sexta-feira, 10 de junho de 2011

Tal e qual o espelho de Angola. Devem ter feito acordos secretos, pois os métodos de actuação são os mesmos.


Tudo indica que vem aí tempos mais difíceis do que se imagina.
Editorial
Maputo (Canalmoz) – A reboque de uma alegada revisão constitucional com que ainda ninguém sabe o que quer o Partido Frelimo fazer com ela, num momento em que tudo indica que se está a querer voltar a subverter o pluralismo democrático, são demasiados os sinais de que o actual chefe de Estado quer ficar no posto mais uns anos, para ter tempo, dizem-nos, de acabar de preparar o seu próprio futuro melhor, e para deixar claras as suas zonas de influência depois de deixar o cargo de chefe do Estado.
A obsessão e o autismo do Senhor Armando Guebuza estão a preocupar muita gente, mesmo dentro do partido de que é presidente.
Dizem-nos que o Senhor Guebuza quer continuar no poder por mais alguns anos, fazendo com que seja aumentado o seu actual mandato na revisão constitucional que se prepara em absoluto sigilo contrariando-se, com tal ‘modus operandi’, todas as regras elementares de uma verdadeira e sã democracia.
Nada impede que no congresso da Frelimo que se começou a preparar para ter lugar em Pemba no próximo ano, o cidadão Armando Guebuza continue como presidente do Partido. Como nada impede também que o candidato a presidente da República quando um dia voltar a haver eleições não seja o presidente do Partido Frelimo mas seja por ele, alguém com as golas bem presas pelo presidente do partido que se julga eterno no poder.
Não ajudam a tanto as fissuras que já se vão vislumbrando. Quem conhece bem as entranhas do velho partido e as fragilidades dos velhos dinossauros, não duvida que a sucessão na Frelimo não tem nomes que possam merecer a credibilidade indispensável à manutenção do actual poder. E quem receia pelo que andou e anda a fazer com o Estado e seu património, é natural que esteja alapado ao Poder e não o queira largar por nada deste mundo.
Não ajuda a idade que a casta dominante vai tendo. Mas são reais os esforços para que a Democracia seja subjugada.
Sentem-se os esforços tendentes a manter a oligarquia perpetuada por heranças familiares, ainda que o mérito dos herdeiros seja reconhecidamente duvidoso.
Não é nada disso, dirão alguns sempre prontos a anestesiar os moçambicanos. Ok. Mas cá ficam escritas as nossas preocupações enquanto se mantém o secretismo quanto ao que a direcção actual da Frelimo quer fazer da Constituição do País.
As férias parlamentares, que decorrem e só terminarão em Outubro, seriam o momento ideal para que a Frelimo pusesse cá fora o que pretende fazer com a Constituição para que os deputados de visita aos seus círculos pudessem regressar ao trabalho em Outubro com as opiniões do eleitorado. Mas isso parece não ser o propósito de quem está no poder, dispondo de uma maioria que lhe permite fazer e desfazer da Constituição sem se lembrar que já teve 100% da Assembleia nacional e foi precisamente nesse tempo que se viveram os momentos mais conturbados de Moçambique. Isto para não termos de recordar que das últimas eleições permanece aberta a ferida das exclusões de candidatos e a manipulação habitual pela CNE do escrutínio de que resultou a tal maioria qualificada, que uma Renamo, agora rearmada e com forças a revelar autonomia de comando mesmo em relação a Dlhakama, insiste em contestar. Alegando, como sempre, fraude.
A obsessão do Senhor Armando Guebuza pelos bens materiais estará a fazê-lo perder a cabeça e a apegar-se ao poder sem conta peso e medida, comenta-se à boca cheia. Até em círculos da Frelimo.
Sente-se que Guebuza está a ser determinante como factor dinamitador da própria Frelimo.
Sente-se que na própria Frelimo há hoje imensos corpos hostis a Guebuza.
Sente-se que o enriquecimento abusivo da liderança poderá vir a precipitar a implosão do último reduto da ditadura.
O povo depois de a ter provado a Democracia certamente nunca mais quererá deixá-la ir por água abaixo.
No seu aparente “último estertor”, pois até na própria Frelimo os seus desejos estão a merecer o maior repúdio, o presidente do partido no poder em funções simultâneas de presidente da República, na mais recente digressão em Presidência Aberta, foi para Nampula dizer que cada um se deve desenrascar e tratar por si próprio da sua pobreza.
Dizer a um povo cansado de sofrer “cada um que olhe por si e pela sua pobreza”, mais ou menos isto, é sintomático. “Olhem bem”, diríamos nós parafraseando um dos gurus da luta pela independência nacional.
Em tempo de carestia de vida aguda por que muitos moçambicanos – a esmagadora maioria – estão a passar, despesas supérfluas como as que o presidente que se pretende de todos os moçambicanos anda a fazer com as chamadas “Presidências Abertas” a que agora, como que por ironia se acrescentou “e Inclusivas”, revela uma indiferença insultuosa, não só à pobreza que nos ofende os olhos todos os dias que saímos à rua, como revela arrogância e desprezo pelas chamadas de atenção que ultimamente estão a chegar ao País, de vários quadrantes internacionais. E até revela sobranceria relativamente a certos doadores que por respeito à nossa soberania preferem já não desembolsar nada, para que quem pede não tenha que encenar demonstrações de falta de respeito.
Estamos a caminhar para tempos mais difíceis do que se possa imaginar. (Canalmoz / Canal de Moçambique)

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