Maputo
(Canalmoz) – Nas hostes do partido Frelimo não se fala de outra coisa que não
seja de “Guebuza”; do ADN de Guebuza; de quem vai continuar no poder, de quem
vai servir Guebuza para ele continuar a mandar na sombra; de quem se vai servir
Guebuza; se no X Congresso vai ou não ser eleito um outro membro para o cargo
de presidente do partido; se no congresso de Pemba vai ou não ser anunciado o
candidato da Frelimo às presidenciais de 2014; se o candidato vai ser o actual
secretário-geral; se o candidato à Presidência da República irá passar a ser o
próximo secretário-geral; se o Congresso irá remeter para decisão do Comité
Central que será eleito em Pemba a escolha do candidato a PR nas presidenciais
de 2014, enfim… São imensas as variáveis. Uma, no entanto, parece irrebatível:
a vontade de Armando Guebuza se tornar uma espécie de monarca e não permitir a
deslocação do poder para outras coordenadas do País, perante um quadro de
investimentos altamente apetitoso, na sua esmagadora maioria entre o rio Save,
na confluência das províncias de Sofala e Inhambane, e o rio Rovuma, que faz
fronteira com a República Unida da Tanzania.
As
personalidades que conhecem a história de Armando Guebuza na sua trajectória
política são de opinião que está tudo em aberto, mas seguramente que Guebuza já
tem tudo planeado ao pormenor. Todos eles são ainda da opinião que os que se
sentem enganados por Guebuza, os que o levaram ao mais alto posto no partido e
a ser candidato à Presidência da República e depois a fazer com que ele lá
tenha chegado e por lá se tenha mantido à custa das artimanhas que se conhecem,
não terão hoje o mesmo poder para acabar com as suas veleidades que tiveram
para afastar Joaquim Chissano daquela forma desprestigiante de que aqueles com
um pouco de memória ainda se lembrarão. Sim, desprestigiante…foi empurrado ou
não é verdade?! Tentou também ficar por lá mas acabou por ser traído. Deram-lhe
depois o cargo de presidente Honorário do partido, mas para não poder andar por
aí a choramingar que o puseram desfocado na fotografia…
O
actual chefe de Estado não pode, por força da Constituição da República de
Moçambique, continuar na mais alta magistratura do Estado, porque o cargo de
Presidente da República a que é inerente o cargo de chefe do Governo, está
limitado a dois mandatos.
O
Artigo 146 da Constituição da República de Moçambique (CRM) define que o
Presidente da República é o chefe de Estado, e o Presidente da República é o
chefe do Governo. Já o Artigo 147 define que o Presidente da República só pode
ser reeleito uma vez e o Presidente da República que tenha sido eleito duas
vezes consecutivas só pode candidatar-se a eleições presidenciais cinco anos
após o último mandato.
Da
apreciação desses dois artigos sobra matéria para se perguntar se Armando
Guebuza, não podendo ser o candidato do partido Frelimo em 2014, porque mesmo
que haja uma Constituição nova seria suposto que Guebuza não pode sequer
candidatar-se sendo a actual ainda que vigora, assim ele poderia ser designado Primeiro-Ministro,
pelo próximo presidente da República eleito, tendo ele sido chefe do Governo ao
abrigo do artigo 146 da CRM?
Filipe
Paúnde, secretário-geral da Frelimo, já veio mandar passear todos os membros do
partido que supunham que poderiam ter alguma coisa a dizer no próximo
Congresso, em Setembro próximo, em Pemba. Para Paúnde é um dado assente que
Guebuza vai continuar a ser o presidente do partido de ambos.
Fica
também por se saber se no X Congresso vai ser eleito o candidato do Partido
Frelimo às próximas eleições para Presidente da República.
De
dentro do partido Frelimo saem vozes a alegar que Guebuza tem os seus apoiantes
em campo a comprar delegados ao Congresso para que tudo lhe saia de feição em
Pemba.
Nesse
contexto, recordam-se os que bem o conhecem que “o ADN de Guebuza” não lhe
permite deixar as coisas fluírem livremente. “Ele prevê tudo até ao detalhe”.
Daí se pode crer que Filipe Paúnde está instruído para vir a público dizer que
Guebuza vai continuar presidente do partido e ponto final!.. Democracias à
parte, é assim é assim!...
Mas
a afirmação de Paúnde não foi bem aceite por todas as alas do partido Frelimo,
daí se antevendo que mesmo que tudo possa parecer sereno, no quadro do cinismo
político é de prever que os tempos mais próximos no País não vão ser pacíficos
e daqui para a frente estará mais presente a luta pelo poder do que a
governação.
Agora
então com o dinheiro dos recursos minerais a servirem de atracção, que
“marrabenta” se irá dançar?
Guebuza
estará a preparar-se para como presidente do partido Frelimo continuar a mandar
na bancada da Assembleia da República, a mandar no Presidente da República, e a
mandar no Primeiro-Ministro se não se fizer ele mesmo ao cargo, impondo-se.
Teríamos
um Armando Guebuza presidente da Frelimo e Primeiro-Ministro se a Frelimo
hipoteticamente ganhasse as próximas eleições legislativas e presidenciais. É
um quadro que nos aconselham a não subestimar.
Sendo
pouco provável que Guebuza alguma vez aceitasse parecer de algum modo
subordinado de um eventual próximo presidente da República do seu partido, na
qualidade de primeiro-ministro – para todos os efeitos o primeiro dos ministros
e não propriamente o chefe do Governo –, o mais provável seria que ele se
contentasse em ficar como presidente da Frelimo apenas.
Se
Guebuza não continuar como presidente da Frelimo acaba a sua carreira política
ou pelo menos passa para a segunda divisão durante uns anos se não for
definitivamente. A sua idade não ajuda a retornos e muito menos se acredita que
a história de Moçambique se possa vir a escrever de frente para trás só para
acomodar um cidadão com aspirações monárquicas. Se Guebuza se retira não deve
voltar em 2019. Já não tem saúde para isso. E idade…
A
acontecer o cenário de que aqui hoje traçamos um esboço, isto é, a hipótese de
Guebuza manter-se como presidente do seu partido, este cidadão seria o primeiro
empresário a mandar no País e nas suas instituições caso nas eleições a parte
que ele não pode fazer sozinho lhe saísse a gosto. Moçambique deixaria de ter Estado.
Passaria a ser dirigido por uma associação de direito privado que persegue fins
políticos – o partido Frelimo.
Moçambique
deixaria definitivamente de ter Estado.
O
ADN de Armando Guebuza permite tais sonhos. Ficar em posição de promover a
demissão do Primeiro-Ministro e de ministros que não lhe obedeçam; Estar em
posição que permita mudar as pedras na bancada da Frelimo na Assembleia da
República sempre que suspeite de alguma contrariedade; Estar capaz de usar o
poder para inclusivamente patrocinar o “impeachment” do próprio PR na
eventualidade de ser um do seu próprio partido, ou até de um PR de outro
partido ou coligação, caso o partido Frelimo conseguisse continuar a ter
maioria absoluta no Parlamento, não é nada que o Senhor Guebuza não possa ter arquitectado.
Por
todas essas hipóteses e mais que aqui não dissemos, mais do que eleger um
presidente da República e eleger deputados nas próximas Eleições Gerais
(Presidenciais e Legislativas) de 2014, por este andar da carruagem no seio do
Partido Frelimo o País poderá ter de optar entre um cidadão que se guindará a
Rei pondo e dispondo a seu bel-prazer de nós todos e das riquezas do País, ou
dizer definitivamente aos políticos que quem manda em Moçambique é o povo em
quem reside a soberania.
Falando-se
ultimamente de Filipe Nhussi como o homem que poderá ser o candidato à
Presidência da República pelo Partido Frelimo como figura de charneira entre as
pretensões de Guebuza e a ala maconde dos veteranos Chipande e Pachinuapa, não
sendo ele o presidente do partido, o que se poderá esperar caso atinja a chefia
do Estado?
Que
papel irão jogar os “camaradas” de Cabo Delgado e do Centro e Norte do país com
as minas e tanta coisa mais a aflorar por aquelas bandas? Vão deixar passar a
banda ou vão-se impor? O que dirão os eleitores nas eleições de 2014 que no que
respeita às questões internas do partido Frelimo não são pessoas a levar em
conta?
Para
esse momento até pode ser que os “camaradas” vencidos ajudem um candidato da
actual oposição a chegar à Presidência da República. Já se viu disso em
autarquias…Mas isso é coisa que não entra para já na equação que se cinge ao
jogo para o X Congresso…
Se
Guebuza se mantiver como presidente do partido Frelimo, Filipe Paúnde terá o
seu quinhão assegurado e talvez por ver essa hipótese no horizonte esteja a ser
tão prestável a certos papéis. É inclusivamente da terra da pretendente a
“rainha”, a muito activa Primeira Dama. Tão pretendente que até há quem ponha a
hipótese de Guebuza ter na manga uma jogada peronista.
“Não
há nada que Armando Guebuza não seja capaz de fazer”. Pena que Samora já cá não
está para contar e tirar a quem as tiver certas dúvidas…
Resta
saber até que pondo o partido Frelimo em si acabará por admitir tornar-se um
reduto monárquico, a holding de Armando Guebuza.
O
tempo o dirá… (Canalmoz / Canal de Moçambique)
Imagem: Charge de Dom Pedro,
às vésperas Independência do Brasil.
mestresdahistoria.blogspot.com
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