sábado, 21 de agosto de 2010

Editorial. Temos todos de impedir que nos prendam a mente


Maputo (Canalmoz) - Há muito que estamos a alertar para os perigos que certas atitudes governamentais suscitam. O que dizíamos sobre os combustíveis acabou por se confirmar, sendo apenas a realidade muito mais grave do que alguma vez se poderia supor. Sente-se o descontrolo e a insatisfação a crescer. O Banco Central até já entrou no negócio dos combustíveis. Reduziu a ajuda externa, o dinheiro do ‘pó’ voou e está visto para onde os sucessivos governos que temos tido – este em particular – nos levaram.

O Metical está de rastos. Agora inventaram que afinal temos petróleo na Bacia do Rovuma sem saberem dizer-nos quando começa a exploração porque precisamente ainda não sabem se é comercialmente rentável explorar o tal “petróleo”. Hámuito que se sabe que há petróleo em Moçambique. O que nos falta saber, continuam sem nos dizerem: se é ou não comercialmente viável. Não nos disseram até aqui. Até lá não passa de mais um puro exercício de ilusionismo. Os moçambicanos precisam de factos não de conversa balofa.

O País está a entrar num novo ciclo perigoso e estas notícias futurologistas não resolvem o nosso problema. Precisamos de boa governação agora. Já. Sempre.
Um punhado de senhores com os olhos postos apenas nos seus umbigos e ambições, teimosamente insiste em não ouvir ninguém. Com o desnorte que adveio de anos de desgoverno chegámos onde estamos hoje. Perante a insatisfação popular, está a crescer o abuso de Poder. Depois de terem tentado as mais sofisticadas formas para nos enganarem agora já querem subverter de novo a democracia..

O que julgávamos ser passado, está de novo a regressar. A mesma arrogância que já fez o País passar por grandes tormentas, está de novo presente. Agora, quando a crise económica já não pode mais ser escondida e se tornou mais do que evidente que muito para além da componente ‘importada’ é sobretudo fruto do acumular de erros e abusos de quem se auto-promove e auto-intitula-se insubstituível, certos senhores e os seus séquitos voltam a exibir a sua arrogância e esta está já a assumir proporções indecentes.
Por todos os lados começa a sentir-se um profundo desânimo a apoderar-se dos cidadãos ao mesmo tempo que entre os mais afoitos cresce a determinação de se oporem às veleidades dos que ressurgem a quererem ressuscitar as pretensões que a luta de outros homens se encarregou de conter e o tempo se encarregou de frustrar.
Amolecemos crentes. Os abusos estão de regresso.
Assistimos de novo a tentativas de nos amordaçarem.
As ‘certezas’ saloias, dos que sempre se julgaram com um coeficiente de inteligência acima dos demais, estão a reemergir e a fazer reduzir a esperança que tanta falta nos faz.

Uma governação realmente eficiente não se dedica a jogadas de bastidores de tão baixo nível e tão infantis como as que ultimamente se vão somando.
Uma Justiça comprometida com a Lei não se comporta como há dias se viu na Beira, a reboque de incautos predadores do património público erguido à custa dos impostos de quem para além de os ter de pagar nem sequer ganha o suficiente para viver num Estado em que os que falam de auto-estima se continuam a pavonear, arrogantemente engalanados como não se viu ao mais vil fascista que levou os moçambicanos a unirem-se em torno do mesmo ideal de liberdade pela sua auto-determinação e independência.

Num Estado que se preze, os seus cidadãos não podem continuar a assistir passivamente a toda a manipulação que permite que autênticos ladrões e predadores de municípios e do Estado continuem impunes sob protecção ao mais alto nível.
A arrogância e os abusos de poder que estão a desfilar aos nossos olhos tem de ter um fim. Os mesmos já o tentaram uma vez e estão a voltar a experimentar novos caminhos para que a sua vontade prevaleça à liberdade e respeito pelas diferenças.
Há senhores que com os seus abusos estão a suscitar a revolta que pode pôr a nossa segurança colectiva em perigo.
Não fora a inteligência de todo um povo já estaríamos de novo com o País entravado pela violência.
Com os Desmobilizados de Guerra viu-se a mais recente cena de arrogância e estupidez mostrar a sua ‘classe’.

Não se iludam os que pensam que a paciência não tem limites.
Felizmente um homem sensato foi capaz de perceber a imbecilidade que nos governa. Já veio a publico afirmar que “a intenção dos desmobilizados de guerra é exigir os seus direitos que o Governo da Frelimo está a violar”. Disse também que nunca foi propósito, deste grupo de homens ofendidos na sua auto-estima e enganados, “desestabilizar o país”.
Hermínio dos Santos foi claro e extremamente explícito e inteligente: “Conhecemos o que é a guerra”. Estava a dizer a todos que não nos devemos preocupar porque a violência não vai ser a opção do seu grupo para resolver o mal que os afecta, que não é afinal muito diferente do que afecta outros milhões de moçambicanos ofendidos diariamente na sua auto-estima pela arrogância de um punhado de senhores que exibem todos os dias o fausto à custa do erário público e da gatunagem, ao mesmo tempo que pedem aos concidadãos para entenderem que não há meios para os satisfazer e aos seus mais justificados desejos de estabilidade social.
“Este país não é da Frelimo. Este país é do Povo Moçambicano. Por isso vou continuar a lutar pelos nossos direitos”, lembrou há dias Hermínio dos Santos, presidente do Fórum dos Desmobilizados de Guerra depois de na sua residência ter sido preso, sem mandato judicial e depois do Por do Sol – o que a lei impede – apenas por estar a organizar uma manifestação pacífica em defesa dos interesses dos seus co-associados, sempre ignorados e desprezados pelo Governo.

A cidadãos ofendidos pelo Governo este não lhes reconhece direito a manifestarem-se, nem mesmo pacificamente – sendo um direito constitucional. O que se deve concluir do mesmo governo que manda forças policiais fortemente armadas para cima desses mesmos cidadãos? O que se pode pensar de governantes que se comportam de tal forma irresponsável?
A presidente da Liga dos Direitos Humanos, Alice Mabote, já não tem dúvidas e diz: “A arrogância dos dirigentes substituiu a lei e o respeito em Moçambique”.
Que fazer perante esta “arrogância que tem a protecção do Comité Central da Frelimo”, como diz Alice Mabote?
Perante “uma arrogância que não se compadece com os princípios de um estado de direito democrático”, como acrescenta a presidente da Liga dos Direitos Humanos, quem se atreve a dizer aos moçambicanos para continuarem a permitir que os espezinhem?

Moçambique não pode continuar a ser um País propriamente não recomendado quando o assunto for legalidade e justiça.
Quando uma Polícia que deveria servir para nos defender, mostra músculos a quem está desarmado enquanto se acobarda perante verdadeiros bandidos e traficantes de toda a espécie, que mais se pode esperar de quem a dirige?
“Há muita coisa que anda mal”. “Atingimos o ponto crítico. Temos uma polícia que é para nos defender e essa mesma polícia é baleada. Atingimos o ponto crítico da incapacidade e do azedar de relações dentro da própria polícia”, conclui a presidente da LDH.

O país precisa de se unir, para se defender de quem nos desonra e desonra a Polícia não menos esfomeada colocando-a contra quem apenas pede pão.
É tempo dos moçambicanos pararem para pensar porque teremos de continuar a depender de gente sem escrúpulos?
É urgente pôr-se fim a esta arrogância e tanta incapacidade pretensiosa.
Saibamos honrar o nosso poeta maior, José Craveirinha. “Ninguém pode prender a minha mente”, escreveu ele no seu poema “Estamos todos de acordo”.
Com menos arrogância de quem governa, Moçambique tornar-se-á um País mais bonito para todos nós. Mãos à obra! Faz falta defendermos a decência e uma mais justa distribuição da riqueza. É preciso travarmos a arrogância e defendermos de novo a liberdade.

(Canal de Moçambique) 2010-08-20 08:05:00
Imagem: http://abrupto.blogspot.com/salazar1.jpg

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