Lisboa - O rapper angolano Luaty Beirão, mais conhecido como
Ikonoklasta, encontra-se detido em Lisboa, depois de ter sido encontrado um
pacote contendo cocaína na sua bagagem de mão, disseram à Lusa dois amigos do
músico.
Fonte: Lusa Club-k.net
Luaty Beirão --
que tem dupla nacionalidade, angolana e portuguesa - viajou na segunda-feira de
Luanda para Lisboa, para iniciar a digressão do projecto musical Batida,
radicado em Portugal, adiantou o rapper Pedro Coquenão, que vive em Portugal e
integra a mesma banda.
Segundo as
mensagens de telemóvel lidas à Lusa por Pedro Coquenão, Luaty Beirão referiu
ter tido "complicações" no aeroporto da capital angolana.
"Demoraram algum tempo a deixá-lo passar e diz que lhe mexeram na
bagagem", conta o músico, também luso-angolano.
Na segunda-feira à
noite, Pedro Coquenão recebeu um telefonema de Luaty Beirão, já em Lisboa,
"dizendo que tinha sido detido", por ter sido "encontrado, na
roda de bicicleta que trazia embrulhada em plástico como única bagagem de mão,
um pacote de cocaína".
Luaty Beirão "anda só de bicicleta, costuma levar peças de cá para lá e trouxe esta para trocar", explicou.
"Ele diz que
sentiu que havia um volume estranho na roda, mas que nem teve tempo para falar
com ninguém, porque foi logo chamado por dois agentes, que lhe disseram que o
que estava lá dentro era um pacote de cocaína", relatou Pedro Coquenão,
que aguarda agora mais informações sobre o amigo, que se encontra no Campus de
Justiça.
O incidente já foi também descrito pelo activista angolano Rafael Marques no seu blogue Maka Angola, onde escreve que "Luaty Beirão foi detido ao fim do dia 11 de Junho, no Aeroporto da Portela, em Lisboa", depois de as autoridades alfandegárias terem encontrado "um pacote de cocaína no pneu da roda da sua bicicleta, que havia despachado em Luanda, forrada em plástico, para trocar em Lisboa, onde a adquiriu".
O vice-presidente
da associação Solidariedade Imigrante, Juca Silva, contactado pela RTP,
mostra-se incrédulo sobre a alegação de tráfico de droga que foi feita contra
Luaty Beirão: "É um jovem conhecido como opositor do regime de José
Eduardo dos Santos. Dele também se sabe que não bebe nem se droga".
As circunstâncias da detenção suscitam igualmente reservas a Juca Silva: "Luaty tinha despachado o mínimo possível de bagagem, já para evitar que houvesse manipulações. Finalmente, na única peça que despachou aparece um pacote de cocaína. Mas esse pacote não é descoberto ao passar pela alfândega. A polícia vai directamente ao tapete rolante". O que indica a existência de denúncia.
Contactado o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) para comentar a detenção do músico e oposicionista angolano pelas 19h45 de terça feira, nenhum porta-voz daquela polícia se encontrava disponível.
Conhecido activista anti governo e organizador de manifestações -- apesar de filho de João Beirão, já falecido, mas que era muito próximo do presidente angolano, José Eduardo dos Santos --, Luaty Beirão já foi alvo de inúmeras pressões e ameaças.
A 10 de Março, no município do Cazenga, em Luanda, onde deveria juntar-se a um protesto contra as autoridades angolanas, foi espancando por "milícias pró-regime", assim descritas por Rafael Marques.
Desde então, "fruto das ameaças que tem recebido, abandonou a sua residência e vive escondido", segundo Rafael Marques, que visitou Luaty Beirão "poucos dias antes da sua partida", tendo conversado sobre a digressão do grupo Batida. "Ciente das perseguições de que tem sido alvo, o Ikonoklasta viajou sem despachar bagagem, excepto a roda", acrescentou o activista angolano.
O grupo Batida vai participar no Festival Internacional Rio Loco, em Toulouse (França), que começa na sexta-feira.
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