Rafael Marques
de Morais
MAKAANGOLA
A 8 de Setembro de 2014, efectivos da
empresa privada de segurança K&P Mineira foram secretamente filmados a
torturar dois garimpeiros, assestando-lhes com a face da catana nas nádegas e
nas plantas dos pés.
Como se vê nas imagens (http://youtu.be/E9e7w2gxHiM),
os garimpeiros são torturados num posto de observação da referida empresa, na
comuna do Luremo, dentro da concessão diamantífera da Luminas.
Um dos torturadores trata, várias vezes,
a sua vítima, um cidadão da República Democrática do Congo, como “cão de
merda”, “vai morrer, cão de merda”. O garimpeiro implora “pardon [perdão]”.
Desde 2004, o jornalista Rafael Marques
de Morais tem produzido vários relatórios sobre a violação sistemática dos
direitos humanos nas Lundas. A tortura da catana é um método padrão, que tem
sido utilizado na perseguição aos garimpeiros pela Alfa-5, Teleservice, Bicuar,
a K&P e por efectivos das Forças Armadas Angolanas. Não obstante as
denúncias, a verdade é que os abusos e a impunidade fazem lei, por ordem ou
omissão dos detentores do poder.
Para que se compreenda melhor o poder da
K&P e a falsidade do discurso oficial sobre o combate ao garimpo, no seu
relatório “Operação Kissonde: Os Diamantes da Humilhação e da Miséria”, o referido
jornalista escreve:
“A K&P Mineira exerce um duplo papel
ao prestar serviços à Sociedade Mineira Luminas e, ao mesmo tempo, à Sodiam/LKI
e Ascorp. No primeiro caso, tem a missão de expulsar os garimpeiros da área de
concessão da Luminas, fazendo-o com total arbitrariedade e violência. No
segundo caso, protege e acompanha a Sodiam/LKI e a Ascorp no agenciamento e
patrocínio dos garimpeiros, bem como nas transacções com estes.”
Passados oito anos, tudo permanece na
mesma. A Lazar Kaplan International (LKI) retirou-se de Angola, devido ao termo
da sua parceria com a Sodiam, a empresa do Estado angolano criada para a
comercialização de diamantes.
A K&P Mineira tem como sócios altas
patentes da Polícia Nacional, nomeadamente: o comissário Elias Dumbo Livulo,
comandante provincial da Polícia Nacional no Huambo; o comissário-chefe Eugénio
Pedro Alexandre, director nacional da Direcção Nacional de Investigação
Criminal (DNIC); o comissário Alfredo Eduardo Manuel Mingas “Panda”, embaixador
em São Tomé; o comissário José Alfredo “Ekuikui”, ex-comandante-geral da
Polícia Nacional.
Em 2013, Arkady Gaydamak, traficante de
armas russo-israelita, declarou em tribunal, em Londres, ter sido o fundador da
K&P, com o auxílio de antigos operativos da Mossad, os serviços secretos
israelitas.
“Eu criei, com a assistência do então
comandante-geral da Polícia Nacional, o general Qwekee [comissário Ekuikui],
uma empresa de segurança denominada K&P, que era apoiada e treinada por
oficiais de inteligência israelita da minha empresa SCG. A segurança da Ascorp
continua a ser garantida pela K&P”, afirmou Gaydamak no tribunal londrino.
Por sua vez, a sociedade mineira Luminas
é um consórcio entre o magnata russo-israelita Lev Leviev (51 por cento), a
Endiama (38 por cento) e o deputado do MPLA general António dos Santos França
“Ndalu” (11 por cento).
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