O Fundo Monetário Internacional (FMI) acaba de
divulgar as perspectivas económicas mundiais de Outono e as notícias não são
boas.
A economia mundial vai crescer menos 0,2 pontos
percentuais (pp) do que o previsto este ano e no próximo, desacelerando para
3,3% e 3,6% respectivamente.
EXPANSÃO
A 'culpa' dos cortes no crescimento económico
mundial não morre solteira. O crescimento global reduziu-se no primeiro
semestre de 2015, reflectindo uma maior desaceleração das economias emergentes
e uma retoma mais fraca nas economias avançadas, justificam os técnicos da
instituição de Washington. As economias avançadas, que representam 42,9% do PIB
mundial, deverão crescer 2% este ano e 2,2% no próximo, menos 0,1 pp e 0,2 pp,
respectivamente, do que estava previsto.
Nas economias emergentes, que valem 57,1% da
economia global, o corte é de 0,2 pp nos dois anos, para 4%, em 2015, e 4,6%,
em 2016. O sincronismo entre os dois blocos coloca- -nos numa espécie de
orfandade económica mundial. Em meia dúzia de anos os BRICS, acrónimo de
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, passaram de bestiais a bestas. Na
sequência da crise financeira de 2008, foram apresentados como os salvadores da
economia mundial, face à letargia em que se encontravam as principais
economias.
A crise teve epicentro nos EUA, mas rapidamente
atravessou o Atlântico, contagiando a Europa, e chegou ao Pacífico,
nomeadamente ao Japão. Volvidos pouco mais de seis anos, com algumas feridas da
crise de 2008 ainda por sarar, os mesmos BRICS são apontados como os principais
culpados da degradação da situação económica mundial.
Em termos de dinâmica de crescimento, só a
Índia, a segunda economia mais pequena do quinteto, se salva. O crescimento
indiano vai estabilizar face ao ano passado nos 7,3% e acelerar 0,2 pp para
7,5% no próximo.
A China, vai desacelerar de um crescimento de
7,3% no ano passado para 6,8% este ano e 6,3% no próximo. A África do Sul vai
diminuir a passada em 0,1 pp por cada ano, passando de uma taxa de 1,5% em
2014, para 1,4%, em 2015, e 1,3%, em 2016. As duas primeiras letras do
acrónimo, Brasil e Rússia, registarão recessões este ano e no próximo. A
economia russa deverá recuar 3,8% em 2015 e 0,6% em 2016. Já a brasileira,
deverá contrair 3% e 1%, respectivamente. Apesar do (ainda?) apreciável
crescimento que vai registar este ano - praticamente o dobro da média das
previsões para Angola, que se mantiveram nos 3,5% este ano e no próximo -, é na
China que todos os olhos estão postos.
A desaceleração da segunda maior economia do
mundo não só constitui surpresa como era esperada e até desejada. A economia
chinesa está em transição para um novo padrão, com crescimento mais lento mas
também mais saudável e sustentável, resume FMI no comunicado de imprensa datado
de 14 de Agosto que anuncia a conclusão das consultas com o governo de Pequim
no âmbito do artigo IV dos estatutos da organização.
"Desde a crise financeira internacional, o
crescimento baseou-se num mix insustentável de crédito e investimento, o que
conduziu ao aumento do endividamento governamental e empresarial, à pressão
acrescida sobre o sistema financeiro e à redução da eficiência do
investimento", reforça o Fundo.
"Transitar para um modelo menos arriscado e
mais sustentável requer reverter as tendências recentes. Mas fazê-lo vai
reduzir a procura e inevitavelmente o crescimento no curto prazo", alerta
o FMI, acrescentando que "gerir o abrandamento é o principal
desafio". A agência de rating Fitch aponta para um "longo
período" de menor crescimento "bem abaixo" dos referidos 7%.
"A enorme dívida acumulada após a crise
financeira de 2008 e o sobreinvestimento no imobiliário residencial têm de ser
enfrentados, o que exercerá algum travão na economia durante vários anos",
justificam os analistas da agência. O travão chinês está a contagiar as
economias africanas, que foram mesmo as que registaram maiores cortes nas projecções
de crescimento para este ano e no próximo: 0,6 pp para 3,8% e 0,8 pp para 4,3%,
respectivamente.
É em Angola que os cortes no crescimento foram
maiores. Em Abril, o FMI previa que a economia nacional crescesse 5,5% em 2015
e 5,9%, em 2016 e agora aponta para 3,5% nos dois anos, menos 2 p.p. e 2,4
p.p., respectivamente. É neste quadro difícil que o Governo está a ultimar a
proposta de OGE para 2016. Esperemos o melhor, mas preparemo-nos para o pior.
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