Empresários invadem terras do Cunene com ajuda
da Polícia
Um grupo de empresários está a expropriar
terrenos de camponeses no
Cunene. Máquinas destroem lavras e derrubam
kimbos na localidade de
Kalueke, denunciou ao Novo Jornal Jacqueline
Gerrard Reis, activista
britânica, residente em Angola desde a década de
1980.
Eduardo Gito
http://www.novojornal.co.ao/artigo/65796
Os empresários, muitos deles gestores públicos,
de acordo com a nossa
fonte, não poupam nada. "Até cemitérios
estão a destruir". "Este é o cenário que se vive em Kalueke, zona
limítrofe ao rio Cunene", acentua.
A activista contabiliza que, até ao momento, os
"invasores" já ocuparam
um espaço superior a 40 Km x 80 km, para além de
extensões de terra afectadas pelas queimas e que foram transformadas em cinza.
O trabalho dos invasores é feito sob protecção
policial, pontualiza Jacqueline Gerrard, que, desde a década de 80, trabalha
com o meio ambiente, na defesa e protecção dos direitos humanos e lei de
terras.
"As máquinas continuam a derrubar
árvores, a população reivindica, mas é intimidada por polícias e estes disparam
contra os habitantes que protestam contra a destruição das zonas de habitação e
trabalho",
denuncia.
Abril, se contavam seis presos e um número
indefinido de pessoas cujo paradeiro é ainda desconhecido pelos familiares.
Por intermédio da Associação Construindo
Comunidades (ACC), órgão em que Jacqueline trabalha, em parceria com a Comissão
Africana dos Direitos Humanos, conseguiu obter dados relativos à zona de
Kalueke, tornando-se assim na advogada "voluntária" daquele povo.
Chamada a remediar o conflito na aldeia do
Kwanza, outra zona afectada,
a interlocutora conta que se deparou com uma
mata fechada, "onde as
máquinas não entram", mas residem mais de
duas mil famílias. "Antes mesmo de chegar à aldeia, deparei-me com
estradas, espaço sem vegetação, postes, armazéns, máquinas mineira, e cães de
raça bulldog que controlavam a área. Cenário que evidenciava a ocupação do
espaço dos autóctones".
*Violação da dignidade das pessoas*
A activista entende que a situação que o país
atravessa obriga a que se
dê um impulso maior à economia e que se façam
investimentos no sector
agrário, porém, critica a forma como os
empresários procuram obter a terra. "A autorização para tomar esta
extensão de terra não é muito clara e não reconheço nenhuma organização capaz
de inverter a situação ou que garanta que as terras estão a ser delegadas para
uso agro-pastoril sustentável", questionou-se a cidadã, que olha com
preocupação para algumas questões pontuais do mau uso da terra.
"Não se sabe ao certo o que estes
empresários farão com a terra. No entanto, deve-se lembrar que o uso indevido
da terra pode acarretar consequências "nefastas" para o meio
ambiente, já que "a biodiversidade
da área não está classificada/mapeada e está a
ser perdida", bem como
"representa igualmente uma violação da
dignidade das pessoas afectadas
pela expropriação".
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