Maputo (Canalmoz) – Chegaram-nos na última semana, de fonte geralmente muito bem informada e próxima do epicentro governamental, informações que nos puseram ainda mais preocupados do que já andamos com a perspectiva dos dias que por aí vêm. Sopraram-nos que a níveis muito altos do regime já se reconhece e se fala com grande preocupação de uma profunda crise financeira e de liquidez do Estado.
Disseram-nos, inclusivamente, que apesar dos paliativos a que quem de direito tem estado a recorrer será, muito em breve, impossível continuar-se a esconder a falência do Estado.
Pela primeira vez uma fonte assumidamente da Frelimo e muito bem posicionada soprou-nos aos ouvidos e reconheceu que se está a passar por um momento de grande risco de incapacidade de suster uma convulsão social grave que possa resultar de uma catadupa de problemas derivados da falta de liquidez do Estado.
Sente-se, entretanto, que as notícias veiculadas em certa imprensa, com que se agoiram bons dias no futuro, não passam de pretextos, como outros que os anos nos mostraram serem recorrentes para se fazer crer que está tudo bem.
Desta vez a coisa é mesmo grave e nem “os amigos” estarão capazes de ajudar. Ou por eles próprios estarem também em crise, ou porque eles próprios já foram afastados dos “sacos azuis” nos seus países. Estamos afinal à beira de um “terramoto social” com todos os predicados para descambar num “cataclismo político” que depois culmine com os habituais “espertos” a concluir que “isto é normal em África”, como se este fosse um continente de mentecaptos e incapazes eternos.
Os decrépitos e “habilidosos” habituais, desta não escapam. “O assunto é mesmo sério”, assegurou-nos com preocupação a nossa fonte que alegou estar-nos a reflectir a realidade ao mais alto nível governamental e do partido no poder.
De todos os cantos, desde o MARP – presidido pelo homem de inigualáveis capacidades pendulares, passando pelo Instituto Alemão de Desenvolvimento, ao Banco Africano de Desenvolvimento, todos estão de acordo que um cocktail explosivo está aí inevitavelmente apenas à espera que um detonador imprevisto o faça explodir.
A obcecação pelo poder dos “Velhos da Katembe”, a idade sobretudo, está a impedi-los de governar e a impeli-los a mentir como acaba de suceder com a “cesta básica” que depois de prometida, quando se viu que era um absurdo, deu-se o dito por não dito. Ao mesmo tempo vivem convencidos que, o facto de terem assegurado a subserviência e o bem-estar económico de certas altas hierarquias militares, também as forças armadas subalternas e uma polícia cada vez mais indisciplinada e predadora numa atitude de clara sobrevivência, lhes serão eternamente fiéis.
Tudo isso agrava a situação e eleva o nosso nível de preocupação.
O corpo imenso de desempregados iletrados e sem qualquer arte e ofício, descontente com o facto dos “cavalgadores do Estado” não terem nada de novo que possa tornar-se solução para eles, foram-se “desenrascando”, mas agora são tantos e os clientes cada vez menos que pouco ou nada lhes serve aquilo que diariamente colectam nos seus negócios de ocasião. Já não há negócio para todos no comércio paralelo. Não há dinheiro. A desordem é hoje evidente. É o prelúdio do desespero. Chamam-lhe falta de civismo. Não passa de paliativo. As pessoas já não sabem o que fazer para sobreviverem. A crise instalada já não se pode esconder.
Agora, a acrescer a esses factores, os cidadãos do grupo imenso de pessoal com formação média e superior, enganado ao longo de décadas de estudos com os olhos postos em falsas promessas, acabaram também por se tornar desempregados compulsivos.
Quem pensou em formá-los esqueceu-se que depois de formados precisavam de ser enquadrados pelo mercado de emprego.
Quem tinha a obrigação de governar com sentido de responsabilidade andou a servir-se do Estado para desenrascar a sua própria vida, dizendo que temos direito a ser ricos, olhando apenas para o seu próprio umbigo.
O tempo passou sem se aperceberem que os tempos estavam a mudar.
Hoje os tempos são outros.
