terça-feira, 22 de abril de 2008

ECLIPSE TOTAL



E o reino paralisou, porque o falecido deixou dez viúvas que ocupavam altos cargos governamentais.

A moral da história não é complexa. Há limites ao progresso de organização social que se pode trazer quando as estruturas políticas continuam sendo controladas por um sistema suficientemente forte para inverter o sentido político de qualquer acção. Não se trata de uma particularidade de coronéis pré-históricos. Em São Paulo, Lúcia Bógus estudou os melhoramentos introduzidos em habitações populares no Jabaquara: a intenção era sem dúvida melhorar as condições de vida de gente modesta. Mas o resultado foi a valorização das casas, o seu controle por especuladores imobiliários, e a expulsão dos pobres que passaram a viver pior em outro bairro.
Todos viram na Globo o relato de uma bonita história de autoconstrução de casas populares, no Paraná, com a iniciativa dos próprios moradores organizados por um padre cheio de boas intenções. As imagens mostraram as belas casinhas de tijolo, os felizes moradores. Pouco depois, a associação dos arquitectos do Paraná, indignada que se fizesse construção sem a sua aprovação, e sobre tudo sem as empreiteiras, aplicou aos moradores uma multa superior ao valor das casas. Para erguer quatro paredes de tijolo, é preciso entrar no sistema, ainda que tecnicamente seja ridículo, e que em termos económicos seja absurdamente mais caro.
In A Comunidade Inteligente. Ladislau Dowbor

No reino, a democracia consolida-se com uma rádio, uma TV e um jornal.

Privatizam-se os espaços públicos, para que as ruas da cidade diminuam, e os carros aumentem.
O palácio presidencial endeusa-se, os prédios arruínam-se, é o que resta da nostalgia colonial.
Um presidente, poços de petróleo presidenciais, um palácio presidencial, uma corte, uma guarda vermelha, um castelo fortificado. Fora, uma magnifica paisagem. Populações esfomeadas vasculham o solo na procura de algo para comerem e de água para beberem.
Avião presidencial, escolta, guarda, palácio, carro, palácio governamental, residência presidencial. No final, um caixão presidencial, tudo presidencial. A população não, é marginal.
Se o povo é analfabeto, é porque os governantes não o lêem.
As moscas são a companhia dos esfomeados. Belos carros e belas mulheres deleitam os governantes.
Já que a comunidade internacional apoia esta maldita ditadura, seremos nós que derrubaremos as estátuas do poder.
O governo abastado governa povo esfomeado.
Quando a independência é selvagem, tudo e todos depois, vivem na selva.
Quando o palácio do monarca está fortemente cercado por militares, é porque a população se prepara para assaltá-lo.
Quando o ditador fala, a população olha-o, mas não o escuta.
Onde não há pão, há muita corrupção.
Quando se sabe de antemão que o partido no poder corrupto perderá as eleições, a guerra é certa.
Onde há muita comida, há muita rataria e gataria.
Os abutres são como governantes que debicam o que resta do nosso corpo.
Tanta promessa, que a nova vida nos vai melhorar. E a nossa velha fome avança. Quando alguns bispos apoiam o poder corrupto, a religião escurece as almas.
Quando Idi Amin e Mugabe se extinguem, outros se implantam, renascem, e substituem-nos. Não há diferenças, até porque os reincarnados refinam as torturas.
Anunciava-se aos quatros ventos que os prédios iam desabar mas, os obscurecidos nada fizeram, e nada fazem para o evitar.
E assim a população não acata, não aceita nenhuma regra de convivência social, não aceita nada. Creio que faz parte das novas tradições.
Não é possível haver paz e eleições, com toda a riqueza do reino concentrada na família real.
É o único reino em todo o mundo, onde as estradas são totalmente cúmplices dos assaltantes. Porque os carros estão sempre parados. E as moto-rápidas, catanas, machados e cacetes, atacam mal, mal.
Quando os déspotas discursam bélicos, as estradas da paz e da democracia transitam caóticas.
Quando o rei faz anos, gloriosas maratonas nos esperam.
Quando um Idi Amin morre, dois ressuscitam.
Quando o poder é violento, só com violência cairá.
As quadrilhas selvagens eternizam-se, infernizam-se no poder.
Sermos independentes é termos um hino, uma bandeira, poços de petróleo e esfomeados.
E os libertadores ocuparam o palácio colonial, e libertaram muitos poços de petróleo e contas bancárias secretas. O sol e a água são para todos, o petróleo não. Vivemos em campos de concentração onshore e offshore.

Consórcio de bancos e empresas portuguesas querem construir um metropolitano de superfície em Luanda. Demorará três anos, e os problemas do trânsito acabarão. No fundo é a mesma coisa que dizer: seus negros burros e atrasados. Mas não! Trata-se do poder que as empresas da especulação imobiliária tem sob o governo… já o dominam. E sentem-se á vontade, no lago muito claro, no paraíso dos lucros, na morte impiedosa dos esfomeados, que acreditaram no PML-Partido Marista Leninista.

Por trás das grandes construções civis chinesas, esconde-se o desejo já não disfarçado, de substituição das antigas potências coloniais. Um erro grave da cegueira chinesa, que terminará com todos os Negros-Bantus a escorraçar tudo o que for chinês. A África Negra tem muitos problemas graves mas, a juventude africana já não é a dos anos sessenta.
E na prometida não intromissão na política dos governos africanos, escondem-se grandes navios de armamento, prontos para o mal mascarado imperialismo chinês na África Negra. A China exporta darfures, e no final a África Negra pedirá ajuda ao Ocidente, para recriar o ciclo da luta de libertação. Quando se investe na formação do analfabetismo, é mais um Darfur que aí vem. A China continuará, apoiará eleições com navios carregados de armas e munições.
A ajuda chinesa inclui armamento, para que no futuro um salmo sangrento do imperialismo chinês seja cantado. Os Índios enterraram o machado de guerra, a China na África Negra desenterra-o. A hipocrisia do ser humano é tão desmedida, que ainda ousa falar de felicidade.

E os preços do petróleo sobem. Já não há escada para escalar, lá chegar. A loucura humana finalmente acabou. Roubar, tornou-se tão vulgar que nos leva a perguntar: para que serve a ciência económica? Para que servem os governos, e as suas leis?
A resposta é fácil: a implosão mundial está aí outra vez. Mais milhões de mortos para fertilizarem a Terra.
MORTOS DE TODO O MUNDO, UNI-VOS!

Gil Gonçalves

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