O MPLA lançou ontem, 23 de Junho, no Estádio
11 de Novembro, a sua campanha para as eleições de 31 de Agosto, sob forma de
homenagem ao seu presidente, José Eduardo dos Santos.
Alguns dos cantores mais populares, como Yuri
da Cunha e Yola Araújo, entre outros, tornaram a festa do MPLA em actividade
bastante agradável e atraente para a juventude, que vibrou bastante. No últimos
anos, os actos de mobilização do MPLA têm sido definidos pela sua habilidade em
juntar cantares, beberetes e uma formidável máquina de coacção para obrigar os
funcionários públicos a participar.
No entanto, a homenagem ao Presidente, para
além da fanfarra reportada em directo, pela comunicação social do Estado, com
exageros que lembram a imprensa norte-coreana, revelou um dado interessante.
Os militantes do MPLA dedicaram mais aplausos
à Yola Araújo e outros cantores do que ao Presidente da República e do seu
partido, o candidato José Eduardo dos Santos. Fora do estádio, o governador de
Luanda e primeiro secretário do MPLA, Bento Bento, usou os seus dons de
mobilizador para pedir, reiteiradas vezes aos militantes, para que estes
aplaudissem o Presidente de forma efusiva. Estes responderam sem entusiasmo. O
Presidente terá entendido a mensagem e, apesar de ter sido apresentado para
falar aos seus apoiantes, apenas dedicou-lhes um aceno.
O MPLA havia prometido 500 mil participantes
no acto e ficou aquém dos 10 porcento da meta estabelecida, apesar de ter o
absoluto controlo da comunicação social, dos recursos do país e do Estado. Após
a apresentação do Presidente no interior do 11 de Novembro, o “mega-acto” de
massas que se esperava no exterior não correspondeu às expectativas. Milhares
de cidadãos sairam do estádio para os autocarros e não manifestaram qualquer
interesse em ouvir a mensagem do Presidente, no exterior. Bento Bento e os
mestres de cerimónia convidaram, várias vezes, os militantes a não retirarem-se
do local, mas sem sucesso.
Foi um embaraço. Bento Bento e Bento Kangamba
anunciaram que o Presidente falaria para os apoiantes em vão.
A lição que se pode tirar desta homenagem é a
de que a diversão não deve substituir o discurso político. Com a estratégia de
usar sempre grandes cantores para atrair multidões, foi criado o hábito de ir
aos comícios do MPLA para ouvir os cantores e não os políticos. Vão também pelo
churrasco e pela cerveja e acabam por ignorar as grandes realizações que o
governo do MPLA tem anunciado na comunicação social do Estado.
Com a Yola Araújo e o Yuri da Cunha mais
populares do que o Presidente, num comício do MPLA, é tempo para dizer que este
partido deve rever o seu conceito de comunicação com as massas. Sobretudo, deve
acordar para a realidade da mudança de consciência no seu próprio seio.
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