Centenas de desmobilizados realizaram na
manhã de hoje, Junho 20, uma manifestação de protesto, em Luanda, que causou
pânico na cidade. Os antigos combatentes reclamam o pagamento das suas pensões,
muitas das quais em atraso desde há 20 anos.
Junto ao largo da Maianga, para onde
convergiu o grupo, que tencionava marchar para o Palácio Presidencial, um forte
aparato da Polícia de Intervenção Rápida e da Polícia Militar dispersou os manifestantes
a cassetete e com gás lacrimogéneo. Vários ex-militares apedrejaram as
autoridades. Perto de 50 viúvas de guerra juntaram-se também ao protesto para
exigir as pensões que lhes são devidas.
Outro grupo marchou em direcção à Embaixada
Americana, tendo sido repelido no largo do Cemitério do Alto das Cruzes, também
com uso de gás lacrimogéneo e cassetetes. As autoridades recorreram também ao
uso da cavalaria e da brigada canina, canhões de água, entre outros meios de
prevenção anti-motim.
Como medida preventiva, a guarda presidencial
reforçou o cordão de segurança à volta do Palácio Presidencial tendo para o
efeito encerrado, por algumas horas, o trânsito nas vias de acesso. Durante a
noite, é visível o estado de alerta da Polícia Nacional, na cidade, e da Guarda
Presidencial no perímetro do palácio.
Há cerca de duas semanas, a 7 de Junho, os
desmobilizados surpreenderam as autoridades ao realizarem uma manifestação
defronte do Ministério da Defesa, que se situa no perímetro do Palácio
Presidencial. O chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas
(FAA), general Geraldo Sachipengo Nunda, dialogou com uma comissão dos
ex-desmobilizados e deu garantias de resolução dos seus problemas na semana
seguinte.
No mesmo dia, à noite, o Ministério da Defesa
e o Estado-Maior General das FAA emitiram um comunicado conjunto em que
assumiam o compromisso de pagar os subsídios dos ex-militares “tão breve quanto
possível, através do sistema bancário nacional”. No referido comunicado, o
exército apelava “à calma e compreensão de todos os ex-militares, porque já
foram tomadas as medidas necessárias para resolver a situação”.
Eurico Jeremias, de 54 anos, está à espera
dos seus subsídios desde há 20 anos. Foi desmobilizado em 1987, após 16 anos de
serviço militar, após ter perdido o olho direito numa batalha. “Vimos
manifestar-nos frente à embaixada americana, porque o nosso governo não nos
ouve. Aqui, fomos travados pela cavalaria, a brigada canina e o gás
lacrimogéneo que atiraram contra nós”, disse o manifestante.
Na confusão gerada, vários manifestantes
reportaram alguns feridos e um morto. No entanto, o porta-voz do Comando
Provincial da Polícia Nacional, Nestor Goubel, garantiu que não houve quaisquer
vítimas mortais.
Os manifestantes, dispersos também da zona do
Cruzeiro, junto da Embaixada Americana, marcharam para o Comando do Regimento
de Transmissões do Exército, no Bairro Mártires de Kifangondo, conforme
aconselhamento prestado por altos oficiais que se encontravam no local. É no
referido comando que decorre a organização do processo administrativo para o
pagamento dos subsídios dos ex-militares.
O ex-soldado Ruben, de 42 anos, até às 17h00,
encontrava-se no interior da unidade, com mais de 200 companheiros seus. “Aqui
nós só queremos uma solução. Ou pagam ou não pagam. Estamos fartos de
conversa”, disse Ruben por via telefónica. O veterano de guerra disse também
que dentro da unidade se encontravam cercados e com os portões encerrados,
impedindo a sua saída ou a entrada de outros companheiros seus.
Até ao momento de publicação deste texto, um
forte aparato conjunto da Polícia de Intervenção Rápida e da Polícia Militar,
continuava a dispersar centenas de descontentes no exterior da unidade.
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