Há gente, hoje, com novas exigências, que não poderá aceitar por muito mais tempo ser governada, por predadores a quem os resultados à vista já não permitem esconder a sua incompetência.
O presidente do MARP e Reitor de uma das mais cotadas instituições de ensino superior do País, já veio desesperadamente a público avisar que “os licenciados desempregados são perigosos”. Para outros serão a salvação, dependendo do ponto de vista…
Se Marcelo Caetano tivesse continuado no Poder em Portugal alguma vez teria sido possível instituir-se a democracia naquele país?
Se Franco se tivesse mantido no Poder em Espanha alguma vez a democracia teria sido instituída naquele reino da península Ibérica?
Se o apartheid não tivesse sido derrubado na África do Sul alguma vez teríamos visto a Nação Arco-Iris, aqui mesmo ao nosso lado, tornar-se um país democrático, próspero e a organizar um dos melhores campeonatos do Mundo de Futebol de que há memória apesar das dúvidas que havia?
Foi preciso escangalhar regimes obsoletos para que novos ventos soprassem.
O nosso prometido mas inexistente “futuro melhor”, que serviu enquanto serviu para enganar quem se deixou enganar pelo “slogan”, deixou de fazer parte do vocabulário dos políticos que se julgam insubstituíveis. É agora reconhecido, até pelos mais lentos de raciocínio, como um entorpecente da cidadania, bem do agrado dos governantes que falam de patriotismo de forma insistente como alavanca ilustrativa da sua propensão para o ilusionismo político.
Entretanto, já não bastavam as percepções, agora dizem-nos que confirmadamente os cofres do Estado estão vazios, com os dólares a escassear quando o Metical aparenta estar de novo numa fase áurea, mais robusto. Dizem-nos ser apenas de carácter artificial até que venha aí mais um exercício especulativo. Ninguém esclarece. O regime está em pânico!
Até já foi necessário alguém se lembrar que em latas, sacos plásticos e até debaixo de colchões, pelo País afora, pode haver milhões de dólares e meticais que tanta falta fazem hoje para se salvar a elite que, na ilusão do enriquecimento sem esforço, fruto de actividades predatórias, se convenceu que dominaria uma massa de gente que julgavam eternamente entorpecida.
Enganaram-se!
Asseguram-nos agora que o desespero acaba de se instalar, indisfarçavelmente, nas hostes do regime, apesar do alto treino que têm e da habilidade adquirida para ocultar as grandes crises.
Apesar da crise continuamos a assistir ao uso abusivo de fundos do Estado para se promoverem actividades partidárias, como comprovam as deslocações de brigadas partidárias de membros do governo às províncias para tratar do congresso do seu partido.
O Governo a corromper a confederação empresarial CTA, é outra das novidades: 20 milhões de meticais ano sem que conste do Orçamento de Estado e sem que apareça na prestação de contas do Estado.
Dinheiro do Estado vertido para jogos obscuros que nem sequer está orçamentado, alimenta uma CTA viciada.
Os doadores nada dizem. Explicam-nos que aqui só estão funcionários que também têm medo de perder os seus empregos e por isso não reportam os abusos que aqui se praticam com dinheiros dos contribuintes dos seus países.
Uma Justiça parcial e incapaz, de certos juízes “comprados” com grandes concessões de terra e outras benesses equiparadas, metidos até ao bigode com o poder executivo, a quem se subordinam levianamente, também não reage.
Temos uma justiça viciada e inactiva perante os abusos cometidos por uma entidade privada com objecto de se candidatar a governar. A Justiça não liga. São todos do mesmo clube. Pelo menos os que estão à cabeça dos tribunais e da procuradoria.
Em condições equiparadas noutras latitudes, gente capaz de tudo o que aqui vemos fazer-se com dinheiro do Estado era pura e simplesmente varrida.
Aqui a tão propalada democracia não funciona.
Tudo é adiado até ao momento da “bomba” explodir.
Gente responsável pode assistir a tudo isto calada?
Juramos, palavra de honra, não queremos morrer assim!
Não podemos deixar-nos morrer assim!
(Canalmoz / Canal de Moçambique)
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