Partilho convosco este magnifico texto de Concha
Caballero. Convido-vos a tomarem consciência da assustadora realidade,
convido-vos a pensarem se este futuro que está à porta é o futuro que querem
para vocês, para os vossos filhos, para os vossos netos.
É nossa responsabilidade contrariarmos este caminho, é
nosso dever transformar as palavras de Cocha em ficção e não permitir que
destruam ainda mais o nosso futuro e o dos nossos.
http://noticiasonline89.com/2013/11/29/o-dia-em-que-acabou-a-crise/
Concha Caballero é licenciada em filosofia e letras, é
professora de línguas e literatura. Entre 1993 e 2008 ocupou um lugar no
parlamento da Andaluzia onde chegou a ser porta voz do grupo esquerda unida.
Deputada autonómica entre 1994 e 2008 foi uma das
deputadas chave na aprovação da Reforma do Estatuto Autonómico da Andaluzia a
que imprimiu um caracter mais social e humano do que, no principio, os grupos
maioritários do parlamento pretendiam.
Actualmente colabora em diferentes meios de
comunicação. Escreve sobre actualidade politica. Em 2009 publicou o livro
“Sevilha cidade das palavras”.
“O dia em que acabou a crise!
Quando terminar a recessão teremos perdido 30 anos de
direitos e salários…
Um dia no ano 2014 vamos acordar e vão anunciar-nos
que a crise terminou. Correrão rios de tinta escrita com as nossas dores,
celebrarão o fim do pesadelo, vão fazer-nos crer que o perigo passou embora nos
advirtam que continua a haver sintomas de debilidade e que é necessário ser
muito prudente para evitar recaídas. Conseguirão que respiremos aliviados, que
celebremos o acontecimento, que dispamos a actitude critica contra os poderes e
prometerão que, pouco a pouco, a tranquilidade voltará à nossas vidas.
Um dia no ano 2014, a crise terminará
oficialmente e ficaremos com cara de tolos agradecidos, darão por boas as
politicas de ajuste e voltarão a dar corda ao carrocel da economia. Obviamente
a crise ecológica, a crise da distribuição desigual, a crise da impossibilidade
de crescimento infinito permanecerá intacta mas essa ameaça nunca foi publicada
nem difundida e os que de verdade dominam o mundo terão posto um ponto
final a esta crise fraudulenta (metade realidade, metade ficção), cuja origem é
difícil de decifrar mas cujos objectivos foram claros e contundentes:
Fazer-nos retroceder 30 anos em direitos e em salários
Um dia no ano 2014, quando os salários tiverem descido
a níveis terceiro-mundistas; quando o trabalho for tão barato que deixe de ser
o factor determinante do produto; quando tiverem ajoelhado todas as profissões
para que os seus saberes caibam numa folha de pagamento miserável; quando
tiverem amestrado a juventude na arte de trabalhar quase de graça; quando
dispuserem de uma reserva de uns milhões de pessoas desempregadas dispostas a
ser polivalentes, descartáveis e maliáveis para fugir ao inferno do desespero,
ENTÃO A CRISE TERÁ TERMINADO.
Um dia do ano 2014, quando os alunos chegarem às aulas
e se tenha conseguido expulsar do sistema educativo 30% dos estudantes sem
deixar rastro visível da façanha; quando a saúde se compre e não se ofereça;
quando o estado da nossa saúde se pareça com o da nossa conta bancária; quando nos
cobrarem por cada serviço, por cada direito, por cada benefício; quando as
pensões forem tardias e raquíticas; quando nos convençam que necessitamos de
seguros privados para garantir as nossas vidas, ENTÃO TERÁ ACABADO A CRISE.
Um dia do ano 2014, quando tiverem conseguido nivelar
por baixo todos e toda a estrutura social (excepto a cúpula posta
cuidadosamente a salvo em cada sector), pisemos os charcos da escassez ou
sintamos o respirar do medo nas nossas costas; quando nos tivermos cansado de
nos confrontarmos uns aos outros e se tenhas destruído todas as pontes de
solidariedade. ENTÃO ANUCIARÃO QUE A CRISE TERMINOU.
Nunca em tão pouco tempo se conseguiu tanto. Somente
cinco anos bastaram para reduzir a cinzas direitos que demoraram séculos a ser
conquistados e a estenderem-se. Uma devastação tão brutal da paisagem social só
se tinha conseguido na Europa através da guerra.
Ainda que, pensando bem, também neste caso foi o
inimigo que ditou as regras, a duração dos combates, a estratégia a seguir e as
condições do armistício.
Por isso, não só me preocupa quando sairemos da crise,
mas como sairemos dela. O seu grande triunfo será não só fazer-nos mais pobres
e desiguais, mas também mais cobardes e resignados já que sem estes últimos
ingredientes o terreno que tão facilmente ganharam entraria novamente em
disputa.
Neste momento puseram o relógio da história a andar
para trás e ganharam 30 anos para os seus interesses. Agora faltam os últimos
retoques ao novo marco social: um pouco mais de privatizações por aqui, um
pouco menos de gasto público por ali e “voila”: A sua obra estará concluída.
Quando o calendário marque um qualquer dia do ano
2014, mas as nossas vidas tiverem retrocedido até finais dos anos setenta,
decretarão o fim da crise e escutaremos na rádio as condições da nossa
rendição.”
Imagem:
wp.clicrbs.com.br
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