terça-feira, 1 de julho de 2014

O Laboratório do General Zé Maria e o Agente Português







Há já vários meses, o chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM), general António “Zé” Maria, tem vindo a liderar um laboratório de ideias com vista a criar um clima de instabilidade no seio das Forças Armadas Angolanas (FAA), de modo que justifiquem purgas. Esta estratégia é conhecida como “a purificação das FAA”.
A iniciativa visa igualmente implementar manobras de distracção diante do agravamento da situação socioeconómica da maioria dos cidadãos e da notória incapacidade de resposta do governo. Pela mesma via, procura-se desviar as atenções sobre a grande incerteza que paira no seio do MPLA e da sociedade acerca da reforma do presidente José Eduardo dos Santos.
Segundo apurou o Maka Angola junto de círculos castrenses, o laboratório conta com a activa participação triangular do adjunto do chefe de Estado-Maior General para a Educação Patriótica, general Egídio de Sousa Santos “Disciplina”, e do responsável pelo Gabinete de Estudos de Segurança da Casa de Segurança do presidente da República, tenente-general João António Santana “Lungo”.
A estratégia fundamental do triunvirato é forçar a conotação dos generais oriundos da UNITA, ao abrigo dos Acordos de Paz, com a direcção política da UNITA e promovê-los como uma ameaça permanente à manutenção do poder do MPLA, sobretudo na era pós-Dos Santos.
O actual chefe de Estado-Maior General das FAA (CEMGFAA), general Geraldo Sachipengo Nunda, é o principal visado da campanha de intrigas. O general Nunda desertou da UNITA em 1993, juntou-se às forças governamentais e foi instrumental na destruição da máquina de guerra do seu antigo comandante-em-chefe, Jonas Savimbi.
Segundo informações difundidas pelo referido laboratório ao nível das FAA, o general Nunda tem estado a privilegiar a formação e promoção de oficiais provenientes da UNITA, com o objectivo de controlar efectivamente o exército e, desse modo, facilitar a tomada do poder pela via militar.
O SISM já afastou das suas estruturas de relevo os oficiais oriundos da UNITA. Por outro lado, ao arrepio da Constituição, que estabelece o apartidarismo das FAA, o general Zé Maria tem organizado e presidido assembleias regulares do MPLA, nas instalações do SISM, nas quais todos os oficiais são obrigados a participar, sob pena de serem sancionados como desleais. “Aqui temos de ser puros”, tem afirmado o general nas referidas reuniões partidárias.

Os generais “provenientes”, como são chamados nas FAA, já manifestaram de forma vigorosa o seu descontentamento junto do presidente da República.
Na última reunião do Conselho de Estados-Maiores, que decorreu no Comando da Marinha de Guerra de Angola, em Luanda, o conselheiro do CEMGFAA, general Isidro Peregrino Chindondo Wambu, tomou a palavra e manifestou a sua indignação. “Chefe, precisamos de saber se, nas FAA, ainda estamos juntos ou não” - assim intimou Wambu o seu superior, general Nunda.
A resposta do general Nunda foi pedir paciência ao seu conselheiro. Nunda falou sobre a gravidade das intrigas que visam a instabilidade política no seio das FAA e referiu-se à ausência, no encontro, dos seus promotores. “O caso já está na mesa do presidente da República”, concluiu o CEMGFAA.
Para além do clima de intrigas, o descontentamento entre os oficiais oriundos da UNITA é agravado pelo regime severo de vigilância a que estão sujeitos pelo SISM e a aberta partidarização das FAA por generais que se identificam enquanto líderes do MPLA, como o próprio Zé Maria. O general Egídio de Sousa e Santos “Disciplina”, por exemplo, chegou a acumular, durante vários anos, altas funções nas FAA com o cargo político de membro do Comité Central do MPLA.
Três generais têm merecido atenção especial por parte do SISM, nomeadamente o general Wambu, conselheiro do general Nunda; o general Arlindo Samuel Kapinala “Samy”, presidente da Comissão Superior de Disciplina Militar (CSDM) do EMGFAA; e o general Vasco Mbundi Chimuco, actual conselheiro do comandante do Exército para Obras e Infra-Estruturas do EMGFAA. O general Wambu, antigo chefe da secreta militar da UNITA, integrou as FAA em 1992, ao abrigo dos Acordos de Bicesse. Por sua vez, os generais Samy e Chimuco foram dois dos mais importantes cabos de guerra de Jonas Savimbi, até à sua morte em combate, no Moxico, em 2002. O general Samy desempenhou o cargo de chefe do Estado-Maior Adjunto do Alto Estado Maior General da FALA, ao passo que o general Chimuco foi o comandante da Região Militar 57, no Moxico. Ambos ingressaram nas FAA na sequência dos Acordos do Luena, datados de 2002.
Na primeira semana de Maio, o chefe da Casa de Segurança do presidente da República, general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, orientou uma reunião sobre os supostos actos de conspiração dos generais “provenientes” da UNITA com vista à tomada de poder. Maka Angola soube de fonte segura que o general Kopelipa terá manifestado o seu repúdio ao rol de intrigas concebidas pelo referido laboratório, sem que os seus promotores as pudessem sustentar com provas.

