sábado, 16 de janeiro de 2016

Isabel Higino dos Santos, a Nova Governadora de Luanda. Rafael Marques de Morais


Despejos em Luanda

Corre nos bastidores a análise segundo a qual a recente nomeação presidencial do general Higino Carneiro para governador de Luanda visa, na verdade, dar cobertura formal ao cargo que, na prática, passa para Isabel dos Santos.

Rafael Marques de Morais
MAKAANGOLA

Em Dezembro passado, Isabel dos Santos apresentou o Plano Director Geral Metropolitano de Luanda, a ser implementado num período de 15 anos. Como não podia deixar de ser, coube à Presidência da República organizar o evento, para a promoção da filha do presidente. O nepotismo tornou-se “lei” nos actos de José Eduardo dos Santos, para benefício da sua família. E para manter este estado de coisas, promove a generosidade, para com os seus fiéis, a quem permite que sigam a mesma prática.
Note-se que inicialmente o Plano Director fora lançado pelo Governo Provincial de Luanda, mas passado dois anos tornou-se uma iniciativa conjunta da Presidência e de Isabel dos Santos.
A filha do presidente não está interessada nos problemas sociais, de gestão ou das infra-estruturas de Luanda, mas sim nas oportunidades exclusivas de negócio que o pai mais uma vez lhe oferece. Com um orçamento previsto de US $15 biliões para a implementação do Plano, a cobiça pelo erário público fala mais alto. Higino Carneiro tem a mesma visão do poder, e por onde passa deixa a sua marca de negociante, não de servidor público.
Por ser um dos governantes favoritos do presidente - satisfazendo-lhe os interesses particulares e mantendo boa relação com Isabel dos Santos -, o general é a escolha mais acertada para governar Luanda.
Por exemplo, em 2006, na qualidade de ministro das Obras Públicas, Higino Carneiro procedeu à aquisição, em nome do Estado angolano e por US $74 milhões, de 49 por cento das acções que a Cimpor portuguesa detinha na Nova Cimangola. No dia seguinte, essas acções foram transferidas para Isabel dos Santos.
Como nota um jornalista veterano, “o Higino é muito vivo. Sabe antecipar-se ao que o chefe quer e satisfazê-lo. Sabe distribuir e gosta de dividir o que ganha nos seus cargos”.
Na sua tomada de posse, o general, como era de esperar, destacou, entre as suas prioridades, o Plano Director Geral Metropolitano de Luanda, liderado por Isabel dos Santos, como “necessidade urgente”. A recolha do lixo na cidade e o reforço da sua segurança também foram apontados como prioridades.
Astuto, o general é bastante aberto. Sabe difundir autoridade e promover uma auto-imagem benigna, mesmo quando nada faz para o bem público. Há já até quem acredite que ele vai resolver o problema do lixo, sob o qual se afunda a periferia de Luanda.

No seu currículo, o governador conta com passagens por três governos provinciais, incluindo como presidente da Comissão de Gestão de Luanda, em 2004.
Vale a pena uma breve resenha sobre as suas obras enquanto governador.
No Kwanza-Sul (1999-2002), para além de ter sido aplaudido por introduzir o ensino superior na província,  mereceu louvores por ter inaugurado o Festival do Sumbe (FestiSumbe) em 2001, pela criação da Feira Agro-Pecuária,  a reabilitação da Marginal e o Jardim das Misses. No entanto, conta-se como a sua maior realização o estabelecimento da sua própria fazenda, em Calulo, entre outros projectos empresariais pessoais.
Já no Kuando-Kubango (2012-Jan. 2016), o seu mais recente cargo, o governador deu maior visibilidade pública às terras do fim do mundo, como é conhecida a província.
Nos seus anos de gestão, são-lhe creditadas, como obras de vulto, a reabilitação das duas pontes que interligam a cidade, e a construção de uma ponte de ligação entre a província e a Namíbia, pelo Calai. Recebeu boa nota por ter providenciado habitação e viaturas a alguns funcionários relevantes da província, como parte da sua política de valorização de quadros. Foi durante a sua gestão que se estabeleceu a abertura da Universidade do Cuito-Cuanavale, assim como a construção da central térmica do município com o mesmo nome.
O empresariado local foi praticamente erradicado. As empresas ligadas ao general tomaram conta dos grandes negócios envolvendo o erário público. Projectos turísticos de luxo, alguns ligados à caça de elefantes e leões, passaram a ser do seu domínio particular. O garimpo de diamantes no Luiana, na zona do Rivungo, ganhou grande dimensão no seu consulado. Os serviços administrativos deterioraram-se.  
Contrariamente ao que esperam os luandenses, no Kuando-Kubango, o general deixou bastante lixo. O saneamento básico e a limpeza da cidade capital da província, Menongue, está pior. Os funcionários da empresa Sopolang, encarregada da limpeza da cidade, estão sem salários há seis meses, porque o governo provincial não paga.
No hospital pediátrico local morrem, em média, duas crianças por dia, devido à falta de medicamentos básicos e de atendimento adequado. Na maternidade local, são realizadas cirurgias à luz de velas.
Portanto, estamos bem servidos. O país é deles


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