Mais de 500 desmobilizados, das ex-Forças
Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) concentraram-se hoje no no
Bairro João de Almeida, na cidade do Lubango, província da Huíla, para uma
marcha de protesto em reclamação das pensões que lhes são devidas há 20 anos.
O Fórum Independente dos Desmobilizados de
Guerra de Angola (FIDEGA) é responsável pela iniciativa. Segundo o seu presidente,
tenente-coronel Manuel Nunes, o FIDEGA decidiu cancelar a marcha, na hora, após
ter transmitido, aos seus filiados, o conteúdo do encontro que manteve com o
Comando da Região Militar Sul, no dia anterior.
“No período da tarde, de ontem, o
tenente-general Tchiloya, reuniu com a nossa direcção e garantiu-nos que, em
Julho, a Comissão de Pagamentos estará no Lubango, proveniente de Luanda, para
processar os pagamentos dos desmobilizados”, disse o tenente-coronel Manuel
Nunes. O tenente-general Tchiloya é o segundo comandante do Comando Militar da
Região Sul.
“Por isso, para darmos mais uma oportunidade
às autoridades, decidimos cancelar a manifestação”, conta o oficial na reserva.
No entanto, um grupo significativo de
desmobilizados, opôs-se à decisão e promete marchar no dia 13 de Julho. O
presidente do FIDEGA disse ao Maka Angola que “foi muito
difícil convencer os companheiros para não nos manifestarmos. Fui considerado
de traidor, por ter comunicado esta decisão”.
Garante, para o dia 3 de Agosto, quatro semanas
antes das eleições, a realização da marcha, caso o Ministério da Defesa e o
Estado-Maior General do Exército não efectivem os pagamentos das pensões em
atraso.
A cada desmobilizado cabe receber um subsídio
de 55,000 kwanzas (US $550), segundo procedimentos da Comissão de Pagamento de
Subsídios a Soldados e Praças Desmobilizados das ex-FAPLA. A referida comissão
continua por esclarecer se este subsídio é um pagamento único ou regular a que
cada desmobilizado terá direito, após 20 anos de espera. Ainda que seja apenas
um pagamento único (o que certamente causará controvérsia entre os
ex-militares), só para os 5,000 filiados do FIDEGA, o montante a disponibilizar
equivale a US $2.75 milhões de dólares.
O responsável do FIDEGA refere que, só na
Huíla, a sua associação controla 5,000 desmobilizados das ex-FAPLA, espalhados
em todo o território provincial, dos 16,000 efectivos desmobilizados na Huíla
que, há 20 anos aguardam pelo pagamento das suas pensões. Em Benguela, o número
de desmobilizados das ex-FAPLA, nas mesmas condições, ascende aos 18,000 no
total, segundo dados do exército.
Como parte das diligências dos ex-militares,
o FIDEGA endereçou, no princípio do mês, uma carta ao Comandante-em-Chefe das
Forças Armadas Angolanas, o presidente José Eduardo dos Santos, na qual propõe
um plano de formação profissional dos desmobilizados. “A ideia é de garantir
que os veteranos de guerra possam gerar os seus próprios empregos e
rendimentos, sem mais depender do Estado”, considera o tenente-coronel Manuel
Nunes.
“Também estamos a tentar aconselhar o
Comandante-em-Chefe sobre os abusos de poder no exército e os sinais de
enriquecimento ilícito de muitos oficiais. O chefe tem de ver isso. A atitude
de protesto dos desmobilizados, que está a crescer, é uma consequência desses
abusos”, assevera o interlocutor.
Sobre a eventual repressão da iniciativa dos
desmobilizados, à semelhança do que tem acontecido em Luanda, o tenente-coronel
garantiu que “aqui na Huíla temos uma cultura de que não precisamos de
autorização para nos manifestarmos. Temos de informar apenas. Assim fizemos e a
Polícia Nacional foi muito atenciosa. Desde logo garantiu a protecção do nosso
roteiro de manifestação”.