Após as manifestações dos ex-militares, a 20 de Junho, efectivos da
Polícia Militar, discretamente procederam à detenção de 51 veteranos de guerra.
Os detidos encontram-se na Unidade da Polícia Judiciária Militar (PJM), em
Luanda.Gonçalves Alberto, 46 anos, informou ao Maka Angola,
sobre a acção policial ao fim do dia, junto do Regimento de Transmissões, para
onde os manifestantes haviam convergido, com a promessa de resolução do caso
dos seus subsídios.
“O meu irmão João Alberto, de 44 anos, estava
comigo nas Transmissões. Como éramos muitos, não dei conta da ausência dele.
Percebi apenas, por mensagem sms, que ele já se encontrava detido, num carro da
polícia, com os outros”, disse. Segundo o ex-soldado, “se tivéssemos dado conta
de que os nossos irmãos estavam a ser capturados, de forma traiçoeira, nós
teríamos protestado e acabaríamos todos na cadeia”.
No dia seguinte, a 21 de Junho, Gonçalves
Alberto visitou o irmão, os amigos Franscico Manuel e Freitas Dias, bem como os
seus ex-companheiros de armas, na PJM. Levou-lhe água e alimentos. Os irmãos
ingressaram no exército em 1984, tendo Gonçalves cumprido o serviço militar em
Cabinda, como comunicador do Grupo Técnico de Mísseis da Força Aérea. João
serviu na Polícia Militar junto do Comando da Força Aérea, em Luanda. Ambos
foram desmobilizados em 1992, no âmbito dos Acordos de Paz de Bicesse, entre o
governo e a UNITA. Desde então, reclamam ter recebido apenas um subsídio único
de 55,000 kwanzas, equivalente a US $550.
Sobre as condições dos detidos, Gonçalves
Alberto referiu apenas que os ex-militares se encontram “num ambiente de
solidariedade, tanto dos policiais como dos militares, porque eles sabem que
também vão acabar como nós, sem nada e desprezados. Os soldados da Polícia
Militar estão a cumprir com o seu papel. São mandados. Nós compreendemos a
situação deles”, disse.
Por sua vez, Ruben Catanha, 42, que se
encontrava no interior do Regimento de Transmissões, revelou como os
ex-soldados foram cercados e tiveram de formar em filas para serem ouvidos,
individualmente, sobre os seus casos. “Vi cinco dos ouvidos a serem detidos,
por suspeita de nunca terem pertencido ao exército”, afirmou o veterano.
“Já não podíamos reagir porque estávamos
cercados e éramos poucos. A maioria dos nossos colegas estava fora das
instalações”, contou o veterano. Ruben Catanha, recrutado aos 16 anos de idade,
cumpriu também o mesmo número de anos de serviço militar, até 2002, sempre
colocado na coluna militar da Aerovia, empresa militar que reparava as pistas
de aviação para uso militar, durante a guerra.
Machado Domingos Diniz, ex-guerrilheiro,
confirmou a detenção do seu primo Germano de Sousa José Soares, de 37 anos, na
mesma noite. “Ele foi sargento das FALA [Forças Armadas de Libertação de
Angola, o extinto braço armado da UNITA]. Nós estávamos divididos em cinco
filas e havia cinco mesas, cada uma com um coronel, para atender-nos”, disse
Machado Domingos Diniz. De acordo com o seu depoimento, um oficial superior,
acompanhado por um civil pediu ao seu primo Germano Soares que os acompanhasse.
Só mais tarde receberam comunicação que o mesmo se encontrava detido no Comando
Provincial da Polícia Nacional, com mais outros elementos, cujo número não
soube precisar.
No entanto, mais informações disponíveis
sobre o foco da manifestação, no dia 20, no Regimento das Transmissões,
confirmam o espancamento do comandante da Região Militar de Luanda, o general
Joaquim Lopes Farrusco. Acompanhado de um guarda, por volta das 10h00, o
general interveio junto dos ex-militares, que se encontravam no interior da
unidade. Após desentendimentos verbais, segundo um veterano presente no acto,
os descontentes desarmaram o guarda do general e maltrataram o seu superior com
bofetadas e pontapés. Soldados da unidade acudiram o general, mas já depois dos
ex-militares o terem agredido.
“Ele aborreceu-nos. Não queríamos falar com
ele. Nós estávamos à espera do general Bento Kangamba [secretário do comité
provincial de Luanda do MPLA para organização e mobilização periférica e
rural], que havia prometido aparecer naquele dia, com uma resolução definitiva
do nosso caso”, revelou outro veterano, que preferiu o anonimato.
Fonte da Polícia Judiciária Militar confirmou
as detenções mas escusou-se a prestar mais detalhes.
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