Maputo
(Canalmoz) – O Centro de Reassentamento de Cateme, no distrito de Moatize, é
talvez dos locais mais falado nos últimos tempos, mais do que a própria
exploração de carvão em Moatize. Casas mal construídas, fome, promessas não
cumpridas pela Vale e ainda a Força de Intervenção Rápida (FIR) a espancar as
populações locais que reclamam contra estas más condições que lhes foram
impostas como alternativa pela mineradora brasileira é o negativo do que se
sabe daquele centro. Mas numa clara campanha para reverter esta imagem, o
director Presidente da Vale do Rio Doce veio a Moçambique recentemente e
visitou Cateme. No fim da visita, Murilo Ferreira, que substituiu no cargo
Mário Agnelli disse ter apurado que “as coisas estão muito bem” em Cateme. São
as duas faces de uma mesma moeda, que mostram que entre uns e outros a visão
contradiz-se.
Fora
do País foi publicado há dois meses um relatório dos “atingidos pela Vale” onde
se ilustrava as casas de Cateme como um dos maus exemplos da Vale por onde
passa.
Mas
parece que o presidente da Vale não visitou a mesma Cateme onde as crianças das
famílias reassentadas alimentam-se de frutos silvestres e seus derivados,
devido à fome. Numa entrevista que o presidente da Vale concedeu em Moatize
após a visita a Cateme e que reproduzimos a seguir, ficam os armentos da
companhia. O Canalmoz não foi convidado a estar presente, mas a assessoria de
comunicação e Imagem da Vale Moçambique fez questão de nos enviar as perguntas
e respostas dessa conferência de imprensa do mais alto responsável da Vale do
Rio Doce, aqui entre nós representada pela Vale Moçambique.
A versão da Vale sobre a exploração em Moçambique
É a primeira vez que visita Moçambique?
Murilo Ferreira - Eu já
tinha estado aqui no final do ano passado, e a gente teve oportunidade de
visitar a Mina e todo este projecto, e hoje tive a oportunidade de ver o
Reassentamento de Cateme. Nós vimos as condições como as pessoas estão morando,
nós vimos as condições da escola, e acima de tudo vi o carinho com que meus
colegas da Vale estão a tratar tudo isso, de uma forma respeitosa, procurando
ouvir as pessoas. Eu gostei muito, fiquei muito impressionado, e acho que isso é
uma forma que combina muito com os valores da Vale. Entre os valores da Vale
está a paixão por pessoas, nós estamos falando das pessoas que moravam num
lugar que acabou sendo ocupado por este projecto, e estão tendo a possibilidade
de um recomeço de vida em outro lugar, fazendo isso de forma melhor. Vimos
meninos e meninas tendo seu lugar para ter seu aprendizado, então realmente me
impressionou muito. Ali, nós respeitamos as pessoas.
Qual a vossa avaliação da situação de Cateme
actualmente?
Murilo Ferreira - Olha eu diria para vocês que em um certo estágio que estamos muito bem
por aqui, com um padrão muito bom. Vocês sabem que eu sou exigente com
responsabilidade social, e eu vi este projecto aqui com muita alegria. Houve
críticas no passado, de coisas que não estavam funcionando muito bem. Nós
recebemos estas críticas com humildade, prestando atenção em qual foi o sentido
destas críticas, quais são os pontos a serem melhorados. O meu pessoal veio,
fez algumas correcções e continua fazendo, e assim tem que ser: nós não somos
perfeitos, não sabemos de tudo, nós procuramos fazer o melhor e naquilo que não
conseguimos fazer o melhor, nós lamentamos e refazemos.
Com relação a extracção de carvão, há alguma
dificuldade para ser superada?
Murilo Ferreira - A planta de Carvão, nós começamos a operar em Agosto de 2011, nós já
produzimos mais de 2 milhões de toneladas, enviamos para exportação 1 milhão de
toneladas, temos em estoque 300 mil toneladas, eu acredito que as coisas estão
indo bem. Houve um pequeno atraso no sistema de Sena na parte de Ferrovia, na
adequação de alguns trechos para que andasse rápido, são dificuldades que
acontecem em todo crescimento de produção, mas que estarão totalmente superadas
este ano. O mais importante é que estão sendo oferecidos empregos para este
contingente todo.
Quantos moçambicanos trabalham na Vale hoje?
Murilo Ferreira - Nós
temos hoje 85% de moçambicanos, sendo que no corpo de gestão são 30% de locais.
Comparando com outros projectos, inclusive no Brasil onde a Vale começou, eu
diria que são números bem elevados. Quando eu comecei no Estado do Pará numa
refinaria de alumínio, nós tínhamos 65% de locais. Depois foi crescendo o
número de gestores e gerentes, então este é um processo, e vejo que aqui
estamos indo bem.
Quais são as possibilidades da linha para Nacala?
Murilo Ferreira - Na linha
para Nacala, que atravessa o Malawi, a concessão em relação ao Malawi já está
recebida, em relação ao Brown Field também temos todos os elementos de
engenharia em mãos, o Green Field também. Agora estamos finalizando o contrato
de concessão para ser aprovado pelo Conselho de Ministros, estamos muito
ansiosos para começarmos e esperamos que tudo seja resolvido em 30 dias.
As exportações já estão a ter um retorno do
investimento feito?
Murilo Ferreira - Nós
ainda não estamos nesta fase, nós estamos colocando em alguns clientes o carvão
aqui produzido, é preciso dizer que aqueles que já receberam estão muito bem
impressionados com a qualidade, isso é importante porque nossos clientes precisam
estar satisfeitos para ter fornecimento estável e permanente.
Para quando a Vale poderá começar a ter retorno?
Murilo Ferreira - Isso vai
demorar muitos anos porque estamos ainda iniciando a expansão de 11 milhões de
toneladas para 22 milhões de toneladas. Depois faremos ferrovia, porto, eu
acredito que só começaremos a ter algum retorno em 2014.
Para quais países o carvão da Vale vai?
Murilo Ferreira - Coreia,
Japão, Índia Brasil e futuramente para outros países.
Algo a complementar?
Murilo Ferreira - Eu
gostei muito que estivessem aqui nesta visita, porque quanto mais olhos olharem
para nosso projecto, mais vão reconhecer o valor dos nossos colegas aqui da
Vale Moçambique que estão fazendo o melhor para que o trabalho seja feito de
uma forma respeitosa e aquilo que não esteja bom a gente corrija. É importante
a presença de vocês, a imprensa com toda liberdade para fazer verificações e
comentários. Aproveito a oportunidade para agradecer a recepção que tenho
sempre neste país, de uma forma muito amável e carinhosa. (Redacção)
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