segunda-feira, 25 de abril de 2011

A SINFONIA DISSONANTE


O mais importante é o Homem, havendo-o, tudo se resolve.
Quando se está há trinta e dois anos no poder, a confusão está instalada, e não é necessário importá-la. É difícil entender uma alternância democrática de um poder com trinta e dois anos.
De facto o conhecimento da verdade está numa comunicação social angolana tolamente e totalmente partidarizada. Ora, se está tudo em poder de um só partido e de uma só pessoa, ser mais activos? Significa silenciar todas as vozes que discordarem do partido maioritário, que desconhecemos que o é. Só nas próximas eleições (?) o saberemos. Mas como as outras, ficamos sem saber se elas virão ou não. Se regressarem, vão mais batotarem?
«Nas chamadas redes sociais, que são organizadas via Internet, e nalguns outros meios de comunicação social fala-se de revolução, mas não se fala de alternância democrática. Para essa gente, revolução quer dizer juntar pessoas e fazer manifestações, mesmo as não autorizadas, para insultar, denegrir, provocar distúrbios e confusão, com o propósito de obrigar a polícia a agir e poderem dizer que não há liberdade de expressão e não há respeito pelos direitos.» In José Eduardo dos Santos.
Se em Angola existisse liberdade de expressão, e uma imprensa verdadeiramente livre e independente, não existiriam os distúrbios, a confusão e o incitamento à chama das manifestações, convulsões e revoluções. Quando Angola obter a liberdade de expressão, as redes sociais perderão o interesse, porque localmente cada cidadão não verá o seu direito à livre expressão ser-lhe coarctado.
A tia Lwena já com sessenta e dois anos lembra-se do tempo colonial e compara-o com a nossa pobreza actual: «Ainda jovem, com o meu filho às costas, viajei de Quilengues, na Huíla, até Luanda. Durante a viagem, alimentámo-nos com um cacho de bananas que comprei quase de borla. As coisas eram muito baratas.» E prossegue em tom denunciador, critico: «Naquele tempo nunca nos faltava a água e a energia eléctrica de noite e de dia. Não nos roubavam as terras, não nos destruíam as casas como agora, que só sabem é roubar-nos. Os brancos não nos faziam assim. Lá nos matos do Quilengues vivíamos felizes. O meu pai era caçador, ia à caça e nunca nos faltava comida. Agora falta-nos tudo. Nunca vi tanta miséria e pobreza como agora, está demais.»
Do pagamento em fuba e do peixe podre, e porrada se refilarem que António Jacinto muito bem denunciou, agora temos fiscais e polícias que surram amiúde as mamãs zungueiras que nem conseguem fuba nem um peixe podre para comerem. E nos casebres que serão espatifados pelo constante tremor de terra político das novas centralidades, um novel estratagema para encher ainda mais os bolsos da célebre equipa da especulação imobiliária, as espoliadas dos casebres não têm água nem energia eléctrica. E se ousarem manifestarem-se, vão apanhar surra deste neocolonialismo, tal como prometido por um membro proeminente do nosso Politburo. Da actual extrema pobreza em Angola sabemos muito bem quem a criou. Todos conhecemos a sua origem, porque tudo o que é riqueza concentra-se em meia dúzia de pessoas que antes eram pobres e agora podres de ricos, querendo perpetuarem-se no poder criam leis repressivas que cortam cerce quem se lhes opor. Sempre a riqueza espoliada se protegerá conforme as leis do tempo do faroeste americano ainda a vigorarem em Angola. Os índices de pobreza aumentaram depois da grande calamidade nacional que foi o encerramento do mercado Roque Santeiro. Vê-se muito bem a olho nu o movimento nos contentores do lixo. E alguns desses clientes não andam mal vestidos. A pobreza aumentou assustadoramente, e vai, gera instabilidade social, porque nunca sabemos quem é o próximo da lista dos assaltos, ou assassinado por dá cá aquela palha.
Todos os programas de luta contra a pobreza falham porque as verbas consignadas nunca chegam aos destinatários, perdem-se nos ínvios caminhos, nos túneis da corrupção. E neste ritmo a pobreza nunca acabará, muito pelo contrário, galopará.
De facto em todo o mundo há corrupção, mas em Angola é demais. Salta à vista, qualquer um a vê, sente-a na alma, no coração. Está tão institucionalizada que Angola até merece mudança de nome: República da Corrupção de Angola. Em todos os actos e fora deles, a corrupção marcha em filas incomensuráveis. Nos outros países há leis que a combatem, os seus autores são julgados e condenados. Quando a imprensa os denuncia, há investigação, em Angola não. Nos outros países a justiça funciona, em Angola também não. Há trinta e dois anos que o eterno poder em Angola combate o mal da corrupção… transbordando-o nos cofres pessoais. Aqui na banda só o corrupto sobrevive, e quem não se lhe ajustar, fica a ver a banda passar.
