quarta-feira, 8 de junho de 2011

Enquanto a crise apertaoutros optam por ignorá-la. Canal de Opinião por Noé Nhantumbo


A agenda de manutenção do poder atrapalha avaliações e acções... Nem “cestas básicas” nem paliativos para ex-combatentes resolvem algo...
Beira (Canalmoz) – É por demais evidente que os governantes desta parte do continente se entregam a exercícios irrelevantes no que concerne a abordagens conducentes a tratar com rigor e o vigor necessários os problemas e crises em que vivem seus países. Tentam mostrar um ar de normalidade que não existe. Procuram atacar problemas que não são significativos nem definem o momento actual. Declaram constantemente que estão empenhados em contribuir com sua sabedoria e experiência para o desenvolvimento de seus países. Promovem uma situação de auto-proteccionismo que concorre inegavelmente para a corrosão dos esforços de democratização do continente. Em nome da sua permanência no poder recorrem a tudo o que está no arsenal de Maquiavel.
Quem se atreve a colocar Roberto Mugabe a frente de uma instituição da SADC num momento tão grave e particular do Zimbabwe decerto que possui na sua agenda algo de sinistro e tenebroso. Parece que a tese dos líderes regionais é de que enquanto se fala e se critica o que eles fazem, é altura deles se fortificarem e se protegerem. Deixar algum buraco aberto para a entrada do “vírus” da democracia na SADC pode ser fatal para eles. Parece ser essa a sua lógica omnipresente. Daí a ineficácia de Jacob Zuma nos seus “esforços” de mediação da crise no Zimbawe. Já antes dele também Thabo Mbeki havia falhado porque os líderes da SADC ainda não aceitaram que os tempos estão contra Roberto Mugabe e suas pretensões políticas.
A suspensão do Tribunal da SADC baseado em Windhoek mostra claramente de que lado estão os governantes da SADC. Ignorar uma crise ou os factores que podem produzir crises é um caminho aberto para a sua erupção. A corte de Mugabe deve se estar regozijando com a recente indicação rotativa de Mugabe só que nenhuma rotação vai substituir a exigências dos povos de África.
Foi gasolina gasta a deslocação de Zuma a Tripoli pretensamente para colocar a União Africana na rota da credibilidade e dos esforços para encontrar uma solução airosa para Kadhafi. Recusam-se a admitir uma saída que signifique a sua remoção do poder mesmo quando são plenamente votados fora por seus concidadãos.
O BAD, Banco Africano de Desenvolvimento, em declarações recentes diz exactamente o contrário do que os líderes africanos tem procurado vender aos africanos e ao mundo. África está em crise devido a insustentável distribuição da riqueza resultante do seu desenvolvimento, da falta de emprego para a juventude e da falta de liberdade de expressão. Estas são as causas gerais e principais apontadas pelo BAD. Outras decerto que se podem identificar.
Por diversas vezes muitos africanos se pronunciaram contra a maneira de conduzir os assuntos políticos adoptada pelos governantes africanos.
É conhecida a relutância de muitos africanos uma vez no poder de aceitar dialogar com seus concidadãos sobre assuntos de interesse comum. Quase sempre os que se encontram em posições de poder optam por colocar obstáculos de todo o tipo aos seus opositores. Isso é feito no âmbito de uma estratégia baseada no falso conceito de que a inclusão dos outros e sua integração no debate dos assuntos nacionais colocaria em perigo suas agendas de governação. Existe um receio de que os outros atrapalhariam a realização de seus objectivos.
Na realidade essa postura e maneira de proceder dos governantes tem mais a haver com uma agenda específica de exclusão dos outros e apropriação exclusiva de tudo o que sejam recursos e possibilidades nacionais. Governar é visto e concebido como forma de garantir enriquecimento próprio e de suas famílias, segurança e perpetuação de tal status. Não entra na equação servir os governados e qualquer aparência de aceitação de princípios democráticos e que acomodem os adversários políticos é mero jogo de fachada.
Quem arregimenta a comunicação social pública e promove a ingerência anti-democrática nos assuntos e prerrogativas do poder judicial e legislativo não está efectivamente interessado em democracia e na concretização de agendas que tornem os cidadãos mais livres e empoderados. Quem se dispõe a alterar a constituição do país e promove todo um jogo supostamente coberto de lógica para defender tal alteração tem de ser olhado com desconfiança porque daí só se pode esperar mais promiscuidade entre os poderes democráticos. A tentativa de impor modelos políticos similares ao que está em vigor na Rússia de Vladmir Putine tem ser vista como um perigo real à democracia de nossos países.

