No colégio de Sofia metade dos alunos
portugueses saiu. As empresas não têm como pagar os ordenados e até no Facebook
se tentam trocar kwanzas por dólares ou euros. Quem não pode mais, volta.
Sofia Ferreira está em Angola há quase cinco
anos. Vive em Viana, a cerca de 20 quilómetros de Luanda, onde é educadora num
colégio que a própria criou. “Quando abri o colégio a maioria dos alunos eram
portugueses. Hoje, a maioria são angolanos. O nosso ano letivo reabre, tal como
em Portugal, em setembro. Mantivemos muitos dos alunos portugueses inscritos
até aí, mas de setembro até agora muitos deles foram embora.”
OBSERVADOR.PT
126.356
Em 2013 eram 115.595 os portugueses registados
nos consulados portugueses em Angola. Em 2014 esse número subiu para os
126.356.
Por outro lado, se em 2009 entraram 23.787
portugueses em Angola, em 2014 foram somente 5.098. Antes, em 2013, tinham sido
um pouco menos: 4.651.
Observatório da Emigração
Muitos dos pais destes alunos trabalhavam na
construção civil, a maioria deles em construtoras portuguesas, como a Somage,
Mota-Engil, Teixeira Duarte ou Soares da Costa, garante Sofia. “Mas como
as obras públicas do Estado angolano pararam, as empresas tiveram que dispensar
trabalhadores, outros têm salários em atraso. E vão regressando.” Mesmo os que
continuam empregados também partem. “A maior parte dos trabalhadores
portugueses em Angola e que trabalharam, por exemplo, em empresas portuguesas e
de construção civil, tinham o ordenado depositado diretamente em Portugal, em
euros, e as ajudas de custo, na alimentação, no alojamento, eram pagas em
kwanzas em Angola. Agora é tudo pago em kwanzas. E por norma a transferências
demora uns dois meses a ser feita. Às vezes mais, dependendo dos bancos. E essa
espera não é compensadora.”
Antes, por lei, tínhamos direito a 10 mil
dólares por adulto e mais dois mil e 500 por criança. Mas há mais de um ano que
não viajamos com dólares. Não há nos bancos.
Sofia, dona de colégio
Houve mais mudanças. Muitos dos portugueses que
passaram a receber em kwanzas trocavam-nos por dólares no banco. E viajavam com
eles de cada vez que vinham (ou que tivessem quem viesse) a Portugal. “Sim, era
possível viajar com dólares. Até 10 mil por pessoa. Era necessário ir ao banco,
apresentar o bilhete de viagem, e dizer que se queria comprar dólares para
viajar. Antes, por lei, tínhamos direito a 10 mil dólares por adulto e mais 2
mil e 500 por criança. Mas há mais de um ano que não viajamos com dólares. Não
há nos bancos”, explica Sofia.
Comprar dólares na rua…
Mas havia. Nos bancos e nas ruas. “Em Angola,
quando cá cheguei há mais de quatro anos, havia tantos dólares quanto kwanzas a
circular. Por exemplo, se eu pagasse em kwanzas uma despesa, podia receber o
troco em dólares.” Agora, só nos kinguilas.
O que são os kinguilas? “Os kinguilas são
mulheres. Sobretudo mulheres. Parece que estão na rua a passear mas estão a
vender dólares. São quase como os traficantes de droga. Quem quer, sabe
sempre em que rua encontrá-los. E se pararmos os carros, vão logo a correr
perguntar se queremos dólares. Por norma, o câmbio é mais do dobro do que seria
nos bancos. E há portugueses que precisam mesmo do dinheiro e pagam. Mais vale
pouco que nada.”
247 milhões
Em 2014 os emigrantes portugueses em Angola
enviaram 247,960 milhões de euros em remessas para Portugal. Já bem menos que
os 304,330 milhões de 2013.
Pordata
No fundo, 0s kinguilas representam o mercado
paralelo de câmbio, mas é uma atividade aceite no país. “Aquelas pessoas estão
na rua, não se escondem da polícia. É um mercado que é tolerado. Com a
escassez de dólares, as pessoas recorreram ao mercado informal. É como o arroz.