Fortunas imensas de biliões de dólares concentrados num pequeno grupo de pessoas, que honestamente falando, nunca conseguirão justificarem a sua proveniência. Pois de facto e de jure todos sabemos que são de proveniência duvidosa.
Quem nos impôs o neocolonialismo com a invasão de mercenários cubanos, russos, e outros do Leste europeu, e agora nos impõe as máfias do imperialismo chinês? E de outros, muitos estrangeiros que nos roubam os empregos e nos concedem a legalidade do estatuto de povo atrasado, de baixa categoria e sem ela, espoliando-nos tudo, inclusive as nossas terras, lembrando, copiando estranhamente o tempo da Argélia então no apogeu do colonialismo francês que aqui procura impor o seu modelo. Eis um exemplo: um português que se intitula de engenheiro de informática, como o conseguiu? Não sabia o que era uma pen-drive. E há mais exemplos por aí, quanto bastem.
Não havendo liberdade de informação, o boato, a mentira, a intriga, a desinformação e a manipulação vingarão fortemente, abastecidos pela desinformação dos nossos meios de informação do partido-estado, único.
A Constituição de Angola é como um objecto de uso pessoal e descartável, porque sistematicamente violada não nos dá garantias para exercermos os nossos direitos de cidadania.
Quando um governo nos impele para além dos nossos limites da miséria, temos o legítimo dever de nos revoltarmos com todas as nossas forças.
Os ditadores têm sempre um exército privativo preparado para atirar a matar sobre as populações que apenas exigem o não morrer à fome.
Com uma bandeira, um hino, um palácio, uma guarda presidencial e um ditador se faz uma nação.
Nas ruas do petróleo escorregadio prossegue o cortejo fúnebre dos deserdados, dos sem futuro. O petróleo não é para quem quer, mas para quem o merece.
O ditador governa sozinho. Manda fazer eleições e ganha-as sempre. Com desplante, garante que o voto foi secreto. Que as eleições foram livres, justas e democráticas. E o altar do poder de Deus sorri-lhe. Tal como Ele, são eternos.
Os tempos e as calamidades estão mais violentos que nunca, as ditaduras também.
E depois de tanto fim da miséria proclamadas, eis que ela se agiganta. A curto prazo, a profissão (!) de político, tal como a de ditador findará.
As estradas da vida estão muito obscuras. Pudera, os corruptos desviaram as verbas.
Olho para o horizonte e o que vejo? A ditadura de quase quarenta anos a pastar sempre no mesmo sítio.
Os ditadores estão sempre a pregar que não têm dinheiro. Mas quando são derrubados do poder, eles convencem-se que nunca o serão, e é por isso mesmo que são ditadores, facilmente se vê que têm biliões de dólares em contas secretas.
Quando o analfabetismo conduz a governação, temos ditadura pela certa.
A espoliar as riquezas do país e a população, e da riqueza pessoal se vangloriar, eis o lugar-comum do ditador.
Somos sempre apanhados de chofre, descalços e nus, perante as promessas de uma nova vida e de um futuro hilariantes.
A nossa vida é uma peregrinação constante, até que finalmente encontramos o destino final do oásis eterno.
Durante a nossa vida errante nesta terra, observamos diariamente os lutos e os nasceres, as lágrimas e os sorrisos do princípio e do fim.
Uma das coisas fundamentais do nosso viver são os constantes projectos, a que nos agarramos com denodo. E tudo segue o seu curso normal, até que repentinamente algo sempre sucede, e que nos habituámos a dizer sempre inesperadamente… a morte.
Entretanto nada mudou. A riqueza permanece no poder de uns poucos, muito ínfimos, e a pobreza mantém-se nas multidões. É isto que ainda se convenciona chamar de liberdade.
Por mais cuidados que tenhamos, verificamos que as nossas poupanças confiadas, depositadas num banco evaporam-se. Bancos, essas horríveis criaturas que nos roubam o dinheiro, e isentam-se de responsabilidades.
Ao que chegámos. Até as nossas vidas sacrificam em nome do negócio.
Deus elege os ditadores, e o povo é eleito pelo demónio.
Nunca sabemos os caminhos por onde andar, porque todos nos conduzem a esta ditadura.























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