segunda-feira, 20 de julho de 2015

Jornal “Expresso” chama Rei Sol a José Eduardo dos Santos


Ilustração de Jeanne Waltz para a capa do "Expresso

Segundo o jornal, a conjuntura económica difícil deverá levar o presidente a manter-se no poder até 2022.

A capa da revista da edição de ontem do Expresso trazia uma matéria assinada pelo director adjunto do jornal Nicolau Santos com um título sugestivo: “O Rei Sol Angolano” e uma introdução que explica “a queda do preço do petróleo e a crise que se abateu sobre Angola são o novo pretexto para o presidente se eternizar no poder”.
A ilustrar a matéria, um desenho a preto e branco do presidente (com excepção da gravata envergada que tem as cores da bandeira nacional) sentado num trono como se de um monarca se tratasse. O desenho também tem honras de reprodução na primeira página do jornal, onde se chama ao chefe de Estado angolano: “Presidente vitalício”.
“O homem que domina a política angolana há 36 anos está a caminho de dar mais um golpe de mestre. Invocando as circunstâncias excepcionais que o país enfrenta, como já o fez em várias outras ocasiões, prepara-se para ficar no palácio presidencial até 2022, diz o jornalista.
Para Nicolau Santos, a quebra do preço do petróleo está a afectar a forma como o presidente garante “a lealdade das elites políticas, económicas e militares” – sem o dinheiro das exportações petrolíferas (o Banco Mundial calcula que USD 32 mil milhões de receitas não chegam a entrar nas contas oficiais da Sonangol), as elites começam a ficar intranquilas.
“Esta quebra de receitas apanhou os dirigentes angolanos em contra-mão e evidenciou um país cheio de fragilidades. Não há uma economia alternativa ao petróleo. Criou-se essa aparência mas ela não existe”, afirma Xavier Figueiredo, especialista em questões africanas, citado pelo Expresso.
Uma “situação dramática” que levou o governo angolano a dar 500 mil hectares de terra arável no Cuando Cubango como garantia para renegociar a sua dívida com a China e obter um crédito de mais USD 25 mil milhões. Isto numa zona onde os chineses já têm uma forte presença com campos de arroz que se estendem por 15 mil hectares e que deixaram muitos camponeses sem pastagens para o seu gado.
Nicolau Santos escreve também que os jovens activistas detidos “estão a ser usados para passar o aviso, sobretudo em Luanda, para os que eventualmente querem e podem fazer um golpe de Estado”.
“A criação de inimigos do regime, reais ou imaginários, e de situações de tensão faz parte de uma clara orientação do partido no poder em Angola para manter a unidade dos seus apoiantes e estarem sempre na mó de cima no combate político”, explica o director-adjunto do Expresso. Tudo isto “tendo como pano de fundo uma situação económica que se está a deteriorar rapidamente”.
Como diz Xavier de Figueiredo, “nunca vi os dirigentes angolanos numa situação de aflição tão grande como agora” e é com essa perspectiva que se tem de olhar os acontecimentos dos últimos meses em Angola, como a prisão dos activistas e o massacre dos seguidores da seita A Luz do Mundo.
“Ainda por cima, as perspectivas para o petróleo angolano não são brilhantes. A exploração em terra ou em águas rasas está quase esgotada” e “não têm aparecido novas jazidas de fácil acesso e a aposta no pré-sal” falhou porque a sua exploração é demasiado cara face aos preços actuais do petróleo no mercado internacional.
Tal como antes com a guerra civil, depois com a reconstrução nacional, a actual conjuntura económica poderá ser usada pelo presidente para se manter no poder para além do seu actual mandato, adianta o artigo do Expresso.
José Eduardo dos Santos tinha três hipóteses em cima da mesa, segundo o semanário português, sair a meio do mandato, que seria este ano; cumpri-lo até ao fim, isto é, até 2017; ou continuar mais um mandato até 2022, altura em que teria 80 anos. E aparentemente é para esta última hipótese que está a apontar agora.

In REDE ANGOLA


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