quinta-feira, 7 de maio de 2015

Alves da Rocha. Casa roubada, trancas à porta: a propósito da correria para a diversificação


Nada como um bom susto para pôr as pessoas a pensar, a agir e a correr. Finalmente, percebeu-se que as receitas do petróleo deixarão de ser eternas, ainda que se mantenham, felizmente, por mais um bom par de anos. Só que não com a mesma dimensão.
E a esperança da diversificação acelerada estava no seu financiamento através das receitas petrolíferas.

ALVES DA ROCHA
EXPANSÃO

Agora - como de resto afirmei já numa crónica neste semanário de Janeiro do corrente ano - é que pode ser a grande oportunidade para uma diversificação séria da economia.
Vai-me dizendo a experiência de tantos anos na investigação desta matéria que há uma boa e uma má diversificação. A boa é a que se centra num modelo de competitividade de altos salários e elevada produtividade.
É o modelo que funciona em contextos de economias abertas e de globalização crescente das forças produtivas nacionais. A má diversificação é alicerçada em salários baixos, produtividades incompetitivas e num mercado doméstico fechado e protector de interesses das elites económicas e políticas.
A mais-valia retirada é à custa da exploração da força de trabalho, impreparada para resistir a estratégias empresariais de obtenção de lucro fácil e rápido. Um ponto essencial para o sucesso de um processo de diversificação da economia é o mercado.
Não havendo mercado com dimensão adequada, é impossível chegar a uma situação em que os sectores de enclave tenham uma representação relativa no Produto Interno Bruto menos demolidora. São, via de regra, apontados dois modelos de diversificação económica.
Um acentua a substituição das importações como a melhor forma para reequilibrar a estrutura do PIB. O outro centra a alteração da estrutura produtiva na abertura da economia e no fomento das exportações. São duas perspectivas muito diferentes.
A promoção das exportações tem na concorrência internacional a sua força-motriz, enquanto a substituição das importações elege a protecção (aduaneira e mesmo não aduaneira) como o factor essencial para o lançamento de novas actividades produtivas.
A concorrência internacional incentiva o investimento, a inovação, os ganhos de produtividade, a aprendizagem e a adopção de novas tecnologias. Mesmo em contextos mais adversos, como o da economia angolana, saída de um longo conflito militar devastador e arrasador, a abertura económica tem enormes vantagens, necessitando, obviamente, de certas medidas de apoio e enquadramento.
A substituição de importações, como estratégia de crescimento económico, foi utilizada por alguns países - dentre eles, determinadas economias hoje desenvolvidas - em fases especiais do seu processo de desenvolvimento. Uma das medidas de combate contra os efeitos da grande depressão económica de 1929-33 usadas pelas economias mais avançadas da época foi a do levantamento de barreiras alfandegárias para protecção das indústrias nacionais da concorrência externa. Já a mitigação dos efeitos perversos da II Guerra Mundial foi a razão.


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