Se há escassez de arroz, as pessoas vão comprá-lo ao mercado informal e vão
pagar o que os vendedores pedirem por ele.” Carlos Rosado de Carvalho é
jornalista económico em Luanda. E recorda que o negócio dos kinguilas esteve
quase a desaparecer, mas regressou com a saída do dólar de circulação no país.
“Quando a taxa de câmbio era boa não havia kinguilas”, salienta.
Se nos bancos 150 kwanzas compravam um dólar, na
rua são precisos 270 kwanzas para o mesmo valor de dinheiro.
O problema é que agora, mesmo na rua, os dólares escasseiam e são muito
caros. Se nos bancos 150 kwanzas compravam um dólar, na rua são precisos
270 kwanzas para o mesmo valor.O segundo problema é que o kwanza é “dinheiro de
monopólio”, como classificou ao Observador um português que trabalha em Luanda.
Os kwanzas só servem para usar em Angola, não se podem tirar de lá e não valem
em mais lado nenhum do mundo. “O que acontece é que as pessoas que têm
toda a sua vida aqui têm poucos problemas, pagam tudo em kwanzas. Pior é para
quem tem despesas para pagar em Portugal, porque não recebe nem dólares, nem
euros“, sublinha. E para quem está nesta situação, há duas hipóteses: ou espera
que os bancos façam o câmbio, e isso está a demorar entre 90 a 120 dias — enquanto há dólares para isso — ou troca os kwanzas na
rua e basicamente duplica o valor das suas despesas, uma vez que precisa de
duas vezes quase mais kwanzas para comprar o mesmo valor de dólares, tal como
fazia nos bancos.
E não são apenas os trabalhadores que tentam
arranjar dólares a alto preço. Os próprios empresários já recorrem ao
mercado paralelo para conseguirem fazer face às despesas que têm.Porque também
eles se vêem entre a espada e a parede, uma vez que muitos trabalhadores
portugueses têm contratos que prevêem que a maior parte do salário seja
transferida diretamente para Portugal. Então, novamente, das duas uma: ou os
donos das empresas esperam pelo tempo que os bancos demoram a efetuar as
transferências (os que ainda as fazem) — provocando atrasos nos salários que
vão dos 90 aos 120 dias — ou tentam trocar os kwanzas no mercado paralelo,
e basicamente um trabalhador passa a custar-lhes o dobro.
… ou no facebook
Mas os kinguilas, com a crise do petróleo e a
falta de divisas, não ressurgiram só nas ruas. Surgiram onde não tinham surgido
antes: nas redes sociais. Mais concretamente no Facebook. Há dólares,
euros – e tudo se troca, em Lisboa ou Luanda, por kwanzas.Estão ali, em grupos
privados e à distância de uma mensagem, os negociantes e os que procuram,
desesperadamente, quem negoceie consigo. E negoceiam-se desde centenas a
milhares de euros e dólares. Às claras.
80 mil com ordenados em atraso?
Angola foi, por anos a fio e durante a última
década, um paraíso para as empresas portuguesas investirem e para muitos
portugueses emigrarem em troca de salários que nunca iriam conseguir obter em
Portugal. Foi uma tempestade perfeita: a crise em Portugal convidava a sair; o
dinheiro que por cá escasseava, na petroeconomia angolana havia a rodos,
e o Estado angolano, com a economia em expansão, queria gastá-lo, queria
crescer. E crescer envolvia construir tudo o que anos e anos de Guerra Civil
destruíram ou impediram que se construísse.
Portugal é o segundo maior fornecedor
Portugal foi, em 2014, segundo dados do
International Trade Centre, o segundo maior fornecedor estrangeiro de Angola. A
quota de mercado portuguesa foi de 16,5%, só superada pela da China: 23,4%.
Por outro lado, as exportações portuguesas para
Angola entre janeiro e agosto de 2015 contabilizaram 874,6 milhões de euros.
Menos 12, 4% do que em igual período do ano passado.
