quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Angola. Lunda-Norte. Emboscada de corda contra motociclista pela polícia



O motociclista António Paulo sofreu ontem, 24 de Dezembro, uma emboscada na via pública, em Cafunfo, combinada entre agentes policiais e guardas privados, que lhe causou graves ferimentos no pescoço. A vila de Cafunfo situa-se no município do Cuango, na província da Lunda-Norte.

Por ordem de efectivos policiais, guardas da empresa privada de segurança Bikuar, montaram a emboscada nas imediações da Travessia de Katewe, com uma corda a atravessar a estrada, de acordo com António Paulo. A Bikuar presta serviços à empresa de exploração de diamantes Sociedade Mineira do Cuango.

Ao passar, a uma certa velocidade, “os guardas puxaram a corda, que me atingiu no pescoço, caí da motorizada e comecei a sangrar muito”, explicou a vítima.

Segundo o motociclista, que prestava serviço de moto-táxi, da referida travessia à Cafunfo, a punição deveu-se à sua indisponibilidade para pagar, minutos antes, 1,000 kwanzas ao chefe do controlo de reguladores de trânsito, conhecido apenas por Gasparito.

“O Sr. Gasparito mandou-me parar e, pessoalmente, cobrou-me 1,000 kwanzas de ‘taxa’ para poder circular à vontade o dia todo. Eu disse que ainda não tinha ganho nada e não tinha dinheiro. Continuei a minha viagem”, disse António Paulo.

Em reacção, “o Sr. Gasparito ordenou ao colega dele Tony, para perseguir-me. No meu regresso, o Tony já estava no posto da Bikuar e quando me viu gritou para os guardas puxarem a corda da emboscada”, esclareceu.

O ferido foi levado à 2ª Esquadra policial, em Cafunfo, enquanto o agente Tony apreendeu a motorizada.

Por sua vez, o oficial de dia, conhecido apenas por Imperial, procedeu à acareação dos factos com os envolvidos, incluindo o guarda da empresa Bikuar, que executou a ordem de puxar a corda.

Como resultado do inquérito informal, o oficial Imperial ordenou a evacuação do ferido para o Hospital Central de Cafunfo, onde foi tratado apenas com a emissão de uma receita para a compra de medicamentos.

O mesmo oficial encarregou também o agente Tony, como o responsável pelo acidente, de assumir os custos com o tratamento de António Paulo, que teve de recorrer a um posto médico privado, onde contraiu uma dívida de 11,000 kwanzas.

Esta manhã, António Paulo foi apresentar queixa formal à Secção Municipal de Investigação Criminal (SMIC), na 2ª Esquadra. Na presença do correspondente do Maka Angola em Cafunfo, o oficial de serviço informou que não estão a receber queixas hoje e pediu desculpas pelo inconveniente.

Homicídios

Os actos de violência de agentes policiais e militares, contra cidadãos indefesos, têm estado a aumentar na região do Cuango.

A 20 de Agosto passado, por volta das 19 horas, uma patrulha conjunta de soldados das FAA, pertencentes à 75ª Brigada de Infantaria, e agentes da Polícia Nacional detiveram três garimpeiros, nas imediações de Katewe, no posto de Controlo do Rio Café.

Os garimpeiros telefonaram ao seu patrocinador, conhecido apenas como Ruben, e um dos soldados falou directamente com ele, tendo exigido o pagamento de US $500 para a libertação dos garimpeiros. O patrocinador alegou não ter tal montante, nem mesmo o valor de rebaixa para o resgate, fixado em US $300.

Houve discórdia, segundo agentes da polícia que descreveram o caso ao Maka Angola. Um cabo das FAA, identificado apenas como Nando, disparou contra o cidadão da República Democrática do Congo, Lefu Kule, de 32 anos.

Os outros dois companheiros puseram-se em fuga. Mais tarde regressaram ao local e encontraram Lefu Kule semi-enterrado numa vala. No dia seguinte, pela manhã, a polícia procedeu à investigação do corpo, e por cinco dias impediu a família de remover o corpo. O comandante municipal da Polícia Nacional, Celestino Caetano, ordenou o enterro de Lefu Kule por um dispositivo fortemente armado da Polícia Nacional e das FAA. À família do malogrado foi apenas permitido cavar a sepultura, no cemitério junto ao aeródromo de Cafunfo.

A 13 de Dezembro, a mesma área de Katewe registou outro caso de homicídio imputado a efectivos da Polícia de Guarda Fronteira. O cidadão da República Democrática do Congo, Hobei Makila, de 37 anos, foi morto por um agente policial, que o atingiu com um tiro no lado esquerdo do maxilar.

Um grupo de agentes policiais havia interceptado uma moto-táxi, cujo passageiro era Hobei Makila. Segundo depoimentos de testemunhas oculares, incluindo do taxista, um dos agentes revistou o cidadão congolês, encontrou US $100 num dos seus bolsos e “confiscou-o”. Por ter reclamado a devolução do seu dinheiro foi baleado. Acabou por falecer no Hospital Central de Cafunfo.

Efectivos da Polícia Nacional procederam ao seu enterro no Bairro Gika, na área de Ngonga Babi
In Unita Benguela. Facebook

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