Por Lázaro Pinduca
Em Janeiro de 2003, o general Kundy Paihama, então
ministro da Defesa, manifestou-se profundamente ofendido com a inclusão do seu
nome numa lista de angolanos, publicada pelo Semanário Angolense que,
àquela altura, seriam detentores de pelo menos US $50 milhões.
Para “lavar” a honra supostamente conspurcada, o
general Kundy Paihama intentou, na altura, uma acção judicial contra o
semanário, a quem exigia uma indemnização de US $1 milhão por “danos morais e
materiais”.
Mas, de 2003 à presente data muita coisa mudou. E
radicalmente. De lá para cá o general Kundy Paihama não apenas assumiu a sua
condição de multimilionário como deixou de se importar com quem o julgue como
tal. E, nalguns casos, permite mesmo que os seus subordinados lhe gabem
publicamente os fabulosos recursos financeiros que possui. Por exemplo,
recentemente, o seu advogado, Rui Machado, concedeu uma entrevista à revista
portuguesa Lux, em que revelava como o general teria perdido mais de US
$100 milhões nos últimos anos. Segundo o advogado, o sócio português António
Ferreira supostamente deu o golpe ao general, desviando os fundos da empresa de
jogos de azar, Casino de Angola, detidas maioritariamente por Kundy Paihama.
A mais recente empreitada privada do general, que
ocupa o cargo de ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos de Guerra, tem a
ver com a construção da sua mais recente casa, na cidade do Lubango, Huíla. A
residência está avaliada em US $10 milhões e foi inaugurada a 9 de Dezembro de
2011, com pompa e circunstância e corte de fita, pelo secretário-geral do MPLA,
general Dino Matross, por ocasião dos festejos do 56º aniversário do partido no
poder.
Situada no centro da cidade do Lubango, a nova
habitação do general foi erguida em terreno que pertencia à direcção regional
do Banco Nacional de Angola (BNA), cujas instalações se encontram defronte à
referida residência. Fontes locais revelaram a existência de várias petições da
direcção regional dirigidas à sede do BNA, em Luanda, visando impedir a
ocupação arbitrária do seu terreno. Porém, segundo funcionários locais, a administração
do BNA nunca respondeu às diligências dos seus representantes na Huíla.
A residência, que demorou 36 meses a ser
construída, tem 10 suítes e um total de 36 divisões, distribuídas em dois pisos
e cave. O luxo do seu interior é patente no custo da cozinha, importada de
Espanha, que custou US $300 mil. Foram precisos cerca de 20 contentores,
importados também da África do Sul e de Portugal, para rechear a propriedade.
A empresa de construção Omatapalo, na qual o
general detém 25 porcento das acções, encarregou-se das obras.
Investido de impunidade e uma arrogância lendária,
o general exigiu que tinha de ser vizinho do palácio do governo provincial.
Assim o fez, ocupando o terreno do banco.
Também os poderes do general foram usados para a
construção do Hotel Serra da Chela, no Lubango, propriedade sua, para albergar
as equipas que partiparam no Campeonato Africano das Nações, realizado em
Angola em 2010. Na calada da noite, os moradores locais sofriam intimidações
regulares. Um antigo residente, Francisco Nogueira, concedeu, na altura, uma
entrevista à Rádio 2000 em que denunciava o envolvimento da Polícia Militar e
agentes da Polícia Nacional nos actos de intimidação contra os moradores. Estes
exigiam o abandono imediato das suas residências de modo a expandir a área de
construção do hotel. A direcção da rádio foi obrigada a interromper a emissão
da entrevista. À frente do projecto estiveram os sobrinhos de Kundy Paihama, os
irmãos Silvestre e Rui Tulumba Kaposse, que localmente gerem as suas empresas e
propriedades.
Enquanto os veteranos de guerra e antigos combatentes se manifestam em
Luanda por falta de pagamentos das suas pensões, o ministro dos Antigos
Combatentes e Veteranos da Pátria, mantém a sua rotina de passar fins de semana
prolongados entre a sua residênca no Lubango e a sua fazenda no Quipungo, ambas
na província da Huíla.
A mansão no Lubango tornou-se no lugar de
peregrinação para a elite local e proveniente de Luanda, incluindo entidades
eclesiásticas. É também nesta residência que, ultimamente, reuniões secretas
têm tido lugar, concernentes ao envolvimento do general e figuras do seu
círculo mais próximo nos assuntos de governação e oportunidades de negócios nas
províncias da Huíla e Cunene.
Para além dos inúmeros negócios que já detém em
Huíla, Kundy Payahama propõe-se agora lançar mais um: o Lubango Center, que tem
investidos mais de US $12 milhões e situa-se ao lado da Missão Católica do Lubango.
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