quarta-feira, 8 de junho de 2016

Angola "Até cemitérios estão a destruir"



Empresários invadem terras do Cunene com ajuda da Polícia
Um grupo de empresários está a expropriar terrenos de camponeses no
Cunene. Máquinas destroem lavras e derrubam kimbos na localidade de
Kalueke, denunciou ao Novo Jornal Jacqueline Gerrard Reis, activista
britânica, residente em Angola desde a década de 1980.

Eduardo Gito
http://www.novojornal.co.ao/artigo/65796
Os empresários, muitos deles gestores públicos, de acordo com a nossa
fonte, não poupam nada. "Até cemitérios estão a destruir". "Este é o cenário que se vive em Kalueke, zona limítrofe ao rio Cunene", acentua.
A activista contabiliza que, até ao momento, os "invasores" já ocuparam
um espaço superior a 40 Km x 80 km, para além de extensões de terra afectadas pelas queimas e que foram transformadas em cinza.
O trabalho dos invasores é feito sob protecção policial, pontualiza Jacqueline Gerrard, que, desde a década de 80, trabalha com o meio ambiente, na defesa e protecção dos direitos humanos e lei de terras.
Abril, se contavam seis presos e um número indefinido de pessoas cujo paradeiro é ainda desconhecido pelos familiares.
Por intermédio da Associação Construindo Comunidades (ACC), órgão em que Jacqueline trabalha, em parceria com a Comissão Africana dos Direitos Humanos, conseguiu obter dados relativos à zona de Kalueke, tornando-se assim na advogada "voluntária" daquele povo.
Chamada a remediar o conflito na aldeia do Kwanza, outra zona afectada,
a interlocutora conta que se deparou com uma mata fechada, "onde as
máquinas não entram", mas residem mais de duas mil famílias. "Antes mesmo de chegar à aldeia, deparei-me com estradas, espaço sem vegetação, postes, armazéns, máquinas mineira, e cães de raça bulldog que controlavam a área. Cenário que evidenciava a ocupação do espaço dos autóctones".

*Violação da dignidade das pessoas*
A activista entende que a situação que o país atravessa obriga a que se
dê um impulso maior à economia e que se façam investimentos no sector
agrário, porém, critica a forma como os empresários procuram obter a terra. "A autorização para tomar esta extensão de terra não é muito clara e não reconheço nenhuma organização capaz de inverter a situação ou que garanta que as terras estão a ser delegadas para uso agro-pastoril sustentável", questionou-se a cidadã, que olha com preocupação para algumas questões pontuais do mau uso da terra.
"Não se sabe ao certo o que estes empresários farão com a terra. No entanto, deve-se lembrar que o uso indevido da terra pode acarretar consequências "nefastas" para o meio ambiente, já que "a biodiversidade
da área não está classificada/mapeada e está a ser perdida", bem como
"representa igualmente uma violação da dignidade das pessoas afectadas

pela expropriação".

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