terça-feira, 15 de setembro de 2015

Quase sete mil funcionários já perderam emprego este ano


As empresas de construção civil são as que mais despediram trabalhadores, com um total de 6.500, seguidas das do sector de comércio e serviços, com cerca de 343, e das do ramo da indústria, com 91 desempregados.

Osvaldo Manuel
EXPANSÃO

Um total de 6.934 é o número de funcionários já despedidos, no sector empresarial público e privado do País, desde o início do ano, em consequência da crise económica e financeira provocada pela queda do preço do petróleo no mercado internacional, que a União Nacional dos Trabalhadores Angolanos-Confederação Sindical (UNTA-CS) tem registado.
As empresas de construção civil são as que mais despediram trabalhadores, com um total de 6.500, seguidas das do sector de comércio e serviços, com cerca de 343, e das do ramo da indústria, com 91 profissionais desempregados, indica Manuel Viage, secretário-geral da UNTA-CS, em entrevista ao Expansão. "Penso ser fundamental o Estado manter as despesas públicas, no sentido de garantir o emprego ao cidadão, porque viver numa sociedade onde o custo de vida é cada vez mais alto e estar desempregado é uma catástrofe para as famílias", defendeu o líder sindical.
Manuel Viage apontou os atrasos que se verificam nos pagamentos aos empreiteiros por parte do Estado como um dos principais motivos dos despedimentos no sector da construção civil. Acrescentou que a construção é o sector que mais depende dos pagamentos do Estado, sendo que "esta dependência [do Estado] influencia directamente o emprego e, consequentemente, a capacidade de investimento das empresas do sector".
O secretário-geral da UNTA-CS explicou que boa parte dos trabalhadores do sector da construção civil são enquadrados por via de contratos por tempo determinado e que a Lei Geral do Trabalho prevê a opção pelo despedimento findo o mesmo.
Por este facto, prosseguiu, assiste-se a despedimentos "exacerbados" em metade das empresas de construção civil que operam no País. "Além da conjuntura económica desfavorável que assola o País, desde o quarto trimestre de 2014, muitas firmas contratam os seus profissionais por tempo certo. Instrumento que torna legais os despedimentos e o sindicato diante desta situação não tem força legal para negociar com a entidade empregadora a fim de indemnizar o trabalhador, que durante algum tempo esteve ligado à empresa", esclareceu.
Justificou que o sector do comércio e serviços vem logo a seguir na lista dos que mais despedem por depender também em grande medida dos pagamentos do sector público, "que paga mais tarde do que o privado e os consumidores". O secretário-geral disse acreditar ser esta a principal causa dos problemas de liquidez nestes sectores de actividade.
Mais de 32 mil famílias afectadas
De acordo com Manuel Viage, a onda de despedimentos está a afectar mais de 32 mil famílias de baixa renda. "O corte nos investimentos públicos e a retracção no investimento privado podem aumentar o desemprego no País", prognosticou.
O responsável defendeu a criação de condições que enquadrem e facilitem a iniciativa privada. Para ele, o emprego cria-se através de reformas estruturais, que libertem o potencial de crescimento económico dos países, e de apoio à empresas competitivas nos bens transaccionáveis. Futuro depende da evolução da crise Para a UNTA-CS, o futuro dos trabalhadores e das empresas está dependente da duração da crise económica e financeira, "apesar do esforço desenvolvido pelo Estado, no sentido de inverter o quadro".
De acordo com Manuel Viage, o Executivo pretendia proceder a um reajuste do salário da função pública em 10%, visto que a taxa de inflação subiu para 10%, mas face às dificuldades financeiras foi obrigado a reduzir a despesa pública, principalmente na contratação de bens e serviços, priorizando a componente das despesas com salários dos seus quadros.
Perante este quadro, o sindicato espera do Governo a tomada de medidas no sentido da protecção não só dos empregos como da manutenção do poder de compra dos trabalhadores.


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