a ver sentido de estado e responsabilidade por parte de alguns
líderes políticos e governamentais.
A herança de alguns líderes de hoje será o que eles
quiserem hoje.
As convulsões sociais e políticas ocorrem com
frequência quando os líderes se tornam surdos e cegos… (Noé Nhantumbo)
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