Lisboa – O histórico militante do
MPLA e antigo Primeiro Ministro de Angola, Marcolino José Carlos Moco reagiu
com preocupação as recentes declarações do líder do seu partido José Eduardo
dos Santos acusando-o de estar “em busca de passados e futuros culpados” que
resultaram na detenção de 15 jovens acusados de Golpe de Estado.
Fonte: Club-k.net
O também antigo Secretário Geral do
partido que sustenta o regime em Angola diz que “O Senhor Presidente, agora nem
mais cuida de se distanciar do que pensávamos ser um aparente zelo dos órgãos
securitários de um cada vez mais musculado Estado angolano, que volta a meter
medo a muita gente.”
A preocupação de Marcolino Moco é
baseada em antecedentes históricos ocorridos em Maio de 1977, quando o então
Presidente Agostinho Neto disse que não iria perder tempo com julgamentos em
relação aos opositores internos resultando execuções de milhares de mortos. A
reação de Moco denota receio de que quadros do aparelho de segurança, PGR e
polícia etc, interpretem as palavras de JES como um incentivo para desencadear
detenções e excessos de zelo contra vozes críticas ao regime.
Para melhor entendimento do pensamento
de Marcolino Moco, segue em anexo a sua posição fortemente difundida nas redes
sociais tendo como “headline”: "Portanto..." Senhor Presidente: a
propósito da última intervenção do Presidente dos Santos.
Começo com estas palavras das críticas
literárias das brasileiras Rita Chaves e Tânia Macedo, num trabalho de análise
à obra do escritor Pepetela.
"Portanto ...", Senhor
Presidente, agora nem mais cuida de se distanciar do que pensávamos ser um
aparente zelo dos órgãos securitários de um cada vez mais musculado Estado
angolano, que volta a meter medo a muita gente. E as invocações vão até ao 27
de Maio de 1977, para que os temores nos dilacerem ainda mais. É bom, por um
lado, porque o "pau" está a ser exibido por quem "mata a
cobra". Mas muito mau porque atemorizar só cansa, exacerba e descontrola.
Na melhor (ou pior?) das hipóteses só
adia. Na minha ideia, como já o afirmei várias vezes, o 27 de Maio e outros
factos anómalos que tiveram lugar muito antes daquilo que esperei vir a ser uma
viragem congregadora de todos os angolanos, deviam ser pacifica e calmamente
esclarecidos, sobretudo aos mais jovens, sem pôr acento tónico na
culpabilidade, porque tudo aconteceu em tempos de enorme descontrolo político e
emocional. Tentar-se-ia, no entanto, remediar as consequências sobre os
descendentes ou vítimas sobreviventes.
É um tema hoje muito tratado, lá onde se
pretende defender uma verdadeira reconciliação nacional, depois de graves
conflitos, com a designação de "Justiça de transição".
E "Portanto ...", o Senhor
Presidente, infelizmente, continua a fazer a invocação do 27 de Maio, em
sentido diverso. Em busca de passados e futuros culpados. E, pior, no sentido
de que quem não ganhou eleições, não importa como, será sempre coagido a
aceitar todas as decisões dos eleitos, por mais inaceitáveis que elas sejam.
"Portanto" é preciso rever as posições. "Portanto" é
preciso libertar os presos políticos, num país dirigido por um antigo
combatente da liberdade.
Imagem: auonline.com.br
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