Luanda - Três empresários bem sucedidos europeus estão
detidos em Luanda, acusados de associação criminosa e de tentativa de homicídio
de um parceiro de negócios. As autoridades, nomeadamente, a DNIC e a PGR,
acreditam que desmembraram uma rede de mafiosos, cujo envolvimento em vários
outros crimes ainda está sob investigação.
Fonte: A
Capital Club-k.net
As autoridades
judiciais angolanas investigam a eventualidade de outros crimes cometidos por
um grupo de três cidadãos europeus, dois portugueses e um italiano, presos
desde o passado dia 19 de Outubro, sexta-feira, por suspeita de envolvimento em
múltiplos delitos, entre os quais se destacam a formação de quadrilha e
tentativa de assassinato.
Este facto foi
avançado por fontes deste semanário afectas à Direcção Nacional de Investigação
Criminal (DNIC), as mesmas que confirmaram, posteriormente, a detenção dos
portugueses Marcelino Oliveira Rocha, de 84 anos de idade, e João Valentim, de
38 anos. Ambos, associados ao italiano Élio Castellena são suspeitos de formar
uma quadrilha responsável pela prática de vários crimes, muitos dos quais ainda
estão a ser investigados pelas autoridades nacionais.
Cada um desses
cidadãos estrangeiros agora detidos em Luanda, nas masmorras da DNIC, são
também conhecidos por cognomes sugestivos dos crimes de que são suspeitos de
praticar. Marcelino Oliveira da Rocha, por exemplo, é ainda conhecido como
Velho Mafioso, enquanto os seus alegados comparsas João Valentim, 38, e Élio
Castellena, 72, são também conhecidos, respectivamente, por O Príncipe e
Cavaleiro de Itália.
As autoridades
angolanas, nomeadamente, especialistas da Direcção Nacional de Investigação
Criminal (DNIC) e da Procuradoria Geral da República (PGR), instituições que
trabalham juntas neste caso, acreditam que os três cidadãos servem-se da sua
condição de empresários bem sucedidos em Angola para levar adiante as suas
acções criminosas.
Num caso concreto,
e que ditou a detenção do trio, a vítima foi um empresário libanês radicado em
Angola. Identificado pelas nossas fontes apenas como Castro, este só não perdeu
a vida, tal como acreditam as autoridades, por puro golpe de sorte, uma vez que
o estabelecimento comercial, sob sua gerência, foi invadido por elementos,
supostamente mandatados pelo trio ora a contas com a justiça. Desse assalto às
instalações do Grupo “Dimensão de Castro” resultou o roubo de uma quantia
estimada 600 mil dólares, além do desaparecimento de documentação importante.
O móbil do
crime
O móbil do crime,
ao que tudo indica, foi mesmo o roubo da documentação. Tratavam-se de contratos
e demais documentos comprovativos da relação comercial entre Castro e os três
empresários europeus. Em 2010, quando o libanês chegou a Luanda, proveniente do
seu país, pretendia investir em três sectores em Angola, nomeadamente, na hotelaria,
imobiliário e na construção civil.
Contactou, para o
efeito, três empresários com cartas dadas no mercado angolano e detentores de
múltiplas propriedades no país. Vejamos, por exemplo, que o octogenário
Marcelino Oliveira da Rocha, vulgo Velho Mafioso, é apontado como proprietário
de um edifício de mais de 60 apartamentos na rua Rei Katyavala, em Luanda. O
septuagenário Élio Castellena, por sua vez, detém fortes interesses no sector
de restauração, onde além da pizzaria Bela Nápoli, mantém sociedade em
restaurantes como o Rialto, na marginal de Luanda, e o Tamariz, na Ilha do
Cabo.
Mas foi com
Marcelino da Rocha com quem contactou, a princípio, o empresário libanês. As
nossas fontes avançam que ambos assinaram um acordo no qual o português
comprometia-se a arrendar ao libanês um total de nove apartamentos nos
edifícios 65 e 69 da rua Rei Katyavala, além de uma outra estrutura comercial
localizada mesmo no rés do chão dos dois edifícios.
O acordo tinha,
como contrapartida, o pagamento de 3 milhões de dólares, sendo válido até 2018.
Acordo fechado e dinheiro pago, Marcelino da Rocha comprometeu-se a entregar ao
Castro um contrato com escritura pública. Porém, tal nunca aconteceu. O
português, que alegou problemas de saúde, rumou para Lisboa, deixando uma procuração
em nome dos seus companheiros Élio Castellana, vulgo Cavaleiro Italiano, e João
Valentim, O Príncipe, conferindo-lhes plenos poderes para agirem no que fosse
necessário.
Castro, o
empresário libanês, conseguiu levar os seus projectos adiante, incluindo a
instalação de um restaurante, no caso o King Bar, cuja clientela cresceu a
ponto tal de ameaçar a existência da pizzaria Bela Nápoli. Neste cenário,
deu-se, por outro lado, um crescimento exponencial no mercado imobiliário em
Angola. Os apartamentos que o trio de empresários europeus colocou à disposição
do libanês valem, por agora, muito mais do que em 2010 altura em que o acordo
entre eles foi rubricado.
Estes factos
associados, segundo as fontes deste jornal, levaram o grupo de empresários
europeus a conjecturar desfazer-se do acordo então rubricado, cujo prazo de
vencimento está apenas marcado para 2018. As autoridades policiais acreditam
que, mesmo a partir de Portugal, Marcelino da Rocha orientou os seus sócios a
contratar um grupo de delinquentes para invadir o apartamento em que residia
Castro. As investigações policiais sugerem que a ordem era não apenas recuperar
os documentos mas, acima de tudo, eliminar fisicamente o empresário libanês,
asfixiando-o e, seguidamente, incendiar o apartamento para eliminar todas as
pistas.
Por sorte do
libanês, ele não estava em casa no dia do assalto. Mas quando lá chegou,
confrontou-se com o roubo de toda a documentação, e de um valor, no caso, 600
mil dólares, que ali mantinha guardado com o objectivo de participar de um
leilão de materiais de construção. Um dos guardas do edifício, no entanto,
observou a acção dos marginais, fortemente armados, e conseguiu vê-los
transportados na viatura de João Valentim, O Príncipe, que era um dos parceiros
do Velho Mafioso, ou Marcelino da Rocha como é mais conhecido.
Plano B
As autoridades
angolanas estão, agora, em posse de informações comprovativas de que, não
encontrando o empresário libanês em casa, a segunda opção do trio de europeus
seria intentar uma acção judicial especial de despejo por alegada falta de
pagamento, uma vez que, sem os documentos roubados do apartamento em que
reside, ele não teria como provar o contrário em tribunal.
No encalço
da pista
Estes factos,
entretanto, motivaram uma investigação das autoridades angolanas que foram dar,
alegadamente, com uma teia de acções incorrectas e de associações criminosas de
tais empresários europeus, dois dos quais, o português Marcelino da Rocha e o
italiano Élio Castellena já residem em Angola há mais de 30 anos. Uma das
medidas adoptadas imediatamente pelas autoridades policiais é, pois, a
reabertura de um processo de homicídio de um dos seus sócio do Rialto que foi
misteriosamente encontrado morto na sua residência. A Polícia foi, por outro
lado, dar de caras com documentação comprovativa de demandas de valores, para
Portugal, de forma ilícita durante um período calculado em 30 anos.
Sobre João
Valentim diz se ainda que aplicou um golpe parecido ao seu tio residente em
Portugal. Na sua última viagem, este empresário depositou altos valores numa
conta por si detida na Suíça, o que leva as autoridades a suspeitarem de fuga
de capital. Os especialista da DNIC investigam, ainda, um possível envolvimento
da sua esposa no caso.
Seis meses de
investigação terminaram, na sexta-feira, 19, com a detenção de Marcelino da
Rocha, ainda no aeroporto 4 de Fevereiro, quando regressava a Angola e Élio
Castellena, bem como a João Valentim, nas residências de cada um. Sabe-se,
entretanto, que três dos melhores escritórios de advogados do país se
mobilizaram em defesa dos cidadãos europeus, mas não conseguiram, desde já,
evitar a cadeia, tão pouco convencer o poder judicial a mantê-los em liberdade
enquanto aguardam por julgamento.
Contactada uma das
vítimas, no caso o empresário Castro, no sentido de dizer alguma coisa sobre o
assunto, este mostrou-se indisponível alegando que o processo encontra-se sob
investigação.
Mariano
Brás
Imagem: defensormaldito.blogspot.com
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