Ilustração de Jeanne Waltz para a capa do
"Expresso
Segundo o jornal, a conjuntura económica difícil
deverá levar o presidente a manter-se no poder até 2022.
A capa da revista da edição de ontem do Expresso trazia
uma matéria assinada pelo director adjunto do jornal Nicolau Santos com um
título sugestivo: “O Rei Sol Angolano” e uma introdução que explica “a queda do
preço do petróleo e a crise que se abateu sobre Angola são o novo pretexto para
o presidente se eternizar no poder”.
A ilustrar a matéria, um desenho a preto e
branco do presidente (com excepção da gravata envergada que tem as cores da
bandeira nacional) sentado num trono como se de um monarca se tratasse. O
desenho também tem honras de reprodução na primeira página do jornal, onde se
chama ao chefe de Estado angolano: “Presidente vitalício”.
“O homem que domina a política angolana há 36
anos está a caminho de dar mais um golpe de mestre. Invocando as circunstâncias
excepcionais que o país enfrenta, como já o fez em várias outras ocasiões,
prepara-se para ficar no palácio presidencial até 2022″, diz o jornalista.
Para Nicolau Santos, a quebra do preço do
petróleo está a afectar a forma como o presidente garante “a lealdade das
elites políticas, económicas e militares” – sem o dinheiro das exportações
petrolíferas (o Banco Mundial calcula que USD 32 mil milhões de receitas não
chegam a entrar nas contas oficiais da Sonangol), as elites começam a ficar
intranquilas.
“Esta quebra de receitas apanhou os dirigentes
angolanos em contra-mão e evidenciou um país cheio de fragilidades. Não há uma
economia alternativa ao petróleo. Criou-se essa aparência mas ela não existe”,
afirma Xavier Figueiredo, especialista em questões africanas, citado pelo Expresso.
Uma “situação dramática” que levou o governo
angolano a dar 500 mil hectares de terra arável no Cuando Cubango como garantia
para renegociar a sua dívida com a China e obter um crédito de mais USD 25 mil
milhões. Isto numa zona onde os chineses já têm uma forte presença com campos
de arroz que se estendem por 15 mil hectares e que deixaram muitos camponeses
sem pastagens para o seu gado.
Nicolau Santos escreve também que os jovens
activistas detidos “estão a ser usados para passar o aviso, sobretudo em
Luanda, para os que eventualmente querem e podem fazer um golpe de Estado”.
“A criação de inimigos do regime, reais ou
imaginários, e de situações de tensão faz parte de uma clara orientação do
partido no poder em Angola para manter a unidade dos seus apoiantes e estarem
sempre na mó de cima no combate político”, explica o director-adjunto
do Expresso. Tudo isto “tendo como pano de fundo uma situação económica
que se está a deteriorar rapidamente”.
Como diz Xavier de Figueiredo, “nunca vi os
dirigentes angolanos numa situação de aflição tão grande como agora” e é com
essa perspectiva que se tem de olhar os acontecimentos dos últimos meses em
Angola, como a prisão dos activistas e o massacre dos seguidores da seita
A Luz do Mundo.
“Ainda por cima, as perspectivas para o petróleo
angolano não são brilhantes. A exploração em terra ou em águas rasas está quase
esgotada” e “não têm aparecido novas jazidas de fácil acesso e a aposta no
pré-sal” falhou porque a sua exploração é demasiado cara face aos preços actuais
do petróleo no mercado internacional.
Tal como antes com a guerra civil, depois com a
reconstrução nacional, a actual conjuntura económica poderá ser usada pelo
presidente para se manter no poder para além do seu actual mandato,
adianta o artigo do Expresso.
José Eduardo dos Santos tinha três hipóteses em
cima da mesa, segundo o semanário português, sair a meio do mandato, que seria
este ano; cumpri-lo até ao fim, isto é, até 2017; ou continuar mais um mandato
até 2022, altura em que teria 80 anos. E aparentemente é para esta última
hipótese que está a apontar agora.
In REDE ANGOLA
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