Colonizadores colonizados
Empresas de
Brasil e Angola multiplicam suas operações
Água, luz e
muitos hospitais portugueses caíram nas mãos de chineses
Chineses, brasileiros e angolanos
protagonizaram as mais
recentes e maiores aquisições de empresas portuguesas. Ficaram para trás os
anos da invasão espanhola e, portanto, o receio em relação ao país
vizinho. Hoje, a água, a eletricidade e os hospitais portugueses caíram nas
mãos de chineses.
A China Three Gorges pagou 2,7 bilhões
de euros (8,6 bilhões de reais) por 21,3% da elétrica EDP; o grupo Fosun, do
mesmo país, assumiu o controle da Fidelidade, seguradora líder de mercado,
pagando 1,01 bilhão de euros (3,2 bilhões de reais) e há um mês deu outro
passo, ao desembolsar 480 milhões de euros (1,5 bilhão de reais) pela Espírito
Santo Saúde, que administra cerca de 20 centros hospitalares no país.
A State Grid, outra estatal chinesa,
comprou 25% da Red Eléctrica Nacional (por 387 milhões de euros, ou 1,2 bilhão
de reais) —depois o grupo Fosun adquiriu outros 5%—, e a Beijing Enterprises
Water Group, de Pequim, adquiriu por 95 milhões de euros (304 milhões de reais)
a Veolia, empresa de abastecimento de água de Portugal. Em três anos, a China
gastou 5,38 bilhões de euros (17,2 bilhões de reais) na aquisição de empresas
portuguesas; em termos de volume, Portugal é o quarto país europeu com
investimentos chineses, mas o primeiro em proporção à sua população.
O Brasil também colocou seu antigo
colonizador no radar. A Camargo Corrêa comprou a Cimpor por mais de 5 bilhões
de euros; dois anos antes de a operadora Oi usar a PT como moeda de troca para
levantar fundos e adquirir a subsidiária brasileira da Telecom Italia, e assim
se consolidar em seu país de origem.
Se os investidores chineses se
concentraram em serviços básicos, os
angolanos preferiram o mundo financeiro e os meios de comunicação. Em
Portugal, se consolidaram com sucursais de seus próprios bancos (BIC,
Atlântico, BAI, BANC e BNI), mas também entraram como acionistas de
instituições locais. Uma parceria da filha
do presidente de Angola, Isabel dos Santos, tem uma participação de 10% no
BPI; e a Sonagol, petrolífera estatal africana, possui uma fatia de 20% do BCP,
além disso controla a petrolífera portuguesa Galp. Dos Santos também tem uma
elevada participação na operadora NOS, líder em TV por assinatura, e agora
disputa a PT.
No setor de mídia, os fundos angolanos
também são donos do grupo Controlinveste (Diario de Noticias, Jornal de
Noticias, rádio TSF e o jornal de esportes O Jogo), e já
manifestaram interesse pela estatal Rádio e Televisão de Portugal, caso seja
privatizada.
Os angolanos, que desembarcam nos fins
de semana em Lisboa para fechar as lojas de luxo da avenida Liberdade, os
chineses, mais discretos, e os brasileiros são hoje os colonizadores da antiga
metrópole. Portugal começa a ver a Espanha com menos receio do que antes, e os
espanhóis olham os portugueses com menos arrogância, solidários diante de suas
semelhantes dificuldades.
Imagem: Consumidores entram em
supermercado chinês em Lisboa. / Mario
Proenca (Bloomberg)
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