No caso presente dos ataques recorrentes do exército de
Israel à faixa de Gaza, o que mais faz confusão são duas vertentes opostas:
uma, a violência exagerada dos ataques Israelitas, outra, que se apresenta num
outro cenário como contraponto da selvajaria que qualquer guerra gera, a
publicidade dada pela organização militar ISIS aos assassinatos, bem vistas as
coisas, completamente irracionais, como que para elevar a um pedestal de feito
heróico tais actos de abominável crueldade, por via de vídeos e fotos das
decapitações, crucificações e fuzilamentos.
WILLIAM TONET
FOLHA8
Segundo a
opinião dum comentador do Facebook «A matriz de combate do ISIS é o da
cavalaria árabe: mobilidade e fluidez. Como curiosidade, esta campanha do
Estado Islâmico tem muitas semelhanças com o deambular táctico do próprio
profeta, há muitos séculos. A cavalaria é uma arma de ataque por excelência,
mas é uma péssima arma de defesa (perguntem ao Lawrence da Arábia). E aqueles jihadistas
não têm a disciplina necessária para se transformarem em infantes e defender,
com eficácia, cidades. Assim, recorrem à arma psicológica defensiva mais
antiga da humanidade: o terror. Ao espetarem cabeças em muros, e difundirem
vídeos de fuzilamentos etc, a mensagem é mais “não venham aqui, senão é o que
vos acontece”, é o “you are the next” que muitos percebem. É uma coisa mais
velha que os séculos. Como muito do que por ali há».
Segundo a mesma
fonte, o amigo Carlos Roque, «Esta coisa do fundamentalismo islâmico começou
com os árabes que andavam a estudar nos EUA no princípio do século passado e
oficializou-se com a criação da Irmandade Muçulmana em 1928, no Egipto. A
Irmandade Muçulmana é a mãe da Al Qaeda, do Hamas (Palestina) e da Jihad
islâmica (Síria e Palestina) e o seu objectivo é o controlo global pelo Islão.
Ora o Islão, no entender desta gente, não é uma mera religião. É um modo de
vida, ao qual vem agregado um código civil, criminal, de costumes, com
determinações sobre o que se come, o que se bebe, o que se veste e sobre todo
o resto» para, em seguida, rematar, «estes indivíduos não encaram o Alcorão
como milhões de outros muçulmanos – um texto sagrado – vêem-no como um manual
de instruções para passar em santidade aquilo que é transitório e perfeitamente
secundário, a vida, até chegar ao verdadeiro objectivo, o céu. Com algumas
nuances de atingir a glória em vida, sendo o martírio uma delas».
Deste retrato
aterrador apenas retiramos o extremismo que uma religião, seja ela qual for,
pode atingir como objectivo na manipulação da mente humana, chegando ao ponto
de sacralizar o assassinato de inocentes como acto de heroísmo.
Estamos
realmente num dos cenários mais retrógrados e monstruosos que de possa
imaginar e urge encontrar uma defesa à ameaça que essa gente tenta propagar,
como se o terror difundido à sua maneira fosse uma endemia que pudesse
abranger toda a humanidade.
Do outro lado,
sentimos que a argumentação de Israel não se justifica, ao pretender que as
suas tropas agem do modo que se impõe, isto é, sentindo-se ameaçados, atacam a
raiz do mal apenas para defender a sua sobrevivência. O argumento não colhe,
pois o que eles estão a fazer, à parte se apresentarem um pouco, para não dizer
substancialmente confortados pela selvajaria directa da ISIS («Vejam o que
eles fazem, nós apenas nos defendemos»), recai noutro tipo de selvajaria, mas
essa legalizada e acreditada por todas as nações do mundo Ocidental.
Ora, tanto de um
lado como do outro, instituiu-se o horror como sendo inevitável e isso não
pode ser. Portanto, tanto uns como os outros podem ser considerados criminosos
de guerra, o que, bem vistas as coisas, pouco ou nada quer dizer na conjuntura
actual de dominação avassaladora das grandes potências mundiais. Elas não
mexerão uma palha se esses ditos “crimes contra a Humanidade” lhes trouxerem
bons dividendos.
Mas ao ver aquela selvajaria, lembrei-me das semelhanças
com o que se passa, em Angola, sob a liderança dos islamistas radicais no seio
do MPLA, que também degolam os adversários, por pensarem diferente. A lista é
enorme, desde Ricardo de Melo, Mfumlumpinga Landu Victor, Cassule, Kamulingue
e Hilbert Ganga, todos degolados, uns por jacarés, depois das punhaladas dos
sabres, outros pelas escopetas especiais, armas brancas e balas incendiárias.
Imagem: altohama.blogspot.com