quinta-feira, 28 de junho de 2012

“Presidente da República se meteu debaixo das saias do MPLA”, afirmou almirante Miau



Luanda - A legitimidade de José Eduardo dos Santos como Presidente de Angola foi nesta quarta-feira, 27, questionada, em Luanda, por um oficial superior, agora na reforma e candidato à vice-presidência da República pela CASA-CE. O almirante André Gaspar Mendes de Carvalho disse que o Chefe de Estado angolano condensa as razões por que deixou as Forças Armadas Angolanas, que serviu durante 40 anos, e agora abraça a intervenção cívica e política.

Fonte: Lusa VOA
"Défice democrático, falta de credibilidade e corrupção", enumerou Mendes de Carvalho, que apresentou em conferência de imprensa as razões que o levaram a aderir ao projeto político da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), liderado por Abel Chivukuvuku.


Filho de Mendes de Carvalho, nacionalista histórico angolano, fundador do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), e conhecido também como o escritor Uanhenga Xitu, o almirante André Gaspar Mendes de Carvalho questionou, designadamente, a proveniência dos dinheiros que Isabel dos Santos, primogénita de José Eduardo dos Santos, utiliza para comprar posições de destaque em empresas portuguesas.


Reclamando a independência que alega faltar a outros, André Gaspar Mendes de Carvalho realçou que o partido no poder, o MPLA, não é o seu dono. "O MPLA não manda em mim. Deixei de ser do MPLA há 20 anos, com a despartidarização das Forças Armadas Angolanas, em 1992", frisou.


Depois de historiar o seu percurso ao serviço do Estado angolano, recordando que frequentou a Academia Naval em Cuba e serviu, como diplomata, no Zimbabué e em Moçambique, o almirante denunciou alegados convites para não se juntar à coligação de Abel Chivukuvuku.
"Ofereceram-me a embaixada na Nigéria e, como recusei, deram-me a escolher uma pasta ministerial", denunciou.


"O país caminha para o abismo e isso não se esconde com o cimento nem com o asfalto", disse ainda, referindo-se às políticas governamentais de ordem social e económica, considerando que apesar de Angola estar a crescer economicamente e das obras públicas, falta-lhe desenvolvimento. "O país está a crescer. O PIB cresce. Mas para que bolsos vai esse PIB?", sustentou, reclamando que muitos angolanos não conseguem actualmente alimentar-se como deve ser nem têm um teto para se abrigarem.


Sobre a corrupção que alega estar a desenvolver-se, André Mendes de Carvalho considerou que nem no antigo Zaire, actual República Democrática do Congo, ou na Nigéria "se atingiram os níveis de Angola".


Mas o alvo principal de Mendes Carvalho na conferência de imprensa foi José Eduardo dos Santos, a quem acusou de "se meter debaixo das saias do MPLA" para continuar Presidente da República "sem nunca ter sido eleito".


"Qual é a legitimidade de um Presidente que nunca foi eleito", questionou, afirmando "não ser aceitável" que José Eduardo dos Santos tenha patrocinado uma nova Constituição que lhe confere plenos poderes. "Isto não é aceitável. Não somos joguetes para sermos desrespeitados desta maneira", acrescentou.


Na parte final da conferência de imprensa, que se prolongou mais de 50 minutos, antes das perguntas dos jornalistas, André Mendes de Carvalho resumiu por que razão pediu a passagem à reforma para se dedicar à política. "Não era possível ver os nossos jovens a manifestarem-se nas ruas, com cabeças e braços partidos, a defenderem a minha dignidade e eu ficar de braços cruzados", acentuou. "Tenho o direito à resistência e o objectivo para estas eleições é, em primeiro lugar, ganhá-las e depois conseguir um parlamento mais equilibrado, porque estamos perante questões de intolerância política", observou.


Por outro lado, evocou razões pessoais para esta decisão, afirmando que não mudou de ideal, pois hoje defende o que gizara desde a sua juventude. “Os valores e princípios pelos quais me guio continuam a ser os mesmos, assim como os meus objectivos”, afirmou.


Declarou que a sua luta visa atingir os objectivos para os quais os angolanos se bateram contra o colonialismo português, figurado no trinómio: povo, revolução e democracia. Expressou disponibilidade para dar o seu contributo no futuro Parlamento, por via da CASA-CE, na base do pacto político estabelecido.

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