No actual descalabro
financeiro angolano, enxertaram-se num curto espaço de um punhado de meses,
violações dramáticas dos direitos humanos consagrados pela constituição da
República de Angola. Umas dramáticas - sigam o nosso olhar para o genocídio
indesmentível do 16 de Abril do ano em curso de mais de mil fiéis desarmados e
sentados a cantar a Deus no Monte Sumi, na província do Huambo -, outras
grotescas, como a de que foram vitimados quinze jovens encontrados numa casa da
Vila Alice a dissertar sobre uma obra considerada subversiva e atentatória à
Segurança do Estado, o que deu origem a um estapafúrdio encarceramento por via
de uma acusação quase poética de “tentativa de golpe de Estado”.
Os jovens foram imediatamente
encarcerados e postos num estádio de isolamento total durante 10 dias. Em
seguida, foram levados para uma prisão situada a cerca de 70 quilómetros de
Luanda, onde foram interrogados por agentes da autoridade estatal. Apenas
quatro dentre eles tiveram direito a assistência de um advogado. Uma vergonha,
um escarro judicial dado à queima-roupa pela Segurança do Estado na figura do
chefe supremo!
(Figura de estilo
voluntariamente retorcida, pois as orientações vêm do Titular do Poder Executivo!)
No fundo de todas estas
exacções (com cubanos, kalupetekas e revús), impera um facto: o regime deixa
pouca coisa ao acaso, domina os media, nomeia os seus lacaios para dirigir as
instituições que levam a cabo as eleições, coopta políticos da oposição e intimida
os opositores. Por isso se pode dizer que não há oposição em Angola. Reina o
medo de ser assassinado.
E, nesta caminhada que
Angola está a fazer rumo a uma verdadeira ditadura, compete-nos relembrar que
«o general Kopelipa presidiu a um aparelho eleitoral que deixou 3,6 milhões de
pessoas impossibilitadas de votarem: quase tantos votos quantos o MPLA teve. A
percentagem de votos do MPLA caiu 9 pontos comparando com as eleições de 2008,
mas registou ainda assim uma vitória esmagadora, com 72 por cento dos votos. No
novo sistema, o primeiro nome na lista do partido vencedor seria o presidente.
Mais de três décadas depois de tomar o poder, José Eduardo dos Santos podia
dizer que tinha um mandato absoluto para governar “ad eternum”, apesar das
revelações de uma reputada sondagem de opinião que mostravam que tinha a
aprovação de apenas 16 por cento dos angolanos (Financial Times)».
Entretanto, cerca de
metade da população de Angola vive abaixo da linha internacional de pobreza
de 1,25 dólares por dia. Para dar uma ideia, podemos dizer que a esses
mais-pobres levar‐lhes‐ia, a cada um, cerca de
260 anos para ganhar o suficiente que lhes permitisse comprar o apartamento
mais barato no Kilamba.
O partido no poder prometeu
eletricidade na campanha eleitoral de 2008, mas pouca chegou e nada ou muita
coisa sobrou da última promessa de abastecer água canalizada, feita no período
que precedeu as eleições de 2012.
E entretanto, o governo
gastou 1,4 vezes mais na Defesa do que na Saúde e na Educação em conjunto. Por
comparação, o Reino Unido gastou quatro vezes mais em Saúde e Educação do que
na Defesa.
Citemos ainda o
Financial Times.
«Os generosos subsídios ao combustível são apresentados como um
bálsamo para os pobres, mas na verdade, fundamentalmente beneficiam os
suficientemente ricos para poderem ter carro e os politicamente relacionados
para ganharem uma licença de importação de combustível. O governo de Angola
meteu petro-dólares em contratos para estradas, habitação, caminhos de ferro
e pontes a um ritmo de 15 mil milhões de dólares por ano, na década até 2012,
uma soma enorme para um país com 20 milhões de pessoas. As estradas estão
melhores, os caminhos de ferro estão lentamente a chegar ao interior, mas a
explosão na construção também se revelou uma benesse para os burlões: calcula‐se que os subornos sejam responsáveis por mais de um quarto dos
custos finais dos contratos de construção do governo. Além disso, muito do financiamento
é feito sob a forma de crédito da China garantido pelo petróleo, sendo que
muito desse crédito é controlado por um departamento especial que o general
Kopelipa dirige há anos».
Somos de opinião que só
um abandono do poder por parte de José Eduardo dos Santos poderá evitar uma
explosão social, quiçá uma banca-rota técnica.
Folha 8. 01 de Agosto
2015
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