Isabel dos Santos é presidente do Conselho de
Administração da Sonangol. Muito pródiga, a filha do presidente. Está,
justamente, a caminho da presidência. Depois da Sonangol, estagiará alguns
meses como ministra, e pronto: sucede ao pai na monarquia em que Angola tem
vindo a ser transformada pelo clã Dos Santos.
MAKAANGOLA
Rafael Marques de Morais
Isabel dos Santos foi a raposa nomeada para
cuidar do galinheiro que é a Sonangol. Vão-se as galinhas, vão-se os ovos, e
ficam as penas e as cascas. Isabel dos Santos adora ovos. Aliás, começou a sua
carreira empresarial a vender ovos. Agora já não precisa de pedir empréstimos à
Sonangol, de pedir para pagar as suas contas e receber acções como oferta, por
exemplo, as da GALP, que usa para ser a mulher mais rica de África. Isabel dos
Santos já não precisa assaltar o galinheiro, porque se tornou dona do
galinheiro.
José Eduardo dos Santos é um bom pai. É
tirano e ladrão para o povo, mas é um bom pai. Angola é para os seus filhos. O
que é de Angola é para os seus filhos. O que sobrar é para o MPLA e para os
filhos dos tipos do MPLA. Sim, são tipos. Apenas celebram a corrupção, o poder
da repressão. O MPLA é hoje apenas uma comissão de oportunistas ao serviço da
família Dos Santos. O povo é o estrume que usam para fertilizar os seus
esquemas de enriquecimento ilícito, de estatuto social, de esquemas mil. O MPLA é o partido que
sustenta as raposas. Ou seja, o MPLA é um partido que apenas serve para atirar
areia aos olhos do povo, para pedir o seu voto e para cafricar o povo quando
este se manifesta descontente.
Anos atrás, um colega sul-africano, tendo tomado
contacto com a realidade do interior de Angola, perguntou-me por que é que o
país, com tantos recursos naturais e tanto potencial humano e de investimento
estrangeiro, era tão mal gerido e tinha uma população tão pobre. Perguntou-me
por que razão os dirigentes não faziam o mínimo esforço pela população.
Respondi com o seguinte exemplo:
Um grupo de bandidos torna-se bastante
bem-sucedido em assaltar sempre o mesmo banco durante muitos anos. Os
accionistas do banco decidem, para pôr cobro aos assaltos, nomear o líder do
gangue como gestor do banco. Perguntei ao colega quais eram as probabilidades
de o líder do gangue gerir bem o dinheiro dos clientes que toda a vida roubara.
Entregar a gestão permanente do cofre aos ladrões seria uma solução funcional
para se acabar com os roubos? Qual seria a motivação dos ladrões para deixarem
de roubar e empreenderem uma boa gestão?
É isto que acontece actualmente: o presidente é
ladrão e nomeia a sua filha ladra para gerir o maior cofre de Angola, a
Sonangol. E nós, o povo, somos obrigados a acreditar que é para o bem da
Sonangol, de Angola e dos angolanos. Mas ninguém acredita. Ainda assim, já há
quem se prepare para enviar o currículo a Isabel dos Santos, procurando uma
oportunidade de emprego e/ou de negócios. É a Sonangol que conferirá poder
político a Isabel. O pai, José Eduardo dos Santos, colocou-a ali para esse
efeito. A Sonangol, ou melhor, o controlo das receitas produzidas com a venda de
petróleo, é o verdadeiro poder do presidente, que este agora transfere para a
filha.
Angola passou efectivamente a ser uma monarquia,
e o verdadeiro partido no poder é a Sonangol. O MPLA é apenas um símbolo, a
história de que a família Dos Santos precisa para legitimar a monarquia que
entretanto instituiu.
Como prova, o presidente praticamente ofereceu o
segundo canal da TPA aos filhos José Paulino “Coréon Dú” e Welwitchia “Tchizé”
dos Santos. Houve algum burburinho, é certo, mas passou depressa.
Tchizé foi para o parlamento, como deputada, cargo que acumulava com as funções de direcção na TPA. Falou-se disso, mas passou depressa. A primeira-dama também foi “eleita” deputada, mas suspendeu o mandato.
Tchizé foi para o parlamento, como deputada, cargo que acumulava com as funções de direcção na TPA. Falou-se disso, mas passou depressa. A primeira-dama também foi “eleita” deputada, mas suspendeu o mandato.
Veio então a grande nomeação. O presidente
colocou o seu filho Filomeno José dos Santos a presidir o Fundo Soberano de
Angola. Calaram-se as vozes. Os dirigentes do MPLA ficam à espera de
oportunidades também para os seus filhos: estão unidos pelos votos da corrupção
e do nepotismo. Os da oposição e os jovens como José Hata, Nelson Dibango ou
Fernando Tomás (do Processo dos 17) levam porrada se refilarem.
Os filhos do povo vão para a cadeia se
criticarem José Eduardo dos Santos. Os filhos do ditador têm direito a
apossar-se do país. Esta é a realidade.
Qual é então a solução?
A solução é clara. José Eduardo dos Santos tem
de ser pressionado a devolver o poder ao povo angolano. A sua família tem de
largar o poder juntamente com JES. Mas remover apenas o líder é somente o
início de um processo complexo.
O modelo de gestão corrupta e venal de José
Eduardo dos Santos congrega um extraordinário apoio no seio do MPLA e da
sociedade. É um modelo de vida fácil, de lotaria, de esquemas a que muitos
angolanos se foram habituando e que os beneficiários e aspirantes a beneficiários
querem manter.
Esse é o problema maior. Como mudar as
consciências dos militantes do MPLA que se habituaram a apoiar o seu líder em
troca de comida, de emprego, de estatuto social? Como convencer os militantes
do MPLA, a força de choque de José Eduardo dos Santos, que há muito se perderam
no caminho que os deveria conduzir à defesa dos interesses da pátria, da
cidadania e de uma Angola melhor para todos? Como convencê-los de que continuam
a viver no mundo da propaganda da TPA, da RNA, do Jornal de Angola, enquanto a
maioria deles também vive no meio do lixo, com um sistema de saúde desumano e
uma educação que aliena os seus filhos?
A culpa principal do estabelecimento da
monarquia em Angola é do MPLA, dos seus militantes que protegem os abusos do
presidente. A discussão começa aqui.
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