Quem arregimenta a comunicação social pública e promove a ingerência anti-democrática nos assuntos e prerrogativas do poder judicial e legislativo não está efectivamente interessado em democracia e na concretização de agendas que tornem os cidadãos mais livres e empoderados. Quem se dispõe a alterar a constituição do país e promove todo um jogo supostamente coberto de lógica para defender tal alteração tem de ser olhado com desconfiança porque daí só se pode esperar mais promiscuidade entre os poderes democráticos.

É preciso que as organizações da sociedade civil de países como Moçambique acordem do sono em que teimam em estar. Não vale nada o Grupo Moçambicano da Dívida aparecer querendo discutir assuntos do fórum financeiro e sobre a dívida pública do país quando ao mesmo tempo ignora estrategicamente debater o despesismo governamental. A utilização aberta de fundos públicos para financiamento de exercícios políticos do PR e de seu partido, a vista grossa crónica do Ministério de Finanças sempre que surgem evidências de apropriação indevida de fundos públicos, desvios de aplicação, roubo, privatização de patrimómio estatal fora das regras estabelecidas são sinais claros sobre o que os governantes estão preparados para fazer.
São os actos concretos que definem ou mostram qual é a real agenda de quem está no poder. De proclamações verbais e de promessas está o “inferno cheio”.
O GMD e similares enquanto não tomarem a peito este tipo de assuntos estarão fazendo o jogo do poder instituído e não da democracia económica no país.
Os problemas de Moçambique e as razões para a crise latente que se vive correspondem plenamente ao diagnóstico do BAD. Existem outros factores políticos específicos que se configuram motivos para a deterioração da situação moçambicana que tem de ser analisados friamente para não se correr o risco de cometer exageros ou subestimar factores de crise e assim adiar a solução desejada.
Nesta encruzilhada grave da construção de um Moçambique diferente, mais participado e significativo para os seus cidadãos é importante que todos se coloquem do lado único que pode possibilitar a emergência de uma situação de mais dignidade efectiva e não demagógica para todos. É preciso recusar as teses que só significam a contínua drenagem de fundos públicos em nome de uma suposta governação. Qualquer cidadão deve se ter deparado com o facto de que outros PR´s em outros países governam sem terem que calcorrear seus países em “presidências abertas e inclusivas”. Mesmo dispondo de helicópteros e jactos privados a sua utilização obedece a imperativos políticos e económicos rigorosamente escrutinados e aprovados pelo poder legislativo daqueles países.
Não é novidade que nenhum ministro se atreve a utilizar viaturas do governo fora das horas de trabalho e fora das missões oficiais. Pode paracer algo trivial e sem importância mas é precisamente isso que separa nossos governantes dos outros. Austeridade, responsabilidade, ética, moral, sentido histórico e coerência ultrapassam imperativos partidários e apetites privados de enriquecimento.
Nunca é tarde para mudar de rota e colocar-se em consonância com a realidade nacional e tudo fazer para corrigir os erros do passado. Teimar em ignorar os sinais dos tempos e optar por fechar os olhos aos clamores da maioria dos cidadãos de Moçambique e de África pode ser fatal... (Noé Nhantumbo)

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