As empresas de construção civil são as que mais
despediram trabalhadores, com um total de 6.500, seguidas das do sector de
comércio e serviços, com cerca de 343, e das do ramo da indústria, com 91 desempregados.
Osvaldo Manuel
EXPANSÃO
Um total de 6.934 é o número de funcionários já
despedidos, no sector empresarial público e privado do País, desde o início do
ano, em consequência da crise económica e financeira provocada pela queda do
preço do petróleo no mercado internacional, que a União Nacional dos
Trabalhadores Angolanos-Confederação Sindical (UNTA-CS) tem registado.
As empresas de construção civil são as que mais
despediram trabalhadores, com um total de 6.500, seguidas das do sector de comércio
e serviços, com cerca de 343, e das do ramo da indústria, com 91 profissionais
desempregados, indica Manuel Viage, secretário-geral da UNTA-CS, em entrevista
ao Expansão. "Penso ser fundamental o Estado manter as despesas públicas,
no sentido de garantir o emprego ao cidadão, porque viver numa sociedade onde o
custo de vida é cada vez mais alto e estar desempregado é uma catástrofe para
as famílias", defendeu o líder sindical.
Manuel Viage apontou os atrasos que se verificam
nos pagamentos aos empreiteiros por parte do Estado como um dos principais
motivos dos despedimentos no sector da construção civil. Acrescentou que a
construção é o sector que mais depende dos pagamentos do Estado, sendo que
"esta dependência [do Estado] influencia directamente o emprego e,
consequentemente, a capacidade de investimento das empresas do sector".
O secretário-geral da UNTA-CS explicou que boa
parte dos trabalhadores do sector da construção civil são enquadrados por via
de contratos por tempo determinado e que a Lei Geral do Trabalho prevê a opção
pelo despedimento findo o mesmo.
Por este facto, prosseguiu, assiste-se a
despedimentos "exacerbados" em metade das empresas de construção
civil que operam no País. "Além da conjuntura económica desfavorável que
assola o País, desde o quarto trimestre de 2014, muitas firmas contratam os
seus profissionais por tempo certo. Instrumento que torna legais os
despedimentos e o sindicato diante desta situação não tem força legal para
negociar com a entidade empregadora a fim de indemnizar o trabalhador, que
durante algum tempo esteve ligado à empresa", esclareceu.
Justificou que o sector do comércio e serviços
vem logo a seguir na lista dos que mais despedem por depender também em grande
medida dos pagamentos do sector público, "que paga mais tarde do que o
privado e os consumidores". O secretário-geral disse acreditar ser esta a
principal causa dos problemas de liquidez nestes sectores de actividade.
Mais de 32 mil famílias afectadas
De acordo com Manuel Viage, a onda de
despedimentos está a afectar mais de 32 mil famílias de baixa renda. "O
corte nos investimentos públicos e a retracção no investimento privado podem
aumentar o desemprego no País", prognosticou.
O responsável defendeu a criação de condições
que enquadrem e facilitem a iniciativa privada. Para ele, o emprego cria-se
através de reformas estruturais, que libertem o potencial de crescimento
económico dos países, e de apoio à empresas competitivas nos bens
transaccionáveis. Futuro depende da evolução da crise Para a UNTA-CS, o futuro
dos trabalhadores e das empresas está dependente da duração da crise económica
e financeira, "apesar do esforço desenvolvido pelo Estado, no sentido de
inverter o quadro".
De acordo com Manuel Viage, o Executivo
pretendia proceder a um reajuste do salário da função pública em 10%, visto que
a taxa de inflação subiu para 10%, mas face às dificuldades financeiras foi
obrigado a reduzir a despesa pública, principalmente na contratação de bens e
serviços, priorizando a componente das despesas com salários dos seus quadros.
Perante este quadro, o sindicato espera do
Governo a tomada de medidas no sentido da protecção não só dos empregos como da
manutenção do poder de compra dos trabalhadores.
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