Em causa estão as eventuais consequências negativas associadas à iniciativa dos teóricos da “purificação das FAA”, que podem prejudicar a unidade e coesão das FAA, bem como o clima de paz e a reconciliação nacional.
O general Kopelipa tem apoiado a gestão do general Nunda, com quem mantém uma relação de grande proximidade ao nível dos negócios e a quem trata por “compadre”.  
Por sua vez, a 21 de Maio passado, o presidente da República, na qualidade de comandante-em-chefe das FAA, procedeu à nomeação de 52 oficiais generais. De entre estes, apenas três são oriundos da UNITA: tratam-se dos generais Vasco Mbundi Chimuco e Amadeu Norberto Chapanga Chiteculo, nomeados, respectivamente, para os cargos de conselheiro do Comandante do Exército para Obras e Infra-Estruturas do EMGFAA e chefe-adjunto da Direcção de Preparação Combativa e Ensino da Força Aérea Nacional; o presidente promoveu ainda Tiago Muekalia, que ingressou nas FAA ao abrigo dos Acordos de Bicesse, em 1992, ao grau de brigadeiro, depois de 22 anos com a patente de coronel. Ou seja, José Eduardo dos Santos nomeou o brigadeiro Muekalia para exercer o cargo de Inspector da Direcção Principal de Logística do EMGFAA.
As pressões do laboratório visam forçar o afastamento do general Nunda do cargo de CEMGFAA, ou obrigá-lo a pedir demissão.

O Escriba do General Zé Maria


Como parte da cabala, o general Zé Maria conta com os serviços de um agente português para a criação de um estado de opinião pública favorável aos desígnios do seu grupo: a incitação ao ódio.
Trata-se do cidadão Artur Queirós, que tem repartido o seu tempo de trabalho entre o diário estatal Jornal de Angola e a sede do Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM).
No SISM, Artur Queirós recolhe o material e o poder para os textos incendiários que tem escrito, usando-os a favor da campanha de diabolização da UNITA.
A ideia fundamental, como se verificou em ocasiões anteriores, é esbater a falta de popularidade do presidente, tanto no seio do MPLA como na sociedade em geral, já que cada vez mais é considerado um monarca despótico e desprovido de sentimentos para com a população. Assim, apresenta-se a UNITA como o inimigo comum e, consequentemente, alerta-se para a premência de unidade entre os sectores desavindos do MPLA e da população contra essa alegada ameaça latente.
Por outro lado, o general Zé Maria também delegou outro tipo de poderes a Artur Queirós, que lhe serve como “escritor fantasma” na composição de um livro sobre a Batalha do Cuíto-Cuanavale.
Através deste livro, o general Zé Maria, que se apresentará como autor exclusivo da obra, visará três objectivos.
Primeiro, elevar a figura do presidente José Eduardo dos Santos, promovendo-o como um comandante-em-chefe cuja visão política e estratégia militar mudou o curso da história em África. Numa das suas mensagens laudatórias ao presidente, em 2010, o general Zé Maria descreveu-o como um “génio militar”, “Pessoa de Bem, Defensor do Povo, Protector do Estado e o Melhor de todos nós” 
Segundo, retirar qualquer mérito à intervenção militar cubana, que foi a chave para travar o avanço da UNITA e das forças sul-africanas sobre o Cuito-Cuanavale, após terem impedido a ofensiva governamental sobre Mavinga. Em Março passado, o governo cubano declinou participar nas comemorações  sobre a Batalha do Cuíto-Cuanavale, ocorrida em 1988. Segundo fonte oficiosa, Cuba considera um acto de desonestidade e ingratidão o modo como o governo do presidente José Eduardo dos Santos, através do general Zé Maria, se tem engajado na negação dos factos históricos.
Finalmente, a estratégia visa reduzir a UNITA à insignificância política e militar, sujeitando-a a purgas de modo a alcançar a sua total submissão.
Não há, de momento, informações disponíveis acerca do que pensa o presidente Dos Santos e qual a sua decisão sobre a maka da “purificação das FAA”, que de resto se encontra na sua mesa de trabalhos.

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