Tudo indica que vem aí tempos mais difíceis do que se imagina.
Editorial
Maputo (Canalmoz) – A reboque de uma alegada revisão constitucional com que ainda ninguém sabe o que quer o Partido Frelimo fazer com ela, num momento em que tudo indica que se está a querer voltar a subverter o pluralismo democrático, são demasiados os sinais de que o actual chefe de Estado quer ficar no posto mais uns anos, para ter tempo, dizem-nos, de acabar de preparar o seu próprio futuro melhor, e para deixar claras as suas zonas de influência depois de deixar o cargo de chefe do Estado.
A obsessão e o autismo do Senhor Armando Guebuza estão a preocupar muita gente, mesmo dentro do partido de que é presidente.
Dizem-nos que o Senhor Guebuza quer continuar no poder por mais alguns anos, fazendo com que seja aumentado o seu actual mandato na revisão constitucional que se prepara em absoluto sigilo contrariando-se, com tal ‘modus operandi’, todas as regras elementares de uma verdadeira e sã democracia.
Nada impede que no congresso da Frelimo que se começou a preparar para ter lugar em Pemba no próximo ano, o cidadão Armando Guebuza continue como presidente do Partido. Como nada impede também que o candidato a presidente da República quando um dia voltar a haver eleições não seja o presidente do Partido Frelimo mas seja por ele, alguém com as golas bem presas pelo presidente do partido que se julga eterno no poder.
Não ajudam a tanto as fissuras que já se vão vislumbrando. Quem conhece bem as entranhas do velho partido e as fragilidades dos velhos dinossauros, não duvida que a sucessão na Frelimo não tem nomes que possam merecer a credibilidade indispensável à manutenção do actual poder. E quem receia pelo que andou e anda a fazer com o Estado e seu património, é natural que esteja alapado ao Poder e não o queira largar por nada deste mundo.
Não ajuda a idade que a casta dominante vai tendo. Mas são reais os esforços para que a Democracia seja subjugada.
Sentem-se os esforços tendentes a manter a oligarquia perpetuada por heranças familiares, ainda que o mérito dos herdeiros seja reconhecidamente duvidoso.
Não é nada disso, dirão alguns sempre prontos a anestesiar os moçambicanos. Ok. Mas cá ficam escritas as nossas preocupações enquanto se mantém o secretismo quanto ao que a direcção actual da Frelimo quer fazer da Constituição do País.
As férias parlamentares, que decorrem e só terminarão em Outubro, seriam o momento ideal para que a Frelimo pusesse cá fora o que pretende fazer com a Constituição para que os deputados de visita aos seus círculos pudessem regressar ao trabalho em Outubro com as opiniões do eleitorado. Mas isso parece não ser o propósito de quem está no poder, dispondo de uma maioria que lhe permite fazer e desfazer da Constituição sem se lembrar que já teve 100% da Assembleia nacional e foi precisamente nesse tempo que se viveram os momentos mais conturbados de Moçambique. Isto para não termos de recordar que das últimas eleições permanece aberta a ferida das exclusões de candidatos e a manipulação habitual pela CNE do escrutínio de que resultou a tal maioria qualificada, que uma Renamo, agora rearmada e com forças a revelar autonomia de comando mesmo em relação a Dlhakama, insiste em contestar. Alegando, como sempre, fraude.
A obsessão do Senhor Armando Guebuza pelos bens materiais estará a fazê-lo perder a cabeça e a apegar-se ao poder sem conta peso e medida, comenta-se à boca cheia. Até em círculos da Frelimo.
Sente-se que Guebuza está a ser determinante como factor dinamitador da própria Frelimo.
Sente-se que na própria Frelimo há hoje imensos corpos hostis a Guebuza.
Sente-se que o enriquecimento abusivo da liderança poderá vir a precipitar a implosão do último reduto da ditadura.
O povo depois de a ter provado a Democracia certamente nunca mais quererá deixá-la ir por água abaixo.
No seu aparente “último estertor”, pois até na própria Frelimo os seus desejos estão a merecer o maior repúdio, o presidente do partido no poder em funções simultâneas de presidente da República, na mais recente digressão em Presidência Aberta, foi para Nampula dizer que cada um se deve desenrascar e tratar por si próprio da sua pobreza.
Dizer a um povo cansado de sofrer “cada um que olhe por si e pela sua pobreza”, mais ou menos isto, é sintomático. “Olhem bem”, diríamos nós parafraseando um dos gurus da luta pela independência nacional.
Em tempo de carestia de vida aguda por que muitos moçambicanos – a esmagadora maioria – estão a passar, despesas supérfluas como as que o presidente que se pretende de todos os moçambicanos anda a fazer com as chamadas “Presidências Abertas” a que agora, como que por ironia se acrescentou “e Inclusivas”, revela uma indiferença insultuosa, não só à pobreza que nos ofende os olhos todos os dias que saímos à rua, como revela arrogância e desprezo pelas chamadas de atenção que ultimamente estão a chegar ao País, de vários quadrantes internacionais. E até revela sobranceria relativamente a certos doadores que por respeito à nossa soberania preferem já não desembolsar nada, para que quem pede não tenha que encenar demonstrações de falta de respeito.
Estamos a caminhar para tempos mais difíceis do que se possa imaginar. (Canalmoz / Canal de Moçambique)
Sem comentários:
Enviar um comentário