As principais seguradoras de crédito à
exportação para Angola e Moçambique já se retiraram destes países, disse hoje à
Lusa o Diretor do seguro de crédito e caução da consultora Willis Towers
Watson, Acácio Ferreira. "As seguradoras de crédito estão a retirar-se de
Angola e Moçambique; podem não o assumir publicamente mas retiraram-se desses
mercados", asegurou o responsável, que enquanto consultor e mediador de
empresas, trabalha com todas as seguradoras de crédito.
http://omundodosseguros.com/clipping.php?detail=1427&pagina=1
"Ninguém garante Angola e Moçambique",
vincou Acácio Ferreira em entrevista à Lusa, na qual deu conta de um "agravamento
enorme da pressão sobre os seguros de crédito" devido à dificuldades
destes países em pagarem as importações em moeda estrangeira, nomeadamente
dólares. "Os exportadores portugueses perderam estes mercados;
nota-se claramente que a preocupação não é novos `plafonds` de exportação, não
é exportar, mesmo, é retirar os valores, receber o que falta receber destes
mercados, porque o impacto não é só nos exportadores, há também um forte
impacto nas empresas que venderam a outras empresas portuguesas que dependiam
fortemente destes mercados africanos", e que agora não conseguem pagar aos
seus fornecedores nacionais, diz. "A crise das transferências é o
principal problema das empresas portuguesas, porque não conseguem tirar de lá
os fundos e o mercado está a ficar cada vez mais pequeno" devido ao abrandamento
das economias angolana e moçambicana, a primeira para 0,9% do PIB e a segunda
para 5,8%, este ano, segundo o Banco Mundial. Apesar de não haver muitos
sinistros, ou seja, situações em que as empresas os créditos dão como
incobráveis, "não sabem quando é que podem receber o valor em causa, o que
por sua vez coloca em causa a sobrevivência de muitas empresas portuguesas, que
não conseguem pagar a fornecedores por serem valores importantes ou prazos
dilatados". Em causa, diz este consultor que está no mercado dos seguros
de crédito há 22 anos, "estão centenas de empresas que estão a ir para
insolvências ou Processos Especiais de Recuperação (PER) por causa
de Angola, o segundo maior destino das exportações portuguesas para fora da
União Europeia, a seguir aos Estados Unidos. "Os maiores sinistros de
vendas [não pagamento da mercadoria entregue] são de clientes que vendem para
Angola, porque muitas vezes as vendas até são feitas só no mercado português,
mas o fornecedor vende a uma empresa que por sua vez exporta em Angola e quando
entra em rotura, deixam incobráveis em Portugal", diz Acácio Ferreira, que
atua no mercado enquanto intermediário entre o exportador e a seguradora de
crédito, na consultora Willis Towers Watson. Na génese do problema está a incapacidade
de as empresas em Angola fazerem os pagamentos em moeda estangeira, a partir do
momento em que o petróleo desceu de preço e diminuiu significativamente as
receitas, e a excessiva dependência das empreas portuguesas na exportação para
Angola, por causa da recessão em Portugal depois da crise das dívidas soberanas
na Europa, no princípio da década. "As empresas portuguesas começaram a
dar crédito porque Angola era um mercado muito interessante e era preciso
compensar o abrandamento da procura interna em Portugal, nos últimos anos,
porque historicamente o país lusófono mais complicado de fazer seguros de
crédito era Angola; ninguém trabalhava com crédito e todos exigiam ou pagamento
antecipado ou cartas de conforto", explica Acácio Ferreira. "A partir
do momento em que as empresas portuguesas deram crédito a clientes angolanos, a
pressão sobre o mercado de seguros de crédito aumentou exponencialmente",
conclui. Moçambique, diz, está a chegar à mesma situação de Angola: "Não é
tão público por causa da dimensão, mas os exportadores portugueses para
Moçambique estão confrontados com o mesmo problema de Angola, porque as
empresas moçambicanas não pagam a Portugal, não conseguem fazer sair
divisas". Moçambique, salienta, "não é tão evidente pela dimensão e
por não aparecer nas notícias, mas tem exatamente os mesmo problemas" que
Angola, agravados "pela retirada das ajudas do FMI e dos apoios
internacionais, da questão política e da iminência de uma guerra civil".
Para além destes problemas conjunturais em Angola e Moçambique, as empresas
portuguesas enfrentam também o problema estrutural da "falta de
credibilidade da informação financeira sobre as empresas" a quem vendem os
seus produtos, que "sempre existiu e continua".
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