INE - Instituto Nacional de Estatística
As construtoras civis disseram presente, tinham
a mão-de-obra qualificada, tinham os meios e o saber, e avançaram para Angola,
rapidamente e em força. Mas como qualquer petroeconomia, quando a cotação do
petróleo nos mercados cai, tudo se desmorona em seu redor. Foi o que aconteceu
nos últimos longos meses. As obras que deviam ter arrancado, não arrancaram. As
que se deviam ter concluído, não se concluíram e arrastam-se ad aeternum,
a conta-gotas. Mas o pior são os ordenados que não aparecem nas contas
bancárias em Portugal.
O Sindicato da Construção Civil em Portugal fala
em mais de 80 mil trabalhadores portugueses, só neste setor, com ordenados em
atraso. O número representa quase 40% de todos os trabalhadores nacionais da
construção civil em Angola.
O Sindicato da Construção Civil em Portugal
fala em mais de 80 mil trabalhadores portugueses, só neste setor, com
ordenados em atraso. O número representa quase 40% de todos os trabalhadores
nacionais da construção civil em Angola. O sindicato culpa a crise
petrolífera. Recorde-se que o barril de crude vale hoje 47 dólares (44 euros)
quando no ano passado, por altura da elaboração do orçamento do Estado de
Angola para 2015, estava a valer 81 dólares.
Albano Ribeiro, o presidente do Sindicato,
garante que “há situações muito, muito complicadas” nesta altura e fala de
“dois a seis meses” de salários em atraso. Em muitos dos casos, os
trabalhadores, afirma o sindicalista, “nem têm dinheiro para regressar a
Portugal de avião”. E outros há que “se vierem a casa pelo Natal, como vêm
quase sempre, não voltam a Angola de certeza”. Albano Ribeiro terá sido
contactado, segundo diz, por muitos destes trabalhadores, que pediram ajuda ao
Sindicato, mas ainda não se reuniu com as empresas, com quem já terá solicitado
o agendamento de reuniões.
Governo português acha 80 mil demais
Fonte governamental contactada pelo Observador
garante que nem a Embaixada Portuguesa em Angola nem o Ministério dos
Negócios Estrangeiros ou a Secretaria de Estado das Comunidades receberam
qualquer pedido de ajuda. “Mas o Governo tem procurado saber, através do
Ministério dos Negócios Estrangeiros, se são ou não 80 mil os portugueses em
dificuldades e como é que se chegou a esse número. Esse número não nos parece
ter fundamento”, refere a mesma fonte.
A primeira responsabilidade, garante, é de quem
emprega. “A primeira responsabilidade, se há ordenados em atraso, é das
empresas. Os trabalhadores se têm um contrato de trabalho, têm que valer-se
dele. É uma questão jurídica. Se tiverem dupla nacionalidade, como há muitos que
têm, é a lei angolana que prevalece. Se são portugueses e as empresas são
portuguesas, é a lei portuguesa. Mas não é uma competência do Governo. O
que podemos é fazer diligências consulares e diplomáticas. Não temos poderes
nas entidades empregadores. Nem nos trabalhadores.”
“Com a descida do petróleo as autoridades
angolanas disseram logo que isso ia ter consequências. O que ninguém esperaria
é que fossem consequências tão duradouras.”
Reis Campos, Confederação Portuguesa da
Construção e do Imobiliário
O presidente da Confederação Portuguesa da
Construção e do Imobiliário, Reis Campos, não desmente os números avançados
pelo Sindicato, mas garante que a crise no setor da Construção Civil não é nova
e que terá começado no primeiro trimestre do último ano. “Com a descida do
petróleo as autoridades angolanas disseram logo que isso ia ter consequências.
O que ninguém esperaria é que fossem consequências tão duradouras.”
Reis Campos fala em “reajustamento”, no caso das
maiores construtoras, e de “regresso” no caso das “milhares” de pequenas
empresas que trabalham no setor. “As empresas que foram para lá e sofreram logo
o impacto da crise do petróleo, voltaram. Essas decidiram logo voltar. Mas as
outras, as que tinham obras em curso que duram dois ou três anos, não voltaram.
O que não há é nenhuma empresa que tenha o mesmo número de pessoas que
tinha antes.”
Muitos trabalhadores saem de Angola porque não
lhes compensa fazer as conversões nos mercados informais. Perdem muito, muito
dinheiro. E as empresas também não conseguem converter kwanzas em dólares para
si mesmas.”
E os ordenados? Esse é outro problema. É que as
empresas deixaram de pagar em dólares e passaram a pagar ordenados somente em
kwanzas. “Tudo se complicou quando os trabalhadores não tiveram mais como
converter os kwanzas em dólares, quando este foi retirado de circulação nos
bancos. Muitos trabalhadores saem de Angola porque não lhes compensa fazer as
conversões nos mercados informais. Perdem muito, muito dinheiro. E as empresas
também não conseguem converter kwanzas em dólares para si mesmas. Não há
como pagar aos fornecedores fora de Angola em kwanzas.”
A fonte do governo garante que “há outro
problema” e que, esse sim está mais que confirmado. “O de haver empresas
portuguesas a operar em Angola que efetivamente não têm sido pagas pelo Estado
angolano. E, havendo essa dívida, elas não têm como pagar aos trabalhadores. Há
empresas nacionais com salários em atraso, como há empresas angolanas com
salários em atraso. E os empregados não conseguem receber nem retirar de
lá o dinheiro. Não conseguem.”
Em 2014 eram 9438 as empresas portuguesas a
operar em Angola. São mais 40 empresas do que em 2013.
INE - Instituto Nacional de Estatística
Apesar de tudo, Reis Campos não acredita num
regresso em massa das empresas e dos trabalhadores a Portugal. Até porque a
razão de estes terem ido para Angola foi precisamente a crise portuguesa. “Não
haverá uma debandada das empresas. As empresas foram para lá com uma visão de
futuro, uma ótica de longo prazo e a maioria tem aguentado. Esperam que isto dê
uma volta. Nós não nos podemos esquecer que as empresas foram para lá porque
tinham problemas cá. O setor decresceu 43,8% nos últimos cinco anos. E perdeu
36 mil empresas e 262 mil trabalhadores. O que as empresas me dizem é que têm
uma perspetiva positiva. As empresas manifestam uma vontade de continuar.
Têm confiança neste mercado. Acham que é uma situação anómala, mas que é
transitória. São empresas que estão há muitos anos em Angola.” Mas deixa um
aviso: “Se estivermos numa situação destas muito tempo, que é desgastante
todos os dias, podemos chegar a uma conclusão diferente.”
Por que deixou de haver dólares em Angola?
“Angola não comprava dinheiro diretamente à
Reserva Federal norte-americana. Os bancos angolanos não têm acesso ao Bank of
America. O que acontecia é que os americanos vendiam notas ao First Rand,
um banco sul-africano, que por ser vez as vendia aos bancos angolanos. E o Bank
of America informou o First Rand que não podia vender mais notas a Angola.
Angola importava cinco mil milhões de dólares anualmente desde 2011. Em 2014
foram quatro mil milhões. Havia mais dólares do que kwanzas em
ciruculação. E havia quem se aproveitasse de tantos dólares em circulação para
os comprar. Foi por isso que o Bank of America, com receio de ser multado
pela Reserva Federal, fechou a torneira. Diz-se que muito do dinheiro que
chegava a Angola era intercetado no Médio Oriente. E podia estar a financiar o
terrorismo”, explica Carlos Rosado de Carvalho, jornalista de economia em Luanda.
Esta interrupção no fornecimento de dólares é
consequência de uma decisão da Reserva Federal dos Estados Unidos,
que suspendeu a venda de dólares a bancos sediados em Angola por
considerar que havia uma sistemática violação das regras de regulação do sector.
Terão sido também detetadas práticas de branqueamento de capitais, envolvendo
somas anuais de milhões de dólares.
"95 por cento das exportações de Angola
advêm do petróleo. Há uma petrodependência. Mas isso não é uma doença. Se nós
temos febre, tem que haver uma causa para a febre. E a causa da febre é a falta
de concorrência na economia angolana. Não há diversificação."
Carlos Rosado de Carvalho, jornalista em Angola
Carlos Rosado de Carvalho prefere ser optimista
e vê aqui uma chance para “desdolarizar” a economia. “Não havia razão para
importar tantos dólares.” Mas mais do que de dólares, a economia angolana está
dependente de petróleo como de pão para a boca. “O petróleo, quando estava a
100 dólares o barril, representava entre 70 a 80% das receitas do Estado. Se
cai para metade isso tem que ter consequências gravíssimas, porque 95 por
cento das exportações de Angola advêm do petróleo. Há uma
petrodependência. Mas isso não é uma doença. Se nós temos febre, tem que
haver uma causa para a febre. E a causa da febre é a falta de concorrência na
economia angolana. Não há diversificação.”
O jornalista aponta soluções. Mas são soluções
que demoram décadas, não meses. “A economia de Angola depende no curto prazo da
evolução do preço do petróleo. Se o petróleo não aumentar a economia não
avança. No médio-longo prazo é preciso diversificar a economia para outros
setores. As políticas de diversificação que têm sido propostas não têm
resultado. Angola tem tudo: agricultura, agro-indústria, indústria, minerais como
o ferro e não só diamantes, e é tempo de os empresários escolherem. O desafio
de Angola é transformar o potencial em realidade. Mas enquanto o preço do
petróleo não aumentar as coisas não vão melhorar.”
Turismo angolano em Portugal vale milhões
Em 2015, os turistas angolanos gastaram 401,1
milhões de euros em Portugal. No ano anterior foram 377,6 milhões, o que
representa uma variação de 6,2%.
Banco de Portugal
Carlos vê no regresso dos portugueses, não só da
construção civil mas de todas as áreas, não só um problema do petróleo, mas
também da falta de divisas. “Há pessoas que não têm que regressar. Pessoas que
até têm emprego. Mas estão a ganhar em kwanzas e não têm como transferir o
dinheiro para os países de origem. Os canais bancários não se fazem ou são
muito demorados. Mas têm a sua vida normal cá e podem ir ao mercado informal
comprar dólares. Mas indo ao mercado não lhes compensa estar em Angola. No
mercado informal estão a pagar o dobro do que pagariam no banco. O kwanza
não é uma moeda transferível. Nem para Portugal, nem para Espanha, nem para
país nenhum.”
E não são apenas os trabalhadores que tentam
arranjar dólares a alto preço. Os próprios empresários já recorrem ao
mercado paralelo para conseguirem fazer face às despesas que têm.Porque também
eles se vêem entre a espada e a parede, uma vez que muitos trabalhadores
portugueses têm contratos que prevêem que a maior parte do salário seja
transferida diretamente para Portugal. Então, novamente, das duas uma: ou os
donos das empresas esperam pelo tempo que os bancos demoram a efetuar as
transferências (os que ainda as fazem) — provocando atrasos nos salários que
vão dos 90 aos 120 dias — ou tentam trocar os kwanzas no mercado paralelo,
e basicamente um trabalhador passa a custar-lhes o dobro.
… ou no facebook
Mas os kinguilas, com a crise do petróleo e a
falta de divisas, não ressurgiram só nas ruas. Surgiram onde não tinham surgido
antes: nas redes sociais. Mais concretamente no Facebook. Há dólares,
euros – e tudo se troca, em Lisboa ou Luanda, por kwanzas.Estão ali, em grupos
privados e à distância de uma mensagem, os negociantes e os que procuram,
desesperadamente, quem negoceie consigo. E negoceiam-se desde centenas a
milhares de euros e dólares. Às claras.
80 mil com ordenados em atraso?
Angola foi, por anos a fio e durante a última
década, um paraíso para as empresas portuguesas investirem e para muitos
portugueses emigrarem em troca de salários que nunca iriam conseguir obter em
Portugal. Foi uma tempestade perfeita: a crise em Portugal convidava a sair; o
dinheiro que por cá escasseava, na petroeconomia angolana havia a rodos,
e o Estado angolano, com a economia em expansão, queria gastá-lo, queria
crescer. E crescer envolvia construir tudo o que anos e anos de Guerra Civil
destruíram ou impediram que se construísse.
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