domingo, 24 de junho de 2012

Brasil: Rio+20. Presidente do Irão recebido com publicidade que o contesta no Brasil


Mesmo assim, Mahmoud Ahmadinejad não dá tréguas. Voltou a mandar farpas ao ocidente e diz que a ganância de certos países vai destruir o mundo
Rio de Janeiro (Canalmoz) – O controverso presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad foi recebido de forma pouco simpática à sua chegada ao Brasil, para participar da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, Rio+20. Num anúncio de meia página que reproduzimos a ilustrar este artigo, publicado em vários jornais editados no Brasil, questiona-se a presença do líder iraniano num “país democrático, sendo ele um ditador”.
Antes de embarcar para o Brasil, Ahmadinejad esteve na Bolívia, onde assinou acordos de cooperação com o seu homólogo boliviano Evo Morales. Depois da breve estadia na capital boliviana, La Paz, Ahmadinejad e Morales viajaram juntos ao Rio de Janeiro.
O anúncio criado pelo publicitário Eduardo Fischer traz uma foto de Ahmadinejad e uma série de perguntas onde se pode ler o seguinte: “Escolha um motivo para se preocupar com os actos deste homem”. Entre as potenciais alternativas para os leitores escolherem, estão as seguintes frases: “Sou cristão, evangélico ou baha’í e não gostaria de me sentir ameaçado por exercer minha crença”; “Sou judeu e não quero ser perseguido e nem ver o Holocausto apagado da história”; “Sou advogado e não gostaria de ser preso por defender meus clientes”; “Sou jornalista e não gostaria de ser perseguido por divulgar o que acontece em meu país”.
O anúncio é da responsabilidade da organização não governamental que luta pelos Direitos Humanos, Conib. De acordo com Mario Fleck, presidente de uma das organizações da Conid, o anúncio “expressa o pensamento de uma larga parcela da população brasileira que não pactua com as práticas do governo autoritário iraniano”. Para aquele activista, o actual regime não deve ser confundindo com o povo iraniano, que também é vítima da opressão. “O Irão não deveria ter sido convidado pela ONU. O governo iraniano defende e pratica acções contrárias aos princípios do mundo civilizado e não tem nada para falar na Rio+20” disse Mario Fleck, presidente de uma das organizações da Conid.
O regime de Mahmoud Ahmadinejad  governa o Irão com mão de ferro, mantêm centenas de opositores na prisão e sufoca todas as manifestações contrárias ao regime.
O governo autoritário iraniano também censura a internet, reprime o trabalho da imprensa (inclusive dificultando o trabalho de jornalistas internacionais), reprime as universidades do país, além de perseguir o livre-pensamento e as manifestações culturais por as julgar “impróprias para a República Islâmica”. A esta situação alia-se o facto de o regime iraniano mostrar-se irredutível em relação ao seu programa nuclear que tanto medo semeia no ocidente, sendo Washington quem mais dá a cara aos protestos.
Mesmo isolado Ahmadinejad continua a mandar recados ao ocidente.
Se em Setembro último durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente do Irão mandou farpas até os diplomatas americanos e israelitas abandonarem a sala, em sinal de protesto, nesta cimeira, teve pouca plateia inimiga em termos de personalidades. Obama não esteve. Mas mesmo assim, o líder Iraniano mandou recados.
Mahmoud Ahmadinejad defende um “compromisso com a moralidade” na relação entre povos e nações para construir “um mundo melhor e mais igualitário”. Isso porque, segundo disse, a busca incessante pelo lucro e realização material tem elevado o nível de animosidade no mundo. “Não devemos buscar hegemonia à custa de outros povos e seres humanos que habitam o planeta”, afirmou o presidente iraniano no seu discurso.
“A ordem internacional precisa ser redesenhada para servir tanto as necessidades materiais quanto espirituais da raça humana”, disse o líder iraniano, acrescentando que “ninguém tem o direito de arruinar o ambiente que pertence a todos” e que “os seres humanos não são rivais, mas amigos e companheiros que se completam”.
“A felicidade de um não pode ser às custas do outro”.
Era na verdade uma preparação para começar a alfinetar os seus detractores (Israel e EUA) pois adiante acrescentaria que “a Guerra da Coreia, a Guerra do Vietname, a guerra que os sionistas declararam contra os árabes, a guerra que Saddam Hussein declarou contra o Irão e tantas outras guerras injustas” foram “causadoras de destruição”.
Ahmadinejad criticou também o que considera ser um sistema “imperialista” que domina o mundo.
“Um grupo minoritário de países, os chamados países desenvolvidos, estão impondo padrões de desenvolvimento, e os outros países são forçados a seguir os seus passos”, afirmou. Mais adiante mandou o que parecia um recado a críticos de seu governo: “As questões de direitos humanos foram concebidas para servir àqueles que dominam o mundo”.  (Matias Guente, nosso enviado ao Rio de Janeiro)

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