segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Diziam-nos que os próprios Samakuva e Chivukuvuku comem na mesma mesa com o Zé Dú







A DITADURA NÃO BRINCA EM SERVIÇO - FORÇAS DA SEGURANÇA EM PREVENÇÃO

Por: Pedrowski Teca – 18 de Agosto de 2014

Por mais de 3 anos, tornou-se habitual para a ditadura de José Eduardo dos Santos (JES) transformar Luanda ou o país em “estado de sítio”, metendo em prevenção todas as forças de tranquilidade, ordem pública e segurança nacional, sempre que é convocada uma simples reunião ou manifestação por parte de jovens ou qualquer indivíduo apartidário ou colectivo partidário e críticos ao regime do MPLA.
Ontem (Domingo, 17 de Agosto de 2014), o cenário não foi diferente quando encontrávamo-nos nos Combatentes em Luanda para uma reunião entre alguns jovens activistas cívicos do Movimento Revolucionário (MRA) e os crentes do Movimento da Consciência Revolucionária, com o propósito de debater detalhes sobre a realização de uma partida de futebol, com a designação atribuída pelos progenitores da mesma idéia: “homenagem à tia Ermelinda Freitas”.
O encontro teve de ser adiado porque o local da mesma estava abarrotado de agentes secretos (como tudo indicava) dos Serviços de Inteligência Nacional e Segurança do Estado (SINSE) trajados a civil.
No momento em que cheguei no local, acompanhado por um colega, encontramos cerca de dez jovens nossos do MRA conversando frente ao local da reunião. Conversamos sobre como alguns dos nossos jovens foram torturados pela Polícia Nacional no dia anterior (Sábado, 16 de Agosto de 2014), na rotunda do Camama, na tentativa de realização de uma marcha em apoio às vítimas das recentes demolições de casas no Município de Belas.
O aparato policial que se fazia presente no trajecto do Golf 2 à rotunda do Camama até à Administração Municipal do Belas no Sábado passado era anormal, e como se não bastasse o estado de sítio, os largos no Golf 2 e frente à Administração do Belas albergavam maratonas com “cómes e bébes” organizadas pela juventude do MPLA (JMPLA) em homenagem à mais um aniversário de JES, nascido aos 28 de Agosto.
Mais uma vez, a mistura entre as forças de segurança e ordem pública e a contra-manifestação da JMPLA para abafar a manifestação contra as demolições de casas convocada pelos jovens activistas cívicos, não constituía surpresa para ninguém.
“Tivemos um encontro com a Administradora do Belas e ela nem conseguia falar connosco e parecia perder o ar”, disseram os jovens, acrescentando que no mesmo encontro foram abordados por um indivíduo que parecia ser da Segurança do Estado, a quem apresentaram a petição da manifestação e que os aconselhou a não sairem às ruas com promessas de que tais problemas (famílias desalojadas) seriam resolvidos.
“Nos prenderam e nos bateram muito no Sábado. Diziam-nos que os próprios Samakuva e Chivukuvuku comem na mesma mesa com o Zé Dú e que não eramos nós que iríamos mudar Angola”, disseram os jovens.
A conversa era amena e passava-me despercebido que estaríamos a ser vigiados, quando de repente notei um “flash” de luz azulado vindo da janela de uma viatura de vidros fumados (na foto) de marca Toyota LD-67-91-CD que estava à uns 4 metros de nós e que já havíamos encontrado estacionado bem em frente ao edifício do encontro.
Direcionei as atenções dos meus companheiros à mesma viatura. Mesmo já tendo-a encontrado no local, a viatura estava ligada. Dei uma volta nela e pelos vidros fumados apenas consegui ver o motorista, com um físico grande, que cobria a cara com um chapéu. Notamos também que os pneus detrás da viatura estavam apertados, evidenciando que a mesma carregava algo pesado ou várias pessoas.
Ficamos em estado de alerta e continuamos a conversa, observando sempre o motorista que parecia estar a conversar com outras pessoas que se encontravam na viatura.
Concluímos que naquele preciso momento as nossas conversas estavam a ser escutadas e que estávamos a ser fotografados e filmados por pessoas que estavam dentro daquela viatura.
Minutos depois, mais jovens começaram a chegar no local e eu decidi ir estacionar num local seguro antes de nos dirigirmos no recinto da reunião. Procurando um estacionamento seguro, dei uma volta ao quarteirão de cerca de 5 prédios e notei a presença de vários agentes à paisana.
Acredito que a pequena experiência que eu e vários jovens activistas cívicos adquirimos na organização e participação em várias manifestações públicas, que nos envolveram em constantes atritos com agentes dos serviços secretos e a Polícia Nacional, está a nos ser útil para a sobrevivência, mesmo sem termos qualquer formação em contra-inteligência.
Apercebendo-se da artimanha dos supostos agentes do SINSE, abortamos o encontro que estava marcada para às 12 horas de ontem, aconselhando todos a saírem acompanhados do local afim de evitarmos situações de raptos, como foram os casos dos nossos companheiros assassinados por agentes do segurança e da polícia nacional, Kassule e Kamulingue.

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