Há cerca de oito meses defendi nesta coluna um
kwanza mais fraco para uma economia mais forte.
O racional era simples: Ao tornar os produtos
estrangeiros mais caros, a desvalorização do kwanza abre oportunidades de
investimento aos produtores nacionais. Mais investimento gera mais emprego,
além de ajudar a diversificar a economia.
Carlos Rosado de Carvalho
EXPANSÃO
A taxa de câmbio é o preço da moeda estrangeira
em unidades de moeda local. Numa economia de mercado, o preço de qualquer bem
ou serviço, desde as bananas, às limpezas domésticas, passando pelas divisas, é
determinado pela procura e oferta. Diz a lei da procura e a oferta que, quando
a procura aumenta e a oferta diminui, os preços sobem, e vice-versa. A
subida/descida de preços modera/incentiva a procura e volta-se ao equilíbrio.
Em Angola, no mercado cambial oficial, como o preço é administrado pelo BNA, a
lei da oferta e da procura não se aplica.
Há sete anos, aquando do choque petrolífero de
2008, o banco central resistiu em desvalorizar o kwanza. O resultado foi uma
sangria desproporcionada das reservas de divisas que obrigou o País a bater à
porta do Fundo Monetário Internacional (FMI). Para libertar o empréstimo de
ajuda à balança de pagamentos de Angola, a instituição pôs como condição a
desvalorização do kwanza, e o BNA não teve outro remédio senão seguir o
conselho dos homens de Washington.
Desta vez, o BNA já deixou o kwanza desvalorizar
cerca de 20%. É um progresso mas não sei se chega. O enorme diferencial entre a
taxa de câmbio oficial e a das kinguilas, supostamente mais próxima do mercado,
sugere que o kwanza pode enfraquecer mais. Digo "supostamente" porque
o mercado informal de divisas tem pouca liquidez e qualquer acréscimo de
procura, ainda que pequeno, faz disparar o dólar.
O certo é que o BNA tem resistido em
desvalorizar ainda o kwanza com medo que a inflação aumente. Os receios são
fundados. Quando uma moeda desvaloriza, os produtos estrangeiros tornam-se mais
caros. Numa economia, como a angolana, que compra fora uma parcela
significativa do que consome, a subida da inflação torna-se inevitável.
Embora menos famosa do que a lei da procura e da
oferta, a curva de Phillips, desenvolvida pelo neozelandês William Phillips,
ensina-nos que, no curto prazo, existe um trade-off entre inflação e
desemprego. Em termos simples, isso quer dizer que, para termos mais emprego no
curto prazo, temos de aceitar mais inflação, e vice-versa. Parece-me ser esta a
situação em que se encontra a economia angolana.
Ao tornar os produtos estrangeiros mais caros,
um kwanza mais fraco abre oportunidades de investimento ao feito em Angola.
Mais investimento gera mais emprego. Como esse investimento será fora do
petróleo, isso ajuda à diversificação da economia e à redução da
petrodependência. Cabe às autoridades angolanas decidirem o que fazer: insistir
na defesa do kwanza ou deixá-lo enfraquecer ainda mais.
Como há oito meses atrás, eu já escolhi: Para
uma economia mais forte, eu voto num kwanza mais fraco... Não quero com isso
dizer que a desvalorização é a panaceia para todos os problemas da economia
angolana. Não é. Mas pode ajudar.
Com quebra de mais de 50% das exportações, não
angariamos dólares suficientes para financiarmos as exportações a que nos
habituamos. Por isso não nos resta outra alternativa senão comprar produtos
estrangeiros na medida das nossas capacidades e não das nossas necessidades.
Nem a recente subida da inflação me fez mudar de ideias acerca dos benefícios
do kwanza fraco.
Há muito que sei que em economia não há almoços
grátis. Depois de três anos estacionada abaixo dos 10%, a inflação homóloga
voltou a escrever-se com dois dígitos no mês passado. E não deverá ficar por
aqui. Sucede que a inflação é uma espécie de imposto escondido. Quando os
níveis de inflação são elevados, os aumentos dos salários não acompanham o
ritmo de crescimento dos preços, corroendo o poder de compra dos trabalhadores.
Ou seja, tal como o imposto sobre os rendimentos
do trabalho, a inflação acaba por reduzir o rendimento real de quem vive do
salário. É precisamente este o risco que correm os trabalhadores angolanos. Mas
não podemos tratar todos da mesma forma. A dieta forçada a que estão sujeitos
não permite ao Estado e a um grande número de empresas aumentarem os salários.
Não sendo possível repor o poder de compra a todos, creio ser de elementar
justiça actualizar o salário mínimo de acordo com a inflação.
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