Estamos a entrar na fase final de um reino, o do Movimento Popular de
Libertação de Angola, MPLA, que dura já há quase 40 anos e do qual se pode
desde já dizer, antes que ele dê por completo a volta ao seu destino e seja
obrigado a acantonar-se na oposição, o balanço está muito longe de ser
positivo.
As eleições
atípicas deste ano de Cristo de 2012 ganhas pelo partido dos camaradas, mas com
muita fraude e batota a mistura, são uma prova clara desta asserção. Os
angolanos querem que “eles” se vão embora, não querem mais promessas, mais
nada, é só ir embora e agradecem de antemão!
Por outro lado, o
que se passou e foi em parte fruto desse facto inegável, isto é, o saco dos
angolanos estar cheio e eles quererem esvaziá-lo, deu origem a uma nova
dinâmica de pensamento, liderada pela juventude que não se revê de modo nenhum
nos ícones do passado, e que, pela determinação com que se movem, levaram os
eleitores a outras reflexões, longe dos guiões antigos dos anciãos do MPLA,
que, mesmo assim, ainda são parte predominantes das atávicas considerações
estratégicas inspiradoras da acção política do partido.
Estamos em crer
que a altíssima taxa de abstenção que caracterizou esta eleição de deputados de
Setembro de 2012, se deve principalmente a três factores que estão
interligados, um, não acreditação do MPLA, ou seja, o não reconhecimento formal
do MPLA para o desempenho e realização dos planos de governação que ele próprio
propõe, dois, uma não muito clara, mas, em todo o caso, uma certa
desautorização para o exercício do poder por parte dos partidos que se
apresentaram como sendo oposição ao MPLA, três, o medo de represálias, medo de
ser marginalizado e medo da morte, obra completa na sua quarta ou quinta edição
e gizada de longa data , sublinhe-se,pelo próprio MPLA e, portanto, augurada
como sendo benéfica exclusivamente para si próprio.
Pelas contas que a
Comissão Nacional Eleitoral apresentou, a taxa de abstenção nas eleições
gerais, ao que convém juntar os votos em branco - nunca antes tantos cidadãos
cientes de haver necessidade de mudança saíram das suas casas para aporem o seu
voto nas urnas sem nenhum X -, foi de 37,23%, cerca de três vezes superior à
das eleições legislativas de 2008, e, na opinião de Katila Pinto de Andrade,
directora-adjunta da Open Society Angola, prestigiosa e bem conhecida
organização da África Austral para a consolidação da democracia,
“A abstenção nas
eleições gerais de 31 de Agosto reflecte-se num voto de protesto, portanto, há
muita gente que está descontente com a governação". Assim, a abstenção
representa "um grande desafio para o partido MPLA na governação do país,
na implementação de políticas de combate à pobreza", sustenta essa
dirigente e analista pela ocasião, acrescentando que, na sua opinião, se vão
seguir "cinco anos de muito trabalho" para as autoridades angolanas.
Para explicar tão
grande taxa de abstenção, os arautos do regime, uma curiosíssima equipa de
analistas que se recusam a pensar e seguem ideias que lhes caem em cima vindas
talvez do céu aos trambolhões, asseguram unanimamente que a culpa de tanta
abstenção era coisa da UNITA, mas as principais razões são outras.
À parte terem ido
parar ao lixo alguns, talvez mesmo um grande número de Cadernos Eleitorais
virgens, o que teve por consequência o facto de por via deste desastroso
desvio, ter havido muitas pessoas que não puderam votar e os seus nomes serem
assim integrados nos 40% de abstencionistas que ensombraram este pleito
eleitoral, à parte os impedimentos causados pela obrigatoriedade de ir votar
muito longe da casa, à parte as ameaças de caos anunciadas pelos arautos do
regime em caso de o MPLA não ganhar, a verdade é o descontentamento dos
angolanos atingiu realmente níveis que consideramos ser do tipo de não retorno,
quer dizer, salvo milagre o fim do regime JES/MPLA está à vista e, aqui
chegados, não resistimos à tentação de citar um desabafo sentido.
Chegou à mesa da
nossa Redacção um opúsculo do Movimento para a Paz e a Democracia em Angola
(MPDA), fazendo relembrar que «O MPLA, partido único há 37 anos no poder
totalitário, usurpa, humilha, prende, asfixia desaloja, destrói, esbanja, mata
e (ainda por cima) suprime o sufrágio universal, o direito e as liberdades de
milhões de angolanos, sem ter contas pertinentes a render à nação. Os filhinhos
de José Eduardo dos Santos e pares, esbanjam o bem público e despejam milhões
de dólares durante fins de semanas em Portugal com jets privados, cujas taxas
aeroportuárias são pagas pelo dinheiro público do sofrimento dos angolanos».
São abusos muito
grandes que se repetem sem parar, que desembocam em outros abusos, alguns deles
criminosos, mas sem sanções que os punam
Em meados do
século passado, o Povo de Angola revoltou-se contra a vida de humilhação,
miséria e opressão imposta pelo Colono, e foi dessa luta que despertou um
profundo sentimento patriótico. Hoje, os nossos governantes esqueceram-se
daquilo que é na realidade o verdadeiro sofrimento e impõem-no ao povo
angolano, que se encontra a braços com as humilhações, a miséria e a opressão
submetida pelo seu MPLA, que sempre disse que queria estar ao lado dos
oprimidos e miseráveis, e, no fundo, só muito raras vezes conseguiu e, quando
isso acontecia era apenas quando daí o partido pudesse retirar dividendos
políticos ou monetários, ou de prestígio. Hoje, nem isso, o regime JES/MPLA
prefere alinhar do lado dos opressores demiurgos da pobreza em Angola. Os votos
em branco são um cartão vermelho ao regime MPLA/JES.
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