sexta-feira, 17 de julho de 2015

Angola. Fim de 2014 negativo para a Sistec


Crise cambial, queda das vendas, aumento dos custos, pedidos de pagamento aos fornecedores cancelados pelos bancos desde o princípio deste ano e concorrência desleal estão a prejudicar a actividade da Sistec, alerta ao Expansão o administrador financeiro da empresa, António Candeias.

Osvaldo Manuel
http://expansao.co.ao/Artigo/Geral/59242

As vendas da Sistec caíram 15% no primeiro semestre desde ano, período em que os custos subiram 17%, revelou ao Expansão o administrador da área financeira do grupo, sem indicar valores. A desvalorização do Kz face ao dólar norte-americano, aliada ao facto de muitos pagamentos a fornecedores estarem há meses a aguardar luz verde dos bancos, são outras preocupações da empresa, diz António Candeias, que critica a concorrência desleal do comércio informal na área da informática e tecnologia.
Segundo António Candeias, que falava à margem da apresentação do Relatório e Contas da empresa relativo a 2014, o ano passado trouxe "muitas surpresas para as empresas angolanas. A partir do terceiro trimestre de 2014 as firmas começaram a verificar quebras nas vendas. No ano passado, ainda assim, as vendas da Sistec registaram um aumento de 8,72%, face a 2013, para 10,337 mil milhões Kz, enquanto os custos com pessoal subiram 12%, para 1,767 mil milhões Kz. Os resultado líquidos aumentaram de 10%, para cerca de 321,7 milhões Kz Apesar de apresentarmos um acréscimo no volume das vendas , ele não é real, ou seja, o aumento que se verificou, em termos nominais e reais, pode ter leituras diferente", disse.
Para o administrador financeiro, tendo em conta que a desvalorização do kwanza em relação ao dólar em 2014 foi de 5, 3%, e que a taxa taxa de inflação foi de 6,89% "os números não podem ser lidos rigorosamente". A empresa, afirma, está a assistir a uma "estagnação quer nas vendas quer nos resultados". "Tivemos um crescimento sustentável até ao terceiro trimestre, mas, a partir do quarto, as vendas caíram drasticamente", afirmou.
"As expectativas que a Sistec augurava em 2013 foram concretizadas", segundo o administrador, mas, no terceiro trimestre de 2014, a empresa teve e repensar a sua política, principalmente ao nível do investimento, cancelando novos projectos que tencionava realizar noutras áreas da companhia, incluindo alguns que deveriam ocorrer em 2015.
Entretanto, a banca comercial não está a pagar aos fornecedores em tempo útil, causando um aumento artificial nos preços pagos pelas empresas, uma vez que há diferenças cambiais que chegam a 30% entre o momento em que a encomenda foi feita, e o momento em que foi paga.
"Estamos a falar de uma desvalorização real que começa a chegar perto dos 30%, ou seja, quando formos pagar aos fornecedores, os bens poderão custar cerca de 30% mais". O gestor lembra que as pessoas têm menos dinheiro, o que está a causar quebras no consumo, mas garante que a empresa tem vindo a desenvolver políticas no sentido de introduzir alguns factores de correcção de forma a manter o equilíbrio estrutural, não inflacionando em excesso os preços. Não podemos, linearmente, actualizar os preços em função da desvalorização da nossa moeda, porque senão as pessoas não comprariam, sublinha.
O administrador financeiro receia que existam empresas que possam caminhar para o abismo. "Embora os volumes de vendas possam, aparentemente ,estar estáveis, ou com algum crescimento, o facto é que. Com a desvalorização do kwanza, as vendas estão a cair e os custos estão a subir", o que pode levar "a curto prazo" algumas empresas a "caminharem para a falência", alerta. A Sistec sofreu uma quebra nas prestações de serviços, porque alguns contratos com o Estado foram cancelados, enquanto outros estão a ser renegociados "de forma dura".
O gestor alerta ainda que a venda ambulante tem vindo a prejudicar o negócio e lamenta que não se tomem medidas para pôr termo à situação. "A venda ambulante em frente às lojas é uma situação que existe há muito tempo e nós não vemos acções correctivas", afirma o gestor.


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