O motociclista António Paulo sofreu ontem, 24 de
Dezembro, uma emboscada na via pública, em Cafunfo, combinada entre
agentes policiais e guardas privados, que lhe causou graves ferimentos no
pescoço. A vila de Cafunfo situa-se no município do Cuango, na província da
Lunda-Norte.
Por ordem de efectivos policiais, guardas da empresa
privada de segurança Bikuar, montaram a emboscada nas imediações da Travessia
de Katewe, com uma corda a atravessar a estrada, de acordo com António Paulo. A
Bikuar presta serviços à empresa de exploração de diamantes Sociedade Mineira
do Cuango.
Ao passar, a uma certa velocidade, “os guardas puxaram
a corda, que me atingiu no pescoço, caí da motorizada e comecei a sangrar
muito”, explicou a vítima.
Segundo o motociclista, que prestava serviço de
moto-táxi, da referida travessia à Cafunfo, a punição deveu-se à sua indisponibilidade
para pagar, minutos antes, 1,000 kwanzas ao chefe do controlo de reguladores de
trânsito, conhecido apenas por Gasparito.
“O Sr. Gasparito mandou-me parar e, pessoalmente,
cobrou-me 1,000 kwanzas de ‘taxa’ para poder circular à vontade o dia todo. Eu
disse que ainda não tinha ganho nada e não tinha dinheiro. Continuei a minha
viagem”, disse António Paulo.
Em reacção, “o Sr. Gasparito ordenou ao colega dele
Tony, para perseguir-me. No meu regresso, o Tony já estava no posto da Bikuar e
quando me viu gritou para os guardas puxarem a corda da emboscada”, esclareceu.
O ferido foi levado à 2ª Esquadra policial, em
Cafunfo, enquanto o agente Tony apreendeu a motorizada.
Por sua vez, o oficial de dia, conhecido apenas por
Imperial, procedeu à acareação dos factos com os envolvidos, incluindo o guarda
da empresa Bikuar, que executou a ordem de puxar a corda.
Como resultado do inquérito informal, o oficial
Imperial ordenou a evacuação do ferido para o Hospital Central de Cafunfo, onde
foi tratado apenas com a emissão de uma receita para a compra de medicamentos.
O mesmo oficial encarregou também o agente Tony, como
o responsável pelo acidente, de assumir os custos com o tratamento de António
Paulo, que teve de recorrer a um posto médico privado, onde contraiu uma dívida
de 11,000 kwanzas.
Esta manhã, António Paulo foi apresentar queixa formal
à Secção Municipal de Investigação Criminal (SMIC), na 2ª Esquadra. Na presença
do correspondente do Maka Angola em Cafunfo, o oficial de serviço informou que
não estão a receber queixas hoje e pediu desculpas pelo inconveniente.
Homicídios
Os actos de violência de agentes policiais e
militares, contra cidadãos indefesos, têm estado a aumentar na região do
Cuango.
A 20 de Agosto passado, por volta das 19 horas, uma
patrulha conjunta de soldados das FAA, pertencentes à 75ª Brigada de
Infantaria, e agentes da Polícia Nacional detiveram três garimpeiros, nas
imediações de Katewe, no posto de Controlo do Rio Café.
Os garimpeiros telefonaram ao seu patrocinador,
conhecido apenas como Ruben, e um dos soldados falou directamente com ele,
tendo exigido o pagamento de US $500 para a libertação dos garimpeiros. O
patrocinador alegou não ter tal montante, nem mesmo o valor de rebaixa para o
resgate, fixado em US $300.
Houve discórdia, segundo agentes da polícia que
descreveram o caso ao Maka Angola. Um cabo das FAA, identificado apenas como
Nando, disparou contra o cidadão da República Democrática do Congo, Lefu Kule,
de 32 anos.
Os outros dois companheiros puseram-se em fuga. Mais
tarde regressaram ao local e encontraram Lefu Kule semi-enterrado numa vala. No
dia seguinte, pela manhã, a polícia procedeu à investigação do corpo, e por
cinco dias impediu a família de remover o corpo. O comandante municipal da
Polícia Nacional, Celestino Caetano, ordenou o enterro de Lefu Kule por um
dispositivo fortemente armado da Polícia Nacional e das FAA. À família do
malogrado foi apenas permitido cavar a sepultura, no cemitério junto ao
aeródromo de Cafunfo.
A 13 de Dezembro, a mesma área de Katewe registou
outro caso de homicídio imputado a efectivos da Polícia de Guarda Fronteira. O
cidadão da República Democrática do Congo, Hobei Makila, de 37 anos, foi morto
por um agente policial, que o atingiu com um tiro no lado esquerdo do maxilar.
Um grupo de agentes policiais havia interceptado uma
moto-táxi, cujo passageiro era Hobei Makila. Segundo depoimentos de testemunhas
oculares, incluindo do taxista, um dos agentes revistou o cidadão congolês,
encontrou US $100 num dos seus bolsos e “confiscou-o”. Por ter reclamado a
devolução do seu dinheiro foi baleado. Acabou por falecer no Hospital Central
de Cafunfo.
Efectivos da Polícia Nacional procederam ao seu
enterro no Bairro Gika, na área de Ngonga Babi.
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