sábado, 6 de outubro de 2012

Brancos deram cartão vermelho ao MPLA - William Tonet




Estamos a entrar na fase final de um reino, o do Movimento Popular de Libertação de Angola, MPLA, que dura já há quase 40 anos e do qual se pode desde já dizer, antes que ele dê por completo a volta ao seu destino e seja obrigado a acantonar-se na oposição, o balanço está muito longe de ser positivo.
As eleições atípicas deste ano de Cristo de 2012 ganhas pelo partido dos camaradas, mas com muita fraude e batota a mistura, são uma prova clara desta asserção. Os angolanos querem que “eles” se vão embora, não querem mais promessas, mais nada, é só ir embora e agradecem de antemão!
Por outro lado, o que se passou e foi em parte fruto desse facto inegável, isto é, o saco dos angolanos estar cheio e eles quererem esvaziá-lo, deu origem a uma nova dinâmica de pensamento, liderada pela juventude que não se revê de modo nenhum nos ícones do passado, e que, pela determinação com que se movem, levaram os eleitores a outras reflexões, longe dos guiões antigos dos anciãos do MPLA, que, mesmo assim, ainda são parte predominantes das atávicas considerações estratégicas inspiradoras da acção política do partido.
Estamos em crer que a altíssima taxa de abstenção que caracterizou esta eleição de deputados de Setembro de 2012, se deve principalmente a três factores que estão interligados, um, não acreditação do MPLA, ou seja, o não reconhecimento formal do MPLA para o desempenho e realização dos planos de governação que ele próprio propõe, dois, uma não muito clara, mas, em todo o caso, uma certa desautorização para o exercício do poder por parte dos partidos que se apresentaram como sendo oposição ao MPLA, três, o medo de represálias, medo de ser marginalizado e medo da morte, obra completa na sua quarta ou quinta edição e gizada de longa data , sublinhe-se,pelo próprio MPLA e, portanto, augurada como sendo benéfica exclusivamente para si próprio.
Pelas contas que a Comissão Nacional Eleitoral apresentou, a taxa de abstenção nas eleições gerais, ao que convém juntar os votos em branco - nunca antes tantos cidadãos cientes de haver necessidade de mudança saíram das suas casas para aporem o seu voto nas urnas sem nenhum X -, foi de 37,23%, cerca de três vezes superior à das eleições legislativas de 2008, e, na opinião de Katila Pinto de Andrade, directora-adjunta da Open Society Angola, prestigiosa e bem conhecida organização da África Austral para a consolidação da democracia,
“A abstenção nas eleições gerais de 31 de Agosto reflecte-se num voto de protesto, portanto, há muita gente que está descontente com a governação". Assim, a abstenção representa "um grande desafio para o partido MPLA na governação do país, na implementação de políticas de combate à pobreza", sustenta essa dirigente e analista pela ocasião, acrescentando que, na sua opinião, se vão seguir "cinco anos de muito trabalho" para as autoridades angolanas.
Para explicar tão grande taxa de abstenção, os arautos do regime, uma curiosíssima equipa de analistas que se recusam a pensar e seguem ideias que lhes caem em cima vindas talvez do céu aos trambolhões, asseguram unanimamente que a culpa de tanta abstenção era coisa da UNITA, mas as principais razões são outras.
À parte terem ido parar ao lixo alguns, talvez mesmo um grande número de Cadernos Eleitorais virgens, o que teve por consequência o facto de por via deste desastroso desvio, ter havido muitas pessoas que não puderam votar e os seus nomes serem assim integrados nos 40% de abstencionistas que ensombraram este pleito eleitoral, à parte os impedimentos causados pela obrigatoriedade de ir votar muito longe da casa, à parte as ameaças de caos anunciadas pelos arautos do regime em caso de o MPLA não ganhar, a verdade é o descontentamento dos angolanos atingiu realmente níveis que consideramos ser do tipo de não retorno, quer dizer, salvo milagre o fim do regime JES/MPLA está à vista e, aqui chegados, não resistimos à tentação de citar um desabafo sentido.
Chegou à mesa da nossa Redacção um opúsculo do Movimento para a Paz e a Democracia em Angola (MPDA), fazendo relembrar que «O MPLA, partido único há 37 anos no poder totalitário, usurpa, humilha, prende, asfixia desaloja, destrói, esbanja, mata e (ainda por cima) suprime o sufrágio universal, o direito e as liberdades de milhões de angolanos, sem ter contas pertinentes a render à nação. Os filhinhos de José Eduardo dos Santos e pares, esbanjam o bem público e despejam milhões de dólares durante fins de semanas em Portugal com jets privados, cujas taxas aeroportuárias são pagas pelo dinheiro público do sofrimento dos angolanos».
São abusos muito grandes que se repetem sem parar, que desembocam em outros abusos, alguns deles criminosos, mas sem sanções que os punam
Em meados do século passado, o Povo de Angola revoltou-se contra a vida de humilhação, miséria e opressão imposta pelo Colono, e foi dessa luta que despertou um profundo sentimento patriótico. Hoje, os nossos governantes esqueceram-se daquilo que é na realidade o verdadeiro sofrimento e impõem-no ao povo angolano, que se encontra a braços com as humilhações, a miséria e a opressão submetida pelo seu MPLA, que sempre disse que queria estar ao lado dos oprimidos e miseráveis, e, no fundo, só muito raras vezes conseguiu e, quando isso acontecia era apenas quando daí o partido pudesse retirar dividendos políticos ou monetários, ou de prestígio. Hoje, nem isso, o regime JES/MPLA prefere alinhar do lado dos opressores demiurgos da pobreza em Angola. Os votos em branco são um cartão vermelho ao regime MPLA/